1734 entrevista migrantes e refugiados

Imagem: Freepik

O crescimento do número de migrantes e refugiados no Brasil chama a atenção de organismos sociais, como a Pastoral da Criança, para a necessidade de medidas para garantir o acolhimento, o convívio e a dignidade dessas pessoas.

Nos últimos 15 anos, de 2010 a 2024, o Brasil registrou fluxo migratório de 2,3 milhões de pessoas. Os dados são do Boletim das Migrações, divulgado em outubro pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Desses, 1,7 milhão são migrantes, seja com residência permanente, temporária ou fronteiriços.

Além disso, o país reconheceu 146 mil pessoas como refugiadas e recebeu 450 mil solicitações de reconhecimento da condição de refugiado. O refúgio é uma proteção legal internacional. Refugiados são aqueles que foram forçados por algum motivo a sair do país de origem, seja por questões religiosas, políticas ou por violações de direitos humanos. A condição de refugiado precisa ser reconhecida pelo governo brasileiro.

Entre os países com o maior número de migrantes e refugiados no Brasil estão Venezuela, Haiti, Bolívia, Cuba, Síria e República Democrática do Congo.

Crianças

Muitas vezes, a migração é acompanhada por situações de fome, subemprego, preconceito e exploração sexual, como denuncia a secretária executiva da Pastoral dos Migrantes, Maria Ozania Silva (leia mais na entrevista a seguir).

Em 2023, 4 em cada 10 refugiados reconhecidos no Brasil eram crianças ou adolescentes. Nesse cenário, é importante a atuação dos líderes da Pastoral da Criança, especialmente em áreas com alto fluxo migratório. Os líderes podem cooperar com a Pastoral dos Migrantes e com a Cáritas, para auxiliar na garantia do acesso à saúde, nutrição, educação e cidadania dessas pessoas, especialmente das crianças, como explica a coordenadora nacional da Pastoral da Criança, Maria Inês Monteiro de Freitas:

“A Pastoral da Criança, nos locais de chegada e também de destino dessas famílias, procura levar suas orientações de saúde, nutrição e cidadania para que, além da acolhida, essas famílias encontrem condições favoráveis para cuidar de suas crianças. A Pastoral da Criança soma esforços com várias entidades para apoiar essas famílias, gestantes e crianças, em uma nova terra, para que todos tenham vida em abundância”.

 

ENTREVISTA COM: Maria Ozania Silva, Secretária Executiva do Serviço Pastoral dos Migrantes.

Maria Ozania, a senhora poderia nos falar um pouco sobre o que é o Serviço Pastoral dos Migrantes?

MARIA OZANIA:

O Serviço Pastoral dos Migrantes, criado oficialmente em 1986, é um organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Atua junto aos migrantes, refugiados, apátridas, deslocados internos, deslocados por mudanças climáticas e forçados por tragédias climáticas. Atuamos em ação conjunta com segmentos sociais, promovendo ações de inclusão social, denunciando violações dos direitos do tipo trabalho escravo ou análogo a escravo e tráfico humano e trabalhando para a construção de um país mais igualitário e inclusivo para todos e para todas.

Maria Ozania, qual é a realidade dos migrantes e refugiados no Brasil?

MARIA OZANIA:

No caso do Brasil, a partir de 2010, com a diáspora haitiana, a Amazônia passou a figurar entre as regiões com maior mobilidade interna e internacional na América Latina. As novas rotas migratórias que circulam no sul da América Latina, passando pela Amazônia, representam esses novos deslocamentos, oriundos especialmente do Caribe e dos países vizinhos. As novas rotas migratórias e as fronteiras da Amazônia são vistas pelos migrantes como a porta de entrada para o Brasil. Ao longo de praticamente todas as rotas migratórias, surgiram também na Amazônia as redes de contrabando de migrantes e de tráfico internacional de pessoas, especialmente de mulheres, para fins de exploração sexual e comercial. Nos percursos fronteiriços e nos destinos migratórios, surgem também grupos especializados na exploração do trabalho dos migrantes, em muitos casos configurando-se claramente a submissão ao trabalho escravo.

Quais são as principais dificuldades que os migrantes passam?

MARIA OZANIA:

As dificuldades são enormes, desde xenofobia, discriminação, insegurança, falta de acolhimento, educação, saúde. São muito constantes na vida dos migrantes. A migração é um direito, faz parte do conjunto dos direitos humanos, garantidos a toda e qualquer pessoa. O migrante é sujeito de direito, não pode ser desrespeitado, não pode ser humilhado ou rechaçado por sua condição de migrante.

Como a senhora acredita que a sociedade pode contribuir para que os migrantes e refugiados se sintam acolhidos no nosso país?

MARIA OZANIA:

Bem, as iniciativas de acolhimento aos migrantes se espalham por todo o Brasil. Inúmeras instituições vinculadas à organização da sociedade civil têm se mobilizado para atender e acolher os migrantes. Muitas Igrejas têm se dedicado também a essa tarefa. E, nesse sentido, quero destacar aqui o papel da Igreja Católica, através de seus organismos pastorais, como o Serviço Pastoral dos Migrantes e a Cáritas, que vêm desenvolvendo diversos mecanismos de atendimento aos migrantes. Gostaria de trazer presente o Papa Francisco que, em suas palavras, chama a atenção de toda a sociedade para esse acolhimento, para a promoção, para a integração dos migrantes, para o cuidado dos migrantes e refugiados. É necessário envolver-se com a causa. E para integrar é necessário, antes de tudo, atitude radical de rompimento com as amarras do preconceito, da discriminação, do racismo e de toda e qualquer forma de intolerância. Integrar representa contribuir para ajudar a outra pessoa a superar as marcas da guerra, do desprezo, do anonimato, da miséria e da exclusão. Integrar é estabelecer uma atitude permanente de troca de experiências, de saberes, de cultura, de linguagem, de tecnologias e conhecimentos.

 

Viva a VidaPrograma de rádio Viva a Vida 1734 - 16/12/2024 - Migrantes e Refugiados

Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra

Faça o download aqui

Leia a entrevista na íntegra

1734 - 16/12/2024 - Migrantes e Refugiados

 

Saiba mais

Famílias de imigrantes: como acolher

Conheça a Pastoral dos Migrantes

 

E SDG Icons NoText 0310º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável

“Reduzir as desigualdades no interior dos países e entre países”

10.2 Até 2030, empoderar e promover a inclusão social, econômica e política de todos, independentemente da idade, gênero, deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição econômica ou outra

Dra. Zilda

“Você já pensou que maravilha viver numa casa, numa comunidade, onde todos se entendem, se acolhem, se amam e se perdoam? Isso é possível!”

Papa Francisco

“Os migrantes fogem por causa da pobreza, do medo, do desespero. Para eliminar estas causas e assim acabar com as migrações forçadas, é necessário o empenho comum de todos, cada qual segundo as próprias responsabilidades; empenho esse, que começa por nos perguntarmos o que podemos fazer, mas também o que devemos deixar de fazer”