
A mortalidade materna é um dos indicadores mais sensíveis da qualidade da assistência à saúde e do respeito aos direitos das mulheres. No Brasil, apesar dos avanços nas últimas décadas, os números ainda são alarmantes. Segundo dados do Governo Federal, foram registradas 1.184 mortes maternas em 2024; 1.319 em 2023; 1.316 em 2022; 3.025 em 2021 e 1.964 em 2020. O pico em 2021 reflete, sobretudo, o impacto da pandemia da Covid-19, mas os dados revelam também a necessidade de esforços contínuos para garantir gestação e parto seguros.
Mortalidade Materna no Brasil:
2020: 1.964
2021: 3.025
2022: 1.316
2023: 1.319
2024: 1.184
Fonte: Governo Federal
Rede Alyne: nova estratégia para salvar vidas
Diante desse cenário, o Governo Federal lançou em 2024 a Rede Alyne, programa que reestrutura a antiga Rede Cegonha e tem como meta reduzir em 25% a mortalidade materna no país até 2027. A Rede Alyne presta homenagem a Alyne Pimentel, jovem que perdeu a vida e a de seu bebê por desassistência, em 2002, e cujo caso levou à primeira condenação internacional do Brasil por violação dos direitos humanos de uma mulher grávida. O novo programa traz inovações importantes, como a integração efetiva entre as maternidades e as equipes da Saúde da Família, a qualificação de profissionais para o atendimento obstétrico e o fortalecimento da regulação do SUS para garantir atendimento rápido e digno às gestantes, principalmente entre a população em maior vulnerabilidade social.
O papel da Pastoral da Criança na prevenção da mortalidade materna
Com uma trajetória de compromisso com a vida, a Pastoral da Criança também atua de forma decisiva para ajudar a reduzir a mortalidade materna. Como destaca a coordenadora nacional, Maria Inês Monteiro de Freitas, “os líderes da Pastoral da Criança orientam as gestantes sobre a importância do pré-natal, o parto e o pós-parto e, em cada visita domiciliar, conversam sobre os sinais de alerta que precisam de atendimento imediato para salvar vidas. Também participamos de Conselhos de Saúde, comitês de prevenção da morte materna e atuamos na defesa de políticas públicas que contribuam para a proteção das mulheres”. Para a Pastoral da Criança, cuidar da saúde das gestantes é parte essencial de sua missão de promoção da vida.
Entrevista especial: como prevenir e agir
Para aprofundar esse tema tão urgente, convidamos você a ler ou ouvir a entrevista completa com o Dr. Renné Cosmo da Costa, conselheiro do Conselho Federal de Enfermagem e coordenador da Câmara Técnica Nacional de Enfermagem em Saúde da Mulher. Na entrevista, ele fala sobre as principais causas da mortalidade materna, as estratégias de prevenção, a importância da Rede Alyne e o que cada gestante e a sociedade podem fazer para mudar essa realidade.

Dr. Renné Cosmo da Costa, Enfermeiro, conselheiro do Conselho Federal de Enfermagem e coordenador da Câmara Técnica Nacional de Enfermagem em Saúde da Mulher.
ENTREVISTA COM: Dr. Renné Cosmo da Costa, Enfermeiro, conselheiro do Conselho Federal de Enfermagem e coordenador da Câmara Técnica Nacional de Enfermagem em Saúde da Mulher.
Quais são as principais causas da mortalidade materna?
DR. RENNÉ: As principais causas da mortalidade materna estão diretamente relacionadas a complicações na gestação e no parto. Entre elas, destacam-se as síndromes hipertensivas, como pré-eclâmpsia e eclâmpsia, as hemorragias intensas após o parto, as infecções no pós-parto e as complicações decorrentes de abortos inseguros. Há também causas indiretas, igualmente importantes, como doenças prévias da gestante que se agravam durante a gravidez, a exemplo da diabetes e das doenças cardíacas. Mais recentemente, doenças infecciosas, como a própria Covid-19, infelizmente se tornaram causas relevantes de mortalidade materna no Brasil.
