1741 entrevista gravidez na adolescencia como fator de risco para a depressao pos partoFoto: Divulgação/Governo do Tocantins

A primeira semana de fevereiro é definida pela Lei 13.798/2019 como a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência. Dados preliminares do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinac) apontam que, no primeiro semestre de 2024, foram realizados no Brasil 141 mil partos de mulheres entre 10 e 19 anos. Uma década atrás, em 2014, no mesmo período, haviam sido 286 mil.

Especialistas atribuem a redução dos partos de adolescentes à melhora no acesso aos serviços de saúde, ao aumento da escolaridade das adolescentes, às melhores expectativas de crescimento profissional e à pandemia.
Apesar da queda ao longo da última década, o número total ainda é alto. O Brasil faz 44 partos de bebês de mães adolescentes por hora, em média (dado de 2023). Mais preocupante é que, desses, dois partos por hora são de mães com idade entre 10 e 14 anos. O ato sexual com menores de 14 anos é crime de estupro de vulnerável no Brasil.

A gravidez na adolescência é um fator de risco para a depressão pós parto, grave condição de saúde para a mãe e que também traz prejuízos à saúde do bebê. Leia na entrevista a seguir orientações sobre como trabalhar na prevenção à gravidez na adolescência e no acolhimento das adolescentes gestantes.

 

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Gravidez na adolescência

Gravidez na Adolescência – Impacto na vida das famílias e das adolescentes e jovens mulheres

 

ENTREVISTA COM: Heloísa da Silva Baggio, psicóloga da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança.

Heloísa, quais são as principais causas da gravidez na adolescência?

HELOÍSA:

Bom, a gestação na adolescência possui causas diversas: falta de informações ou informações inadequadas relacionadas à sexualidade; falta de diálogo entre pais e filhos, tratando esse tema com pouca importância, não oportunizando um momento de dúvidas, de aconselhamentos; a gente pode entender também como uma forma de fuga de um ambiente violento dentro de casa e da idealização de que, ao engravidar, os problemas relacionados a isso irão sumir; falta de acesso à educação ou a qualquer expectativa relacionada à vida profissional, que acaba levando a uma ideação de que isso vai acontecer com o preenchimento de uma criança; o abuso de álcool e drogas; a repetição do modelo familiar que está inserido ou também de pessoas próximas; dificuldade de acesso aos serviços de saúde; e a falta de políticas públicas mais efetivas para esse público, em todos os âmbitos, dentre outras diversas possíveis causas para a gravidez na adolescência.

Heloísa, qual é o papel da família e da comunidade no apoio à gestante adolescente?

HELOÍSA:

Eu acredito que os principais papéis são a educação e o acolhimento. Na educação temos a prevenção, o diálogo, o acesso a informações corretas e seguras, e uma forma de perspectiva de futuro profissional. E o acolhimento é no olhar mais humano, com afeto e sem julgamentos. Nesse momento, a última coisa que essa adolescente precisa é de alguém culpando e apontando falhas. Infelizmente, ainda vivemos em uma sociedade preconceituosa, precisamos nos abrir para o próximo e buscar compreender mais e julgar menos.

Como toda essa situação que envolve a gestante adolescente pode levar a uma depressão tanto durante a gestação como no pós-parto? Como é possível ajudar essa gestante adolescente?

HELOÍSA:

A romantização desse momento acaba gerando alterações emocionais significativas, como estresse elevado e sintomas de alta ansiedade e de depressão.
A depressão durante a gestação é mais comum do que a depressão pós-parto. Quando ocorre a depressão pós-parto, possivelmente essa adolescente já apresentava sintomas durante a gestação.

Entre os fatores que contribuem para esse quadro, tanto durante a gestação quanto após o parto, estão: a falta de apoio dos familiares, amigos e do próprio genitor; a quebra da maternidade idealizada para a maternidade real; ter que deixar os estudos e o convívio com amigos; trocar a boneca por um bebê real; deixar as brincadeiras; receber olhares de julgamento; e falas negativas e que desacreditam a adolescente de que ela pode ter o papel de mãe.

