Acervo da Pastoral da Criança
A Pastoral da Criança comemora neste mês de dezembro, 40 anos. São 40 anos superando desafios, e junto aos milhares de voluntários a Pastoral da Criança tem buscado orientar famílias para uma ação sociotransformadora. Buscando seguir as orientações do Papa Francisco em colocar a família no protagonismo, sendo igreja em saída e promovendo controle social, seguimos firmes na missão de levar vida plena para as crianças e suas famílias.
Hoje mais do que nunca, o legado da Dra. Zilda Arns Neumann continua vivo por meio de cada voluntário, famílias, parceiros, comunidades e demais pessoas que fazem parte dessa rede de solidariedade que se formou ao longo dos anos.
Viva a Pastoral da Criança e parabéns a todos os envolvidos que fazem parte da construção de um mundo mais justo e fraterno.
Dr. Nelson Arns Neumann, Coordenador Nacional Adjunto e Coordenador Internacional da Pastoral da Criança
ENTREVISTA COM: Dr. Nelson Arns Neumann, Coordenador Nacional Adjunto e Coordenador Internacional da Pastoral da Criança.
Neste ano, a Pastoral da Criança está completando 40 anos de existência. Como o senhor avalia a trajetória da Pastoral da Criança neste período?
Lembro, bem no começo, a gente indo a Florestópolis e vendo aquele brilho nos olhos das mães que tinham esperança para seus filhos. Depois, quando eu trabalhei no Maranhão, a gente pegava aquelas crianças desnutridas, nasceram com três quilos e meio e com um ano estavam pesando dois quilos. E a mãe, sem esperança. Quando a Pastoral da Criança chegava e recuperava e a gente via quando a mãe percebia que a criança tinha chance de sobreviver, como ela começava a chorar e abraçar e beijar aquela criança, que ela tinha medo até de fazer isso pela dor de ver uma criança morrer. Numa segunda fase, que foi bem interessante, a gente falou, puxa, mas a mortalidade infantil, a desnutrição passou, graças a Deus, no Brasil isso diminuiu muito. Tem razão da Pastoral da Criança continuar fazendo o que está fazendo? E a gente percebeu, os estudos novos mostravam que o que a gente faz da gestação até a criança completar 2 anos de idade, que são os primeiros mil dias, afeta a vida dela para sempre. Criança que nasceu com baixo peso, ela morre mais do coração aos quarenta anos, ela tem mais diabetes, mais pressão alta, colesterol e tal. Então, uma série de doenças que a gente vê nos adultos começam na infância. Daí a gente viu de novo aquele grande vigor da Pastoral da Criança, porque não é só fazer a sobrevivência dessa criança, mas cuidar para que os nossos filhos sejam idosos saudáveis e ativos. E agora, mais recentemente, teve uma terceira fase que é a da tecnologia. A gente com o nosso App, com o Aplicativo da Pastoral da Criança + Gestante esse conhecimento pode chegar na mão da mãe, na mão do pai.
De fato, o Aplicativo está sendo um recurso de grande importância para a Pastoral da Criança, não é mesmo?
Visitando maternidades, isso de Santa Catarina até o Maranhão, a gente vê quando oferece o Aplicativo para o pai, especialmente, e diz: “Olha, a primeira semana de vida”, dá uma olhadinha, aqui! Como é que cuida, como é que faz a higiene, a importância disso?” O brilho nos olhos, aquela vontade e ele pegando o Aplicativo para baixar. Por quê? Ninguém ensinou a ele a ser pai. Não é a mãe, depois que a criança nasceu, que vai ter tempo de ensinar. Então, a gente percebe que, às vezes, a gente falhou lá atrás nessa educação do cuidado ao pai, à mãe e a toda a família. Para cuidar de uma criança é preciso toda uma comunidade. E esse recurso chegando agora, a mãe e o pai se apropriando. E agora ainda você consegue repartir os dados dessa tua criança, receber a mensagem para cada dia da gestação, para cada semana de vida. Puxa, mas olha o padrinho quer saber, a avó quer saber como é que funciona, como é que pode ajudar? E tudo isso o Aplicativo está mostrando e a gente vê aquele brilho nos olhos. E o principal, se percebe que todo mundo pode ajudar. Você que está me ouvindo aqui, a gente viu, conversou. Universidades, os estudantes: “Puxa, mas o que está aqui dentro é o que estão ensinando na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, hoje!” Então, você como estudante de enfermagem, nutrição e até de informática que está ajudando a gente: “Puxa, ah, eu posso usar com a minha família, mas também ensinar aqueles com quem eu tenho contato!” Recentemente, o Rotary veio perguntar prá gente: “Puxa, mas clubes de serviço também conseguem fazer isso!” Os empresários: “Olha, a gente precisa de pessoas saudáveis com essa capacidade e estabilidade emocional. Que não é só sobreviver!” O jeito que a gente cuida da criança influencia como é que ela vai se comportar e como é que vai viver num mundo que a gente sabe que não está bom, como a gente queria, mas a gente pode criar os nossos filhos para: “olha, se dar bem no mundo, apesar dos defeitos do mundo”. Então, eu fico muito alegre nessa trajetória de 40 anos, vendo o quanto a Pastoral da Criança avançou e o quanto aquilo que foi feito lá no início, que era sobrevivência, de repente, a gente ver: “Não, é vida para o idoso!” E agora a gente vê: “Não, é até a harmonia de casa porque cada um sabe o papel e como todo mundo pode conversar e se ajudar. Então, eu peço para você, baixe o Aplicativo da Pastoral, dá uma olhadinha! E se você conhece uma gestante, conhece uma criança, explica: “Olha, tudo o que está aqui é aprovado pelo Ministério da Saúde, pela Sociedade Brasileira de Pediatria, pelas universidades. É o que existe de melhor! E quando esse conhecimento se espalhar para todos, com certeza, as nossas crianças vão ter mais vida e vida em abundância.
