Foto: Acervo da Pastoral da Criança
O brincar é uma das principais formas de promover o desenvolvimento saudável da criança, uma vez que, através dele, ela tem variadas experiências nos primeiros anos de vida, período em que sua curiosidade e imaginação são aguçadas, o que possibilita brincar com objetos, brinquedos, mergulhar no universo do faz de conta e dos jogos, tudo isso impulsionado sobretudo pela interação e relacionamento com os outros e pelo meio que a cerca.
Em nossas comunidades, temos o compromisso de incentivar e oportunizar os momentos de brincar das crianças com suas famílias e comunidade. E para nos inspirar, todos os anos acontece a Semana Mundial do Brincar, em torno da data de 28 de maio, consolidada em 1998 como o Dia Mundial do Brincar.
A Aliança pela Infância, neste ano, convida toda a sociedade a participar da Semana Mundial do Brincar, de 25 de maio a 2 de junho, com o tema “Vem pra roda – No ritmo do Brincar”, para que todas as pessoas participem ativamente na construção de um mundo mais acolhedor e amoroso para as crianças, reconhecendo e valorizando o brincar.
Para conversar sobre este assunto, convidamos a Dra. Ivânia Ghesti, doutora em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília e gestora adjunta do Pacto Nacional pela Primeira Infância no Conselho Nacional de Justiça – CNJ, e Priscila do Rocio Costa, pedagoga e assessora técnica da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança.
ENTREVISTA COM: Dra. Ivânia Ghesti, gestora adjunta do Pacto Nacional pela Primeira Infância, no Conselho Nacional de Justiça – CNJ. A Dra. Vânia é doutora em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília
Dra. Ivânia Ghesti, gestora adjunta do Pacto Nacional pela Primeira Infância
Dra. Ivânia, qual o papel do brincar no desenvolvimento da criança?
É até difícil de mensurar, porque a criança é inteira. Então, quando ela brinca, está ao mesmo tempo desenvolvendo o aspecto motor, o aspecto emocional, de se relacionar consigo mesma, com outras crianças ou com um adulto que está interagindo com ela. Ela também está se relacionando com a natureza, tendo uma percepção do ambiente. Holisticamente, ela está desenvolvendo a criatividade, tendo noção dos seus limites, pois no brincar experimenta várias percepções das texturas, do movimento e dos sons. Portanto, é um desenvolvimento integral que o brincar viabiliza, pela combinação de todas as expressões e habilidades que são colocadas em movimento, gerando essa consciência de si mesma e do ambiente. Essa exploração do mundo de forma prazerosa e lúdica é muito importante. Também é fundamental para o desenvolvimento cultural e sócio-histórico da criança ter contato com brincadeiras e brinquedos típicos de toda uma tradição à qual pertence. Assim, ela vai se apropriando de toda a cultura da humanidade a partir dessa experiência, que está acessível no meio ambiente e no contexto da brincadeira cultural e social em que se encontra.
O Pacto Nacional pela Primeira Infância promove ações para garantir os direitos das crianças, incluindo o brincar, que é fundamental. O que significa o Pacto, Dra. Ivânia?
Ele significa um acordo de cooperação que o CNJ propôs, e todas as instituições signatárias se comprometeram com a colaboração para a implementação do Marco Legal da Primeira Infância, onde o artigo 17 especifica ainda mais o direito ao brincar e outras leis que respaldam o Marco Legal. Além disso, como resultado do Pacto da Primeira Infância, o próprio Conselho Nacional de Justiça criou uma política judiciária nacional para a primeira infância, que todos os tribunais também vão fortalecer. Por exemplo, essa política assegura o direito ao atendimento integral e, no artigo 5º, reconhece a importância do direito ao lazer e ao brincar nos processos judiciais, para garantir os direitos da criança na primeira infância. Isso evidencia o papel do judiciário na garantia desse direito. Até um alvará, quando um shopping vai ser construído, precisa observar se está previsto o necessário para que o direito ao brincar seja exercido. No próprio momento em que a criança está em atendimento no judiciário, é necessário que ela tenha um espaço para brincar enquanto espera. Portanto, é trazer o mundo à medida da criança.
