1724 entrevista

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

As crianças brasileiras estão ficando cada vez mais obesas

Se há 40 anos, quando a Pastoral da Criança começou as suas atividades, a maior preocupação era com a desnutrição, hoje é preciso se preocupar com os dois lados da moeda.

E se engana quem pensa que a obesidade é um problema somente das famílias com melhores condições financeiras, que gastam mais em alimentação. O acesso cada vez mais fácil a alimentos ultraprocessados, que em muitos casos são mais baratos que alimentos saudáveis, faz com que famílias de baixa renda piorem os seus hábitos alimentares.

É aquela história: sem dinheiro para comprar carne para a família toda, o pai volta do mercado com um pacote de salsicha. Ou a mãe faz um macarrão instantâneo. Por isso, discute-se hoje a necessidade cada vez mais iminente de aumentar a carga tributária dos alimentos ultraprocessados e reduzir a taxação da alimentação saudável. A ideia é simples: estimular o consumo do que faz bem.

A obesidade e a alimentação são duas das principais preocupações da Pastoral da Criança, como explica a coordenadora nacional Maria Inês Monteiro de Freitas:

“A Pastoral da Criança tem conversado seriamente com as famílias sobre os males da obesidade infantil. Uma criança bem nutrida não é aquela que come de tudo, o tempo todo, especialmente lanches, refrigerantes, salgadinhos. Então, vamos enfrentar juntos essa questão da alimentação saudável para prevenir ou reduzir a obesidade infantil, para que as crianças tenham saúde agora e no futuro”.  

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Também se engana quem pensa que a obesidade não atinge a primeira infância. Ela está começando cada vez mais cedo. Uma pesquisa feita pela Fiocruz mostrou que na faixa etária de 3 e 4 anos houve um aumento da obesidade de 4% para 4,5% nos meninos e de 3,6% para 3,9% nas meninas, ou seja, um crescimento de 0,5% e 0,3%, respectivamente. Entre os maiores, os resultados são ainda piores.

Na Pastoral da Criança, as famílias são estimuladas a melhorar a melhorar a alimentação através da crianção de hortas no quintal de casa ou na comunidade, como conta a líder Maria Arecilda, de Senador La Rocque, Maranhão:

“Nossa missão como líderes da Pastoral da Criança, durante as nossas visitas domiciliares, que fazemos todos os meses, é a de orientar as famílias sobre a importância de ter uma alimentação saudável. Fazemos com que as famílias utilizem, muitas vezes, o que elas têm no quintal de casa, verduras, frutas, procurando evitar alimentos industrializados e ultraprocessados”.

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Além da alimentação, o sedentarismo é um dos principais fatores que causam obesidade infantil. É preciso incentivar que as crianças brinquem ao ar livre, pratiquem esportes, além de restringir o tempo na frente das telas, especialmente do celular.

A Pastoral da Criança estimula que seus líderes voluntários e coordenadores participem dos conselhos de participação social dos municípios, como o conselho de saúde. Assim, é possível participar da elaboração de políticas públicas e cobrar ações da prefeitura para melhorar a qualidade de vida da comunidade.

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1724 entrevistado

Ana Maria Maya, Especialista do Programa de Alimentação Saudável e Sustentável do IDEC – Instituto de Defesa de Consumidores..

ENTREVISTA COM: Ana Maria Maya, Especialista do Programa de Alimentação Saudável e Sustentável do IDEC – Instituto de Defesa de Consumidores.

Ana Maria, qual é a situação atual da obesidade infantil no Brasil?

ANA MARIA MAYA:

As pesquisas populacionais têm apresentado o avanço dessa situação na população mais jovem. Então, a obesidade infantil tem aparecido na população brasileira de forma cada vez mais precoce.

Hoje, quando a gente pega os dados do sistema de vigilância alimentar e nutricional para as crianças de cinco a nove anos, a gente percebe que 29,3% estão com excesso de peso. Então, a gente está falando de que uma a cada três crianças entre cinco e nove anos já tem excesso de peso. E quando a gente olha para os adolescentes, 31% estão com excesso de peso.

Se a gente faz a relação disso com o consumo alimentar, que é o principal determinante para esse excesso de peso, percebemos que 85% das crianças de 5 a 9 anos estão consumindo ultraprocessados de forma constante. Então, a gente tem percebido um aumento preocupante do excesso de peso da nossa população de crianças e de adolescentes e um consumo alimentar inadequado, caracterizado pelo alto consumo de produtos ultraprocessados.

Que impacto ou que repercussões a obesidade infantil traz para as crianças?

ANA MARIA MAYA:

Os impactos do excesso de peso na infância se relacionam diretamente com a qualidade de vida e com a saúde dessas crianças.

Hoje, a gente percebe que o excesso de peso está relacionado ao aumento das doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e problemas no fígado, de uma forma cada vez mais precoce. Outros comportamentos que também estão relacionados ao excesso de peso na infância são a baixa autoestima, o isolamento, a depressão, a ansiedade, outros distúrbios alimentares e dificuldades também na rotina e nas atividades escolares.

Quanto mais cedo a obesidade estiver presente, mais difícil vai ser da gente ter um adulto saudável.

Viva a VidaPrograma de rádio Viva a Vida 1724 - 07/10/2024 - Prevenção da obesidade infantil

Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra

Duas importantes causas da obesidade infantil são o consumo de ultraprocessados e o comportamento sedentário das crianças. Como os gestores, famílias e comunidade podem somar esforços para a redução do consumo de ultraprocessados e estimular a atividade física desde os primeiros anos de vida?

ANA MARIA MAYA:

Bom, em nível de gestores de políticas públicas, estratégias essenciais que precisam avançar no Brasil são a proibição da oferta e comercialização de produtos alimentícios ultraprocessados nas escolas, a regulação da publicidade infantil no Brasil, a publicidade direcionada para as crianças de produtos alimentícios ultraprocessados, incluindo as mídias digitais, e também o aspecto da tributação dos produtos alimentícios ultraprocessados. A gente está discutindo isso na reforma tributária e é essencial que esses produtos tenham um custo maior do que os alimentos saudáveis.

Na comunidade, é importante pensar em como a gente pode transformar os espaços nos quais a gente convive em espaços mais saudáveis. Como a gente pode contribuir para a criação de hortas comunitárias, de espaços coletivos que promovam atividade física e que promovam mais saúde. E também como a gente pode cobrar o poder público.

Então, esse pilar é importante: da comunidade como ator essencial de pressão sobre o poder público para que a gente consiga avançar em estratégias efetivas de promoção de saúde e redução da obesidade infantil.

 

Leia a entrevista na íntegra

1724 - 07/10/2024 - Prevenção da obesidade infantil

 

E SDG Icons NoText 033º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável

"Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades"

3.4 Até 2030, reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis via prevenção e tratamento, e promover a saúde mental e o bem-estar

Dra. Zilda

“A luta deve continuar para haver políticas públicas que gerem oportunidades iguais para todos”

Papa Francisco

“A alimentação é fundamental para a vida humana, de fato, participa da sua sacralidade e não pode ser tratada como qualquer mercadoria. Os alimentos são sinais concretos da bondade do Criador e frutos da terra.”