O diagnóstico nutricional é muito mais complicado do que pode parecer. Existem diversos parâmetros e, às vezes, podem apontar resultados completamente diferentes.

Por exemplo: uma criança típica da América Latina já "perdeu" 7 cm aos dois anos de idade. Assim, esta criança poderia receber os seguinte diagnósticos:

- a criança está desnutrida, pois tem menos altura do que seria esperado;
- no entanto, ela pode ter um peso normal, portanto não está desnutrida em relação ao peso para a idade;
- com as medidas acima, a mesma criança poderia ser classificada como sobrepeso, pois tem muito peso para a pouca altura.

 Imagine a mãe recebendo o diagnóstico acima: sua criança está desnutrida, com bom peso e acima do peso! Por isso, a Pastoral da Criança, para o acompanhamento de suas crianças, utiliza uma hierarquia, ou prioridades, para fazer o diagnóstico. Lembramos que o estado nutricional é apenas um indicador, isto é, aponta uma situação. Isto é diferente de diagnóstico, onde se leva em conta outros sinais e sintomas da criança, a sua história de vida, as causas e consequências.

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Como a Pastoral da Criança constroi o indicador de acompanhamento do estado nutricional de uma criança:

1. Situação atual x tendência:

O ideal é sempre ver a tendência. Por exemplo: uma criança desnutrida que está ganhando peso está em melhor situação que uma criança com peso adequado mas que perdeu muito peso ultimamente.

Quando temos apenas uma medida, a Pastoral da Criança indica a situação da criança com base nas curvas da Organização Mundial de Saúde: a criança pode estar desnutrida (grave ou não), com peso adequado (padrão), com sobrepeso ou obesidade. Quanto à tendência, coloca-se "sem comparação".

2. Crescimento em altura é melhor que ganho de peso:

Pesquisas atuais indicam que é sempre bom a criança ganhar altura. Crianças que ganham altura tem melhor desempenho escolar e menos doenças. Ganhar altura só é ruim para a pressão mas isto pode ser comparado a um edifício alto: quanto mais alto maior deve ser a pressão para bombar a água até o alto da caixa d'água.

Assim, se a criança não está ganhando altura como o esperado, a tendência é "Piorando Altura". Em termos técnicos: a diferença de altura entre as duas últimas duas medidas, em escore z, é menor que -0,7. A criança até pode ter aumentado a sua altura, mas foi bem abaixo do esperado.

3. Ganho de peso em relação à altura (IMC/idade):

Se a criança ganhou a altura conforme o esperado, ou ao menos não perdeu mais de 0,7 escore-z de altura, a análise seguinte é se o ganho de peso é proporcional ao ganho de altura. Este cálculo é feito através o Índice de Massa Corporal (IMC) para a idade da criança, sempre utilizando as curvas da Organização Mundial de Saúde.

Neste aspecto, a Pastoral da Criança é um pouco mais rigorosa, concordando com alguns estudiosos que não estão muito satisfeitos com a questão de se considerar uma variação do z escore menor que 0,7 como estável. A criança poderia ir perdendo peso ao longo do tempo e, em relação a última medida, podería-se considerá-la como estável mas, a longo prazo, ela poderia ficar desnutrida. Mal comparando, seria como naquela piada do fulano que caiu do 20o andar de um edifício e ao passar, caindo, pelo 3o andar disse: até aqui tudo bem!

Assim, avalia-se a variação do IMC/idade, sempre em escore z: se a diferença para a última medida for maior que 0,2 e, proporcinalmente, equivalente a mais de 0,7 no ano, diz-se que a criança está engordando. Tecnicamente: o delta z-escore maior que -0,67/365 dias vezes o delta dias entre as medidas maior que 0,7.
Se for menor que 0,2 ou que a fórmula descrita acima, diz-se que a criança está emagrecendo.
Se a criança não está engordando nem emagrecendo, diz-se que a criança está estável.

Referências:

Pesquisa de Orçamentos Familiares

Lembramos que crianças que em crescimento acelerado, ou seja, ganham muito peso em relação ao esperado, tem um risco maior de ter problemas cardíacos, colesterol alto, obesidade, pressão arterial elevada, diabetes quando adultos ou idosos.

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