A roda, símbolo da Campanha da Semana Mundial do Brincar, nos lembra também das brincadeiras tradicionais e regionais como cirandas, cantigas e danças. Quais são os benefícios destas brincadeiras na infância?
Programa de rádio Viva a Vida 1704 - 20/05/2024 - Semana Mundial do Brincar
Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra
E brincar em roda é muito bacana, porque existe todo um arquétipo da humanidade, dessa comunidade que se dá as mãos, em que um pode contar com o outro, até a metáfora da rede de proteção. A própria Terra, o planeta, é redondo. Na Justiça, por exemplo, a Justiça Restaurativa trabalha com círculos restaurativos, círculos de paz, onde, nessa configuração de roda, um olha o outro e é visto, reconhecendo-se mutuamente, várias pessoas interagindo, convergindo para um significado lúdico, brincando na mesma música, no mesmo ritmo. Isso realmente proporciona esse sentimento de pertencimento ampliado, de fazer parte de um todo. A roda é realmente muito expressiva, trazendo segurança, até pelas memórias ancestrais ligadas à vivência de várias gerações que se sentiam protegidas em volta do círculo, todos sentados em torno da fogueira, na questão de sobrevivência. Portanto, é muito expressivo como as crianças se sentem bem nesse sentimento, gerando essa noção de igualdade e circularidade, sem a hierarquia que hoje enfrentamos, onde se pensa que o adulto é superior à criança. A roda traz esse sentimento de humanidade vivida em uma expressão tão simples, apaziguando tantas angústias que fazem parte da vida desde a infância, proporcionando também a segurança desse pertencimento.
ENTREVISTA COM: Priscila do Rocio Costa, pedagoga da área de desenvolvimento infantil da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança
Priscila do Rocio Costa, pedagoga da área de desenvolvimento infantil da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança
Priscila, quais são os benefícios das brincadeiras na infância em relação às brincadeiras regionais e tradicionais de roda?
Essas brincadeiras aproximam as gerações, porque, além de brincar junto com as crianças, os pais, tios, avós e vizinhos podem lembrar de como brincavam e mostrar às crianças as brincadeiras tradicionais e regionais da sua infância. Essa forma de brincar valoriza muito a nossa cultura e as relações entre as pessoas da família e da comunidade. Por ser uma atividade coletiva, cantar uma cantiga e participar de uma brincadeira de roda desenvolve o sentimento de pertencimento das crianças. Além disso, beneficia muito o desenvolvimento e a saúde delas, pois se movimentam enquanto brincam, socializam, usam a imaginação, interagem com outras crianças e pessoas de outras idades, como jovens, adultos e idosos. O brincar de roda ajuda a desenvolver a audição, o ritmo, os movimentos corporais, o equilíbrio, a linguagem oral e a memória. Em nosso país, temos um amplo repertório musical e várias formas de brincar, de reinventar e de se divertir. Todas as brincadeiras podem ser feitas em casa, com a participação da família, na comunidade, em conjunto com as famílias vizinhas, nas creches e nas escolas, para que as crianças possam brincar livremente e de forma segura. No aplicativo da Pastoral da Criança, há várias sugestões que podem inspirar a todos.
Leia a entrevista na íntegra
1704 - 20/05/2024 - Semana Mundial do Brincar (.PDF)
3º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável
"Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades"
A Pastoral da Criança forma brincadores, através dos líderes, para promover brincadeiras saudáveis para o desenvolvimento das crianças. Não é necessário participar de capacitações, apenas das celebrações da vida e basta residir próximo às comunidades que pretende atender. Existem também brinquedistas em algumas comunidades, mas em menor número. No entanto, o esforço para aumentar ambos é constante na Pastoral, visando garantir uma vida saudável e bem-estar para as crianças e, consequentemente, para a comunidade.
Dra. Zilda
“Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, devemos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los.”
Papa Francisco
“Todas as crianças têm o direito de brincar, de estudar e de sonhar.”