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Foto: Acervo da Pastoral da Criança

“Para que todas as crianças tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10). É por este motivo que a Pastoral da Criança atua em todo o Brasil, acompanhando mais de 1 milhão de crianças, 57 mil gestantes e 845 mil famílias, zelando pelo cuidado durante toda a primeira infância. Para que isso aconteça, mais de 172 mil voluntários estão mobilizados, sendo 94 mil líderes. Juntos, eles levam a missão pastoral para 3.600 municípios e 31.416 comunidades (dados do Sistema de Informação da Pastoral da Criança, segundo trimestre de 2016).

Não é novidade que a maior parte do voluntariado da Pastoral da Criança é formada por mulheres (92%). Mas a participação dos homens também vem aumentando e somando cada vez mais nesta rede de solidariedade, mostrando que o cuidado com a criança é papel de todos. Em relação à idade, 60% dos voluntários têm entre 30 e 59 anos, 27% até 29 anos e 13% já chegaram aos 60 ou mais. Poder contar com a colaboração de todas as gerações é um exemplo de como o conhecimento, a experiência e a novidade podem conviver e gerar bons frutos. E vários filhos e filhas já seguiram o exemplo de seus pais no serviço ao próximo.

A partir de uma pesquisa realizada em 2015, com líderes, coordenadores e apoios de todos os estados, a coordenação nacional descobriu que a média de escolaridade aumentou entre os voluntários da Pastoral da Criança. Atualmente, quase 39% deles possuem ensino médio completo, 19% já concluíram o ensino superior e 6% começaram o ensino superior, mas ainda não terminaram. Muitos são os casos de pessoas que voltaram a estudar porque se sentiram inspirados pela missão junto às famílias, na certeza do potencial que cada voluntário tem de aprender, tanto com a cabeça, quanto com o coração.

Nesta semana do dia 5 de dezembro, em que se comemora o Dia Internacional do Voluntário e o Dia da Pastoral da Criança, além de parabéns, todos os voluntários da Pastoral da Criança também merecem agradecimentos e bênçãos pelo bem que fazem na vida de tantas famílias. Sobre isso, confira a entrevista com a Ir. Vera Lúcia Altoé, ex-coordenadora nacional e atual secretária do Conselho Diretor, e também a fala do Pe. Antônio Ramos do Prado, assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude, da CNBB.

A cada 5 de dezembro, é celebrado o Dia Internacional do Voluntário. De que maneira o voluntariado contribui para melhorar a realidade e construir um lugar mais fraterno?

Ir. Vera: Todo ser humano traz dentro de si, algo que ninguém sabe explicar. É um desejo maior do que poder, riqueza e glória. É uma vontade louca de satisfazer o mais profundo do seu ser. Esse desejo é concretizado quando colocamos a nossa vida a serviço de outras vidas, estamos nos ajudando e ajudando outras pessoas. Surge na vida da pessoa que pratica o voluntariado uma alegria, um desejo de ver o outro feliz, e essa alegria é contagiante e transformadora. E ajuda na construção da própria comunidade onde a pessoa está inserida. Há uma revolução na vida, nas atitudes, nos valores, enfim, podemos dizer que há uma metamorfose, porque quanto mais doamos a vida, mais bela ela fica. Essa decisão primeira é pessoal, mas depois ela vai se tornando comunitária, pois o meu testemunho vai fazer com que outras pessoas também cheguem a fazer parte dessa missão.

Como a experiência do voluntariado pode transformar a vida de uma pessoa?

Ir. Vera: Por muitas vezes, escutei, e ainda escuto, as palavras de várias líderes: ”Eu hoje sou alguém, isso até dentro da minha própria casa”. “A Pastoral da Criança me ajudou muito e continua me ajudando, me oportunizando, dando ferramentas e me capacitando para que eu possa ser alguém nesse mundo. Foi a melhor faculdade que eu já fiz na minha vida”. “A minha autoestima melhorou, me tornei uma pessoa mais solidária, compreensiva, mais aberta e dedicada aos outros. Até a minha maneira de ser, cuidar de mim e da minha família hoje tem um novo sentido. Só tenho a ganhar fazendo parte da Pastoral da Criança”. Tenho certeza que uma pessoa que se dedica a um trabalho voluntário sempre tem algo a dar e a aprender, sobretudo com nossas crianças. O que precisamos é ter olhos abertos, mentes limpas e corações capazes de sentir com o outro. Como nos diz Pe. Zezinho: “O que é preciso para ser feliz?”

O que pode ajudar a manter os voluntários motivados e conquistar novos interessados na causa?

Ir. Vera: Estamos vivendo um momento diferente em nosso país e precisamos de novas ferramentas para manter o vigor das nossas pastorais. Na crise, precisamos ser mais criativos, ousados. Tenho esperança que dias melhores virão. Muita coisa depende de nós. Por isso, continuo apostando que a maior motivação para os nossos líderes é a realidade, lá onde nossa liderança encontra o próprio Jesus Menino. A realidade nos transforma e nos mantém sempre com a chama acesa. Precisamos nos perguntar sempre: o que estou fazendo serve para quê? A quem sirvo? Qual foi a intuição primeira para abraçar essa causa? De onde brotou? Da criança? Da gestante? Da realidade? Como cristãos, somos discípulos missionários, comprometidos a levar vida plena, sair de nossa pequena Igreja, sujar os pés, gastar as sandálias, nos colocar a caminho. Essa força interior precisa ser cultivada por cada voluntário. Nossos encontros devem ser carregados de alegria. Eu preciso estar motivada, caso contrário, tudo isso ficará só nas palavras. A decisão de mudança começa por si mesmo. Acredite em você, é possível fazer uma Pastoral ainda melhor.