Como a Pastoral da Criança marca presença ativa entre os mais pobres e vulneráveis nas comunidades?
Hoje, a gente tem a possibilidade, vai na Play Store, baixa o Aplicativo, todo mundo pode ter esse conhecimento. Mas o que mais precisa, é que a gente vá, caminhe, pise barro, como eu gosto de dizer, para chegar em casa para ajudar a restaurar a dignidade dessas pessoas. E isso não é muito fácil. A gente precisa, de fato, ir de casa em casa e ficar, como Jesus ficou contente, muito mais, às vezes, com as 99 que ficaram lá dentro do curral do que com a ovelha perdida que a gente conseguiu resgatar. Então, esse papel fundamental da Pastoral da Criança precisa continuar sendo exercido para os nossos líderes voluntários de casa em casa, entendendo o que está se passando com as famílias e chamando as diversas redes de apoio. Qual é o problema que a gente tem com essa família? Puxa, às vezes, é um problema de alcoolismo, de drogadição. Que serviços existem no governo, na sociedade, Fazenda Esperança ou o que for. Ah, o problema é renda? O problema é a dificuldade, por que está sozinho? Como é que a comunidade pode se reunir no entorno para fortalecer essa família? Esse é o principal objetivo da Pastoral da Criança para quebrar o ciclo da pobreza.
Programa de rádio Viva a Vida 1680 - 04/12/2023 - Dia Nacional da Pastoral da Criança e Dia Internacional do Voluntariado
Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra
Qual é a sua mensagem para essa comemoração dos quarenta anos da Pastoral da Criança?
A Dra. Zilda, que fundou a Pastoral da Criança, costumava repetir aquele ditado: de boas intenções o inferno está cheio. Então, eu preciso ter a ciência, eu preciso ter a tecnologia que traz a ciência para a gente, o conhecimento, mas nada substitui o contato. No caso da Pastoral da Criança, a visita domiciliar, para ir de casa em casa, olhar nos olhos, sentir a necessidade dessa pessoa e partilhar. Partilhar, às vezes, o conhecimento, às vezes, o nosso tempo. Aprendi, recentemente, com os chineses que a gente fala que tem dois ouvidos e uma boca. E para os chineses é um pouco mais complicado. Eu tenho duas orelhas, dois olhos e uma boca. Então, é isso que o nosso pobre precisa: do nosso olhar, da nossa paciência de ouvir e também da nossa partilha.
Leia a entrevista na íntegra
1680 - 04/12/2023 - Dia Nacional da Pastoral da Criança e Dia Internacional do Voluntariado (.PDF)
16º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável
“Paz, justiça e instituições eficazes: promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.”
A Pastoral da Criança trabalha em ações, por meio dos líderes e voluntários, para levar vida em abundância a todas as crianças, gestantes e suas famílias. Assim, garantem que cada vez mais comunidades sejam independentes, sustentáveis e solidárias, proporcionando um ambiente feliz, completo e seguro para que nossas crianças se desenvolvam plenamente.
Dra. Zilda
“Quando vejo, depois de anos de intenso trabalho, como a Pastoral da Criança se expandiu, como formou uma rede de solidariedade, como formou uma verdadeira família, acredito sempre mais no amor de Deus por nós, em sua sabedoria e graça ao conduzir tão bem a Pastoral da Criança”.
Papa Francisco
"O mundo precisa de voluntários e de organizações que queiram comprometer-se com o bem comum. Sim, essa é a palavra que muitos hoje em dia querem apagar: 'compromisso'. E o mundo precisa de voluntários comprometidos com o bem comum"