
“Priorize a Amamentação: Crie Sistemas de Apoio Sustentáveis” é o tema da Semana Mundial de Amamentação (SMAM) 2025, celebrada de 1º a 7 de agosto. Neste ano, a campanha propõe uma reflexão ampla: como os sistemas sociais, ambientais e institucionais podem apoiar de forma contínua o aleitamento materno?
A campanha reforça que amamentar é um ato de amor e de cuidado com a vida, mas também uma escolha que protege o meio ambiente, reduz resíduos e promove equidade social. Produzido naturalmente, entregue na medida certa e sem embalagens, o leite materno é o alimento mais completo para os primeiros meses de vida e o mais sustentável.
No entanto, amamentar pode ser desafiador, especialmente quando a mulher não encontra apoio suficiente em casa, no trabalho ou nos serviços de saúde. É nesse contexto que o Agosto Dourado, no Brasil, ganha força como um movimento que se estende por todo o mês. A Pastoral da Criança, ao longo de sua história, tem sido uma das maiores defensoras do aleitamento materno no país por meio da atuação de seus líderes.
Neste mês, reforçamos com ainda mais vigor a importância de informar, apoiar, orientar e defender a amamentação. A todos os nossos líderes: convidamos a participar ativamente das atividades promovidas em suas comunidades, como encontros e rodas de conversa nas unidades de saúde, e a compartilhar com as famílias os conteúdos do nosso site e aplicativo.
Nesta edição do Tema da Semana, leia ou ouça a entrevista completa com a Dra. Ana Lea Clementino, médica pediatra e líder da Pastoral da Criança, além de depoimentos de outras lideranças que acompanham de perto as realidades, dúvidas e superações das famílias no processo de amamentação.
Dra. Ana Lea Clementino, Pediatra
ENTREVISTA COM: Dra. Ana Lea Clementino, pediatra e líder da Pastoral da Criança em Londrina, Paraná.
Dra. Ana, qual é a importância do aleitamento materno para o desenvolvimento geral do bebê?
DRA. ANA LEA: O aleitamento materno é essencial para o desenvolvimento físico, emocional e até intelectual do bebê. Diversos estudos mostram que crianças amamentadas por mais tempo tendem a ter um melhor desempenho cognitivo. O leite materno também protege contra infecções respiratórias, diarréias, obesidade, alergias e até doenças crônicas no futuro, como hipertensão e problemas cardiovasculares. Além disso, favorece o desenvolvimento da saúde bucal.
Qual é o tempo ideal de amamentação?
DRA. ANA LEA: O ideal, segundo o Ministério da Saúde, a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Organização Mundial da Saúde, é oferecer apenas leite materno até os seis meses de vida, sem introduzir água, chás, sucos ou qualquer outro líquido. A partir dos seis meses, inicia-se a alimentação complementar, mas o aleitamento materno deve continuar até os dois anos de idade ou mais, sempre que a mãe e o bebê quiserem e puderem. Essas são as recomendações oficiais das principais entidades de saúde, com base em todos os benefícios comprovados da amamentação para a saúde da criança.
Programa de rádio Viva a Vida – 1767 – 04/08/2025 – Agosto Dourado
Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra
Muitas mulheres desistem de amamentar por causa de problemas nos seios. Como resolver isso?
DRA. ANA LEA: Uma das principais causas do desmame precoce é a dor provocada por erros na técnica de amamentação, como posicionamento inadequado do bebê ou uma pega incorreta. Outro fator importante é a falta de uma rede de apoio. No início da amamentação, a mulher está emocionalmente mais vulnerável, e o apoio faz toda a diferença.
Por isso, minha principal orientação é que as mulheres busquem informações ainda durante a gestação. E que, ao menor sinal de dor ou dúvida, procurem ajuda de profissionais capacitados, que possam corrigir a técnica precocemente e evitar sofrimento. A dor causa estresse, e o estresse pode reduzir a produção de leite. Além disso, a falta de prazer ao amamentar afeta não só a amamentação em si, mas também o vínculo entre mãe e bebê.
O leite materno é suficiente para o bebê?
DRA. ANA LEA: Na maioria dos casos, sim. O leite materno é completo e supre todas as necessidades do bebê até os seis meses de vida. Existe uma condição rara chamada hipogalactia verdadeira, em que a mãe realmente produz pouco leite. Alguns fatores de risco estão associados a isso, como ovários policísticos, histórico de cirurgias mamárias, diabetes, obesidade e alterações hormonais. Mas essas situações são exceção. Na grande maioria dos casos, com apoio e orientação adequados, é possível amamentar plenamente, mesmo quando a mulher apresenta algum desses diagnósticos.
Uma insegurança muito comum entre as mães está relacionada ao choro do bebê e à frequência com que ele quer mamar, principalmente no primeiro mês de vida. Nessa fase inicial, é normal que o bebê chore mais e queira o peito com frequência. Muitas mães acham que o leite é fraco, mas isso é um mito. O leite materno nunca é fraco! O que acontece é que ele é facilmente digerido, e o estômago do bebê é muito pequeno. No primeiro dia de vida, por exemplo, o estômago tem o tamanho de uma cereja, cabendo apenas de 5 a 7 ml por mamada. Por isso, o bebê mama pequenas quantidades e em intervalos curtos. Só entre o primeiro e o segundo mês é que ele começa a espaçar mais as mamadas.
Se essas informações forem bem explicadas para a mãe, de preferência ainda na gestação, é possível reduzir muito a ansiedade e as preocupações desnecessárias com a amamentação após o nascimento do bebê.
E quando a mulher tem muito leite, o que deve fazer?