O que é necessário para ter uma gestação segura, Dr. Renné?
DR. RENNÉ: Uma gestação segura começa com educação, formação de qualidade e acolhimento. É fundamental que a mulher tenha acesso precoce ao pré-natal, que deve ser realizado de forma regular, com a realização de exames laboratoriais e ultrassonografias ao longo de toda a gestação. Também é essencial cuidar da nutrição, receber todas as imunizações necessárias, evitar hábitos prejudiciais, como o fumo, o consumo de álcool e a automedicação. Além desses cuidados, é crucial que a gestante seja acolhida em um ambiente seguro, livre de violência obstétrica, onde possa se sentir à vontade para comunicar qualquer sintoma ou preocupação ao profissional de saúde que a acompanha.
Dr. Renné, o senhor teria mais alguma orientação que gostaria de acrescentar sobre esse tema?
DR. RENNÉ: Eu acredito que a principal orientação é que todos nós, enquanto sociedade, precisamos entender que cuidar da saúde materna é cuidar do nosso futuro. A gestação não é uma doença, mas exige atenção, acolhimento e cuidados específicos. É responsabilidade de todos os envolvidos — profissionais, gestores e a própria sociedade — garantir que cada mulher seja tratada com respeito, dignidade e segurança durante toda a gestação. A mensagem principal que quero deixar é: cuidar bem das mulheres gestantes é uma questão ética, social e de cidadania.

Maria Inês Monteiro de Freitas, Coordenadora Nacional da Pastoral da Criança,
(MENSAGEM) Maria Inês Monteiro de Freitas, Coordenadora Nacional da Pastoral da Criança, também participa do programa de hoje.
Maria Inês, o que a senhora tem a dizer sobre esse tema que estamos abordando, que é a Mortalidade Materna?
MARIA INÊS: A mortalidade materna ainda é muito alta no Brasil, especialmente nas regiões mais distantes e sem acesso rápido e de qualidade aos serviços de saúde. Os líderes da Pastoral da Criança se esforçam, de várias maneiras, para ajudar a prevenir essas mortes: eles orientam as gestantes sobre a importância do pré-natal, orientam para o parto e o pós-parto e, em cada visita domiciliar, conversam sobre os sinais de alerta que podem acontecer na gestação e que precisam de atendimento imediato, para salvar a mãe e o bebê. A Pastoral da Criança também marca presença nos Conselhos de Saúde, Comitês de Prevenção da Morte Materna e também conta com a forte ação de seus articuladores, que reivindicam políticas públicas adequadas para ajudar na prevenção dessas mortes evitáveis. A Pastoral da Criança é a pastoral da vida. Por isso, lutar pela vida de mães e crianças é a nossa missão.
Leia a entrevista na íntegra
1756 – 19/05/2025 – Mortalidade Materna (.PDF)
Programa de rádio Viva a Vida 1756 – 19/05/2025 – Mortalidade Materna
Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra
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3º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável
"Saúde e Bem-Estar"
3.1 Até 2030, reduzir a taxa de mortalidade materna global para menos de 70 mortes por 100.000 nascidos vivos
3.8 Atingir a cobertura universal de saúde, incluindo a proteção do risco financeiro, o acesso a serviços de saúde essenciais de qualidade e o acesso a medicamentos e vacinas essenciais seguros, eficazes, de qualidade e a preços acessíveis para todos
10º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável
"Redução das desigualdades"
10.2 Até 2030, empoderar e promover a inclusão social, econômica e política de todos, independentemente da idade, gênero, deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição econômica ou outra
Dra. Zilda
“Não podemos esquecer também das políticas públicas, de lutar pela melhoria da qualidade de vida de nossas famílias, melhor assistência pré-natal, ao parto e melhores escolas”.
Papa Francisco
“Uma sociedade sem mães seria não apenas uma sociedade fria, mas também uma sociedade que perdeu o coração.”