Quando somos apenas filhos, não compreendemos porque, muitas vezes, nossas mães dizem “não”. Mas quando passamos a ser mãe, tudo fica claro e desvendamos o segredo: o “não” representa, simplesmente, o fato delas nos amarem profundamente.
Depois que também passei a viver a maternidade, a admiração pela minha mãe somente aumentou. Ela me criou em uma época totalmente diferente da minha, com outras condições financeiras. Ela foi mãe e pai ao mesmo tempo, por um período em que meu pai precisou vir para Curitiba, pois precisava trabalhar. E como eles tiveram os filhos de “carreirinha”, a cada dois anos, minha mãe estava grávida e ele teve que correr atrás do pão de cada dia. E nós ficamos com ela. Choramos muito quando ele veio, pois meu pai era a parte “boa” (risos). Era mais calmo que minha mãe.
A mãe era na base do grito e da vara. Ela mesma diz que, se no tempo dela o Conselho Tutelar fosse tão criterioso e presente como é hoje, estaria presa. As atitudes, que hoje reconhece como erradas, tinham a ver com a rotina cansativa de ser mãe, dona de casa, esposa, trabalhar fora… E quando chegava em casa, tinha a casa para limpar, roupa para lavar (naquela época, era tudo na mão mesmo), tinha que fazer pão e tudo mais. Eu me lembro, como se fosse hoje, nós ajudando ela a segurar o cilindro para fazer a massa do pão. Muitas vezes, o dedo ia junto, porque ficávamos brincando. Foram altas gargalhadas.
Não a culpo pelas surras, pois se eu apanhava, era porque merecia. Sempre fui a mais terrível dos três filhos e, através desta maneira de educar, sou o que sou hoje. Porém, agora, ela me chama atenção quando falo mais alto com meus filhos: “Cristiani, não é gritando que se educa”. E eu venho tentando trabalhar isso.
Como eu demorei 13 anos para ter meu segundo filho, também percebo a diferença na minha maturidade. Muitas coisas que fazia com o Adler (filho mais velho), atualmente, com o Leonardo, já tento fazer diferente. Ou para coisas que esqueci como se fazia, é para a mãe que corro pedir socorro. Então, o que seria de mim sem minha mãe? Ela é fundamental na minha vida, além de mãe, é minha melhor amiga e confidente. Tenho a liberdade de falar tudinho para a mãe e ela também me conta os segredinhos dela.
Aprendi a ouvir, respeitar a opinião dos outros, a dar valor em cada coisa, a não ficar reclamando de tudo. Isso tudo é uma herança mesmo. O que a minha mãe admira em mim e eu admiro nela, e acredito que puxei muito a ela, é ser feliz o tempo todo. Não importa a circunstância, a gente tem que agradecer a Deus pelo Dom da vida e D'Ele ter dado a oportunidade da gente levantar da cama. Então, comigo não tem tempo ruim. Estou o tempo todo sorrindo e acreditando que o dia de amanhã vai ser melhor. Eu passo muito disso para meus filhos.
Quando o Adler reclama que precisa levantar cedo, já vou conversando com ele: “Filho, veja que dia lindo, você já agradeceu a Deus pela oportunidade de viver mais este dia? Hoje você precisa levantar cedo para ir a escola e amanhã? Será para o trabalho e as responsabilidades só vão aumentando”. E sabe por que falo isso para ele? Porque meus pais não tiveram a oportunidade que tive e fizeram de tudo para me dar o que eles não tiveram. Quando eu reclamava que precisava ir para a escola, eles me lembravam que na época deles nem mochila tinham, era no pacote de arroz que levavam o material.
Minha mãe estudou até a 4ª série e batalhou muito para chegar até aí, porque tinha que ir para a roça ajudar os pais. Naquele tempo as coisas não eram fáceis. Tenho certeza de que ela tem muito orgulho de eu ter completado uma faculdade. E eu incentivo muito meus filhos neste sentido, de correr atrás, de lutar pelos sonhos.
Com toda a loucura do dia a dia, eu também não esqueço de mim. Afinal, depois que damos a vida a estas criaturas maravilhosas, o corpo não é mais o mesmo e me preocupo com minha aparência. Muitas vezes já me maquiei no caminho do trabalho, porque não diferente da minha mãe, sou dona de casa, trabalhadora, sonhadora, esposa e mãe.
Para finalizar, gostaria de dizer que sempre estou de bem com a vida, sempre estou sorrindo, porque minhã mãe tem esse jeito e é assim que eu quero ver meus filhos.
Cristiani Maroleto
Responsável pelo departamento de suporte à gestão
na coordenação nacional da Pastoral da Criança