Como envolver a juventude no voluntariado, para aumentar essa grande rede de solidariedade? O que a Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude, da CNBB, tem feito neste sentido?

Pe. Antônio: Os jovens estão sempre abertos ao voluntário. Eles são, por natureza, generosos, basta que o adulto saiba propor. A Pastoral Juvenil no Brasil tem dois grandes projetos de voluntariado. O primeiro é o Voluntariado Missionário: ao longo do ano (principalmente nas férias), jovens são enviados para as missões na Amazônia. Também realizam ações missionárias nas paróquias ou dioceses. A organização das missões se dá nas paróquias, nas dioceses, no regional da CNBB, nacional e internacionalmente. A Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude faz parceria com a Comissão Missionária, Comissão para Amazônia e Pontifícias Obras Missionárias. O segundo projeto, acontece através de ações de solidariedade nas paróquias e dioceses. Também na participação de políticas públicas para a juventude. Maior ação se dá no envio dos jovens para um ano de trabalho nas Fazendas da Esperança do mundo todo. Os jovens são preparados durante três meses e, depois, são enviados para essa bela experiência nacional e internacional.

Já imaginou quantas crianças a mais poderiam ser acompanhadas em sua comunidade se cada líder atuante convidasse um jovem para lhe ajudar? E melhor ainda, se esse jovem se envolvesse com a missão pastoral pela vida toda? Vale tentar!

Uma das iniciativas dedicadas ao jovem foi o desenvolvimento do aplicativo “DOCAT - Como agir?”, baseado na Doutrina Social da Igreja Católica. Qual é o objetivo desta ferramenta? E de que maneira pode contribuir para inspirar mais ações que podem melhorar o mundo?

Pe. Antônio: O Papa Francisco lançou o DOCAT na Jornada Mundial da Juventude 2016, em Cracóvia - Polônia. Ele convida os jovens a realizar ações que possam transformar a si mesmo, ao seu redor e ao mundo. O aplicativo é uma forma de chegar aos jovens, pois é uma linguagem que eles dominam. Qualquer jovem pode baixar o aplicativo no celular, estudar o DOCAT e depois responder a uma série de perguntas de múltipla escolha, relacionando o que a Igreja propõe com a prática. O DOCAT foi lançado pela CNBB nas redes sociais e na TV no dia 23 de novembro. O objetivo dessa ferramenta é ajudar os jovens desenvolver o seu potencial através da ação, que pode gerar uma rede de solidariedade, ou seja, uma corrente do bem. A Pastoral Juvenil, através da equipe de jovens da comunicação, está desenvolvendo um sistema no site www.jovensconectados.org.br, que irá ajudar os jovens a realizarem ações transformadoras e, ao mesmo tempo, registrarem no mapa do Brasil. Ao registrar, aparecerá no mapa o local onde a ação aconteceu. Para isso, o jovem terá que entrar no site e preencher um formulário. Todas ações realizadas no Brasil aparecerão de forma numérica no site. Exemplo: um jovem que tem uma ação pontual no lar de idosos – isso pode ser cadastrado, será contabilizado mundialmente e aparecerá no mapa.

Os jovens voluntários da Pastoral da Criança também podem usar o aplicativo? Pode-se dizer que a experiência deles junto às comunidades é um exemplo de como colocar em prática os ensinamentos da Igreja?

Pe. Antônio: Sim. Pode sim. Eles devem se cadastrar no site jovensconectados.org.br e, em seguida, começar a registrar as ações que realizam em todo Brasil. Podem registrar cada ação que realizarem.

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Que mensagem o senhor gostaria de dedicar a todos os líderes e demais voluntários da Pastoral da Criança, que independentemente da idade, se dedicam às crianças, gestantes e famílias que acompanham, em suas comunidades?

Pe. Antônio: Quero dizer que acompanho a Pastoral da Criança já faz mais de 20 anos. Esse trabalho que vocês realizam é um bem incalculável. Salvar vidas é fazer o Reino de Deus acontecer na terra. Todos que trabalham na Pastoral da Criança trazem um brilho no olhar, pois sabem que, o bem que realizam, não existe dinheiro nenhum nesse mundo que pode pagar. Dona Zilda Arns é uma luz que nunca se apagará. Rezo para que ela seja canonizada santa o mais rápido possível. Não há maior amor do que dar a vida pelos irmãos e irmãs. Parabéns e contem conosco.

*Parte deste conteúdo está publicada na sexta edição da Revista Pastoral da Criança.

Saiba mais sobre o voluntariado da Pastoral da Criança e como novos voluntários podem começar a participar: www.pastoraldacrianca.org.br/voluntariado

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