Foto: Acervo da Pastoral da Criança
A mortalidade materna ainda é um grande desafio de saúde pública. Segundo dados da Organização Panamericana da Saúde, cerca de 830 mulheres morrem todos os dias por complicações relacionadas à gravidez ou ao parto em todo o mundo, sendo que a maioria das mortes poderiam ter sido evitadas.
A situação tornou-se ainda mais grave devido aos impactos diretos e indiretos da pandemia da Covid-19, que levou a um grande retrocesso em vários países. No Brasil as taxas de mortalidade materna dobraram no período, voltando a níveis registrados há 25 anos.
Saiba mais sobre o assunto na entrevista com a Dra. Ana Elisa, doutora em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas, pesquisadora do Centro de Estudos de Migrações Internacionais, CEMI - UNICAMP e do Observatório Saúde e Migração da FENAMI. Também junto à Organização Internacional Médicos Sem Fronteiras desde 2016 como antropóloga e coordenadora de Promoção de Saúde.
ENTREVISTA COM: Dra. Ana Elisa, doutora em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas, pesquisadora do Centro de Estudos de Migrações Internacionais, CEMI - UNICAMP e do Observatório Saúde e Migração da FENAMI
Dra. Ana Elisa, doutora em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas, pesquisadora do Centro de Estudos de Migrações Internacionais, CEMI - UNICAMP e do Observatório Saúde e Migração da FENAMI
Quais são as principais causas da mortalidade materna?
As causas de mortalidade materna no Brasil elas são em sua grande maioria causas evitáveis, 90% dos casos seriam evitáveis. Elas estão relacionadas a quadros de infecção, hemorragias, hipertensão, por exemplo. No período da pandemia somava-se a isso quadros relacionados à infecção por Covid-19. Mas enfim, acho que o mais importante da gente ressaltar aqui é que a morte materna está sempre ligada a falta de serviços básicos de saúde.
Por que muitas gestantes e mulheres que acabaram de ganhar bebê não recebem os cuidados necessários que precisam durante esse período?
As razões pela falta de acesso são várias e envolvem toda uma cadeia de atenção, que vai desde a atenção primária, inclusive relacionada ao acesso ao planejamento familiar adequado, ao acesso ao acompanhamento de pré-natal adequado e de qualidade, até a ponta, a atenção especializada, que vai envolver o serviço de maternidade e o serviço de alta complexidade. E para que essa cadeia funcione bem, é necessário investimento em cada segmento dela. A gente continua com muita dificuldade, inclusive em garantir a atenção básica de saúde primária para as mulheres. Um dado importante é que apenas 34% dos municípios brasileiros hoje em dia atingem a meta de no mínimo 6 consultas de pré-natal para pelo menos 45% das gestantes. Mas, para além disso, muitas vezes, aquelas mulheres que conseguem uma atenção, um acompanhamento a um pré-natal adequado e de qualidade elas não vão ter acesso à maternidade.
Programa de rádio Viva a Vida 1652 - 22/05/2023 - Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna
Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra
Eu acho que a gente pode considerar que a estruturação da atenção primária é fundamental, mas, sobretudo, para que essas mulheres entendam a importância inclusive do acompanhamento de pré-natal, que esse acompanhamento não seja interrompido para que isso aconteça é necessário o estabelecimento de um vínculo de confiança entre os profissionais e as mulheres e, finalmente, a gente também precisa garantir uma qualidade no atendimento hospitalar das maternidades para que ele seja acolhedor e que situações como de violência obstétrica que são muito comuns no nosso cenário, sobretudo, quando a gente olha para as desigualdades sociais e raciais, portanto, quando a gente está falando de mulheres negras e mulheres indígenas. Então, a gente precisa garantir que isso não aconteça e que cada uma dessas situações possa ser um gargalo e vir a causar mortes maternas.
Qual é a importância das políticas públicas no combate à mortalidade materna no Brasil?
É através da política pública que a gente garantiria o acesso universal democratizado a toda esta rede de atenção obstétrica e é justamente o funcionamento dessa política pública que faz com que os índices de mortalidade materna e infantil se reduzam. Mas eu diria que é justamente nos gargalos onde esse sistema de política pública tem mais dificuldade que se dá a importância das redes de apoio, sobretudo, para atuar de forma complementar nestes contextos de maior vulnerabilidade. Então, é extremamente importante contar com uma rede de apoio próxima, com pessoas da família, para quando são identificadas situações onde o sistema de saúde não consegue chegar.
Leia a entrevista na íntegra
1652 - 22/05/2023 - Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna (.PDF)
3º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável
“Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades”.
Meta 3.1 - Brasil
Até 2030, reduzir a razão de mortalidade materna para no máximo 30 mortes por 100.000 nascidos vivos.
Dra. Zilda
“Não podemos esquecer também das políticas públicas, de lutar pela melhoria da qualidade de vida de nossas famílias, melhor assistência pré-natal, ao parto e melhores escolas“.
Papa Francisco
“A cada mulher grávida, quero pedir afetuosamente: Cuida da tua alegria, que nada te tire a alegria interior da maternidade. Esta criança merece a tua alegria.