Por isso, nesse momento é muito importante que a adolescente seja acolhida, amparada e se sinta segura, que seja aconselhado que ela busque realizar o pré-natal. Além disso, quando possível, seja incentivada a continuar com os estudos e suas atividades do dia a dia. Tudo isso para que tenha uma gestação mais tranquila, conseguindo assimilar a situação e podendo se planejar para o pós-parto. Ter uma rede de apoio, com afeto e compreensão, é essencial quando falamos de prevenção a questões relacionadas à saúde mental dessa adolescente.

Heloísa, você gostaria de acrescentar mais alguma orientação sobre esse tema?

HELOÍSA:

Eu acho importante, novamente, reforçar a questão do diálogo, da conversa sobre sexualidade, tanto dos pais com os filhos, como das instituições, da escola. Quero reforçar a importância de abordar essa temática com rodas de conversa, com atividades que possibilitem que esses jovens tragam dúvidas, tragam questionamentos, enfim, uma forma com que o diálogo realmente aconteça. Além também dos serviços de saúde, que eles estejam sempre disponíveis para acolher, para orientar esses adolescentes sobre essas questões que envolvem a sexualidade.

 

1741 mensagem gravidez na adolescencia como fator de risco para a depressao pos parto

Dom Frei Severino Clasen, Arcebispo de Maringá, Paraná e Presidente do Conselho Diretor da Pastoral da Criança.

(MENSAGEM) Dom Frei Severino Clasen, Arcebispo de Maringá, Paraná e Presidente do Conselho Diretor da Pastoral da Criança.

DOM FREI SEVERINO:

É preciso ter uma boa orientação sexual. A dimensão sexual é muito importante na vida humana e é preciso entender, seguir e orientar, respeitar os processos. Nada de queimar etapas. Um adolescente ainda não está maduro para gerar um filho. É preciso uma maturidade orgânica, psíquica e espiritual, para que haja esse cuidado. Então, em primeiro lugar, acolher quando isso acontece. Acolher essa vida, sem violência. Não criar traumas moralistas. Depois dar apoio para que a adolescente continue estudando e fazendo pré-natal. Que ela continue tendo uma vida normal, porque ela está na sua fase que precisa viver a sua adolescência. E a família deve acolher, aconselhar, ajudar, mas não ocupar o papel da mãe no cuidado com a criança. E ajudar a prevenir a depressão pós-parto. Aliás, o cuidado é muito intenso.

 

Programa de rádio Viva a Vida 1741 – 03/02/2024 – Gravidez na adolescência como fator de risco para a depressão pós-parto

Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra

Leia a entrevista na íntegra

1741 – 03/02/2024 – Gravidez na adolescência como fator de risco para a depressão pós-parto

 

3º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável

"Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades".

3.4 Até 2030, reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis via prevenção e tratamento, e promover a saúde mental e o bem-estar

44º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável

“Garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos".

4.1 Até 2030, garantir que todas as meninas e meninos completem o ensino primário e secundário livre, equitativo e de qualidade, que conduza a resultados de aprendizagem relevantes e eficazes

45º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável

“Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas”.

5.3 Eliminar todas as práticas nocivas, como os casamentos prematuros, forçados e de crianças e mutilações genitais femininas.

Dra. Zilda

“Em um lar sem brigas, as crianças crescem mais seguras, mais felizes e os adultos se sentem mais apoiados e confiantes no futuro”.

Papa Francisco

 “Creio que nas escolas é preciso dar educação sexual. Sexo é um dom de Deus, não é um monstro. É o dom de Deus para amar, e se alguém o usa para ganhar dinheiro ou explorar o outro é um problema diferente. Precisamos oferecer uma educação sexual objetiva, como é, sem colonização ideológica”.