DRA. ANA LEA: Nos primeiros dias após o parto, é comum que a mulher produza uma quantidade maior de leite, o que pode causar desconforto, ingurgitamento das mamas e até vazamentos. Nesses casos, uma boa estratégia é fazer a ordenha manual antes da mamada, apenas para aliviar a pressão, e aplicar compressas frias por no máximo cinco minutos após as mamadas.
É importante também colocar o bebê para mamar com frequência, alternando os lados, para evitar o acúmulo de leite. Se a produção for muito intensa e persistente, a mulher pode doar leite para um banco de leite humano. Isso não apenas alivia o desconforto, como também pode salvar vidas. Por exemplo, em uma UTI neonatal, 60 ml de leite doado pode alimentar até dez bebês prematuros.
Além disso, quanto mais leite a mulher extrair, mais leite ela tende a produzir. Por isso, a doação também é uma excelente estratégia para quem deseja aumentar a produção. Deus é tão perfeito que, quanto mais uma mãe doa, mais leite ela produz, e ainda ajuda outra mãe que, por algum motivo, não consegue ou não pode amamentar.
Como as mães trabalhadoras podem continuar amamentando?
DRA. ANA LEA: Com planejamento, é totalmente possível que as mulheres continuem amamentando mesmo após o retorno ao trabalho. A mãe pode realizar a ordenha e armazenar o leite materno em frascos limpos, conservando-o por até 12 horas na geladeira ou por até 14 dias no congelador. O cuidador que ficar com a criança deve aquecer o leite em banho-maria e oferecê-lo, de preferência, em copinho ou colher dosadora, para evitar a chamada “confusão de bicos” quando a mãe estiver presente.
Durante o expediente, é importante que a mulher mantenha as ordenhas a cada três horas, para evitar o ingurgitamento, manter a produção de leite e armazená-lo em bolsa térmica até chegar em casa. Em casa, ela pode seguir com a amamentação em livre demanda.
A legislação brasileira garante à mãe dois intervalos de 30 minutos por dia para amamentar ou fazer a ordenha, até que o bebê complete seis meses de vida. Com o apoio da família e da empresa, a amamentação pode ser mantida mesmo à distância, preservando o vínculo entre mãe e bebê e todos os benefícios para a saúde da criança.
A mulher que amamenta pode usar medicamentos?
DRA. ANA LEA: Sim, a maioria dos medicamentos pode ser utilizada com segurança durante a amamentação, incluindo analgésicos, antibióticos e até antidepressivos, que são de uso mais comum. São raros os medicamentos totalmente contraindicados nesse período.
É um mito acreditar que a mulher que amamenta não pode tratar uma infecção ou uma depressão. Infelizmente, ainda vemos com frequência mulheres que interrompem a amamentação ou deixam de se tratar.
A Sociedade Brasileira de Pediatria e o Ministério da Saúde disponibilizam listas com os medicamentos compatíveis com a amamentação, acessíveis nos sites oficiais. Os profissionais de saúde devem estar atualizados quanto a essas informações. Na maioria dos casos, existe uma alternativa segura que permite que a mulher continue amamentando sem deixar de receber o tratamento adequado.
Uma mãe pode amamentar o filho de outra mulher?
DRA. ANA LEA: Boa pergunta. Depende da situação. Por exemplo, uma mãe adotiva que deseja amamentar um filho não biológico pode, sim, produzir leite com os estímulos adequados e o acompanhamento profissional correto. Nesse caso, como o bebê já é legalmente filho dela, é possível amamentá-lo diretamente no peito. Existem técnicas específicas que ajudam essa mulher a realizar o sonho da amamentação, mesmo sem ter engravidado. Isso é realmente incrível.
Por outro lado, a prática conhecida como amamentação cruzada — quando uma mulher amamenta o filho de outra — não é recomendada, ainda que pareça um gesto de carinho ou solidariedade. Isso porque há o risco de transmissão de doenças como HIV, HTLV e hepatites, já que o leite não passou por nenhum processo de pasteurização.
A alternativa segura, quando a mãe não consegue amamentar, é oferecer leite humano doado por meio de bancos de leite, que seguem protocolos rigorosos de coleta e pasteurização. Outra opção são as fórmulas infantis, indicadas de acordo com a faixa etária da criança e sob orientação profissional.
Leia a entrevista na íntegra
1767 – 04/08/2025 – Agosto Dourado (.PDF)
2º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável
“Fome zero e agricultura sustentável”
2.2 Até 2030, acabar com todas as formas de desnutrição, incluindo atingir, até 2025, as metas acordadas internacionalmente sobre nanismo e caquexia em crianças menores de cinco anos de idade, e atender às necessidades nutricionais dos adolescentes, mulheres grávidas e lactantes e pessoas idosas.
3º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável
“Saúde e Bem-Estar”
3.2 Até 2030, acabar com as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de 5 anos, com todos os países objetivando reduzir a mortalidade neonatal para pelo menos 12 por 1.000 nascidos vivos e a mortalidade de crianças menores de 5 anos para pelo menos 25 por 1.000 nascidos vivos.
10º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável
“Redução das desigualdades”
10.3 Garantir a igualdade de oportunidades e reduzir as desigualdades de resultados, inclusive por meio da eliminação de leis, políticas e práticas discriminatórias e da promoção de legislação, políticas e ações adequadas a este respeito
Dra. Zilda
“Gostaria de lhe dizer que as crianças que mamaram no peito e receberam muito amor, sentem mais facilidade em se dar bem com as pessoas para o resto da vida”.
Reflexão
"Fomos bondosos entre vós, como a mãe que acaricia os próprios filhos."
(Tessalonicenses 2,7)