Cada povo, cultura ou religião tem o seu jeito próprio de lidar com a morte. Contudo, o fato comum a todos é que uma perda sempre abala de algum modo a família e cada pessoa que a ela pertence. Uma dúvida que sempre aparece nestes casos é como falar desse tema com as crianças. Como explicar que algum familiar morreu? Em caso de pai ou mãe, parece ser mais difícil ainda. Especialistas no assunto afirmam que se deve levar em conta a idade da criança, a capacidade de compreensão e, sobretudo, que se deve falar a verdade sempre.
Os adultos geralmente criam histórias e expressões para explicar a morte para as crianças e, muitas vezes, causam confusão, ansiedade e falsas expectativas. Dizer que a mãe virou “uma estrelinha” ou que o pai, ou algum dos avós, “viajou” e vai demorar muito para voltar não ajudam a criança a lidar com a situação. Há maneiras mais adequadas de se falar abertamente sobre as perdas pessoais e afetivas com as crianças, utilizando a sinceridade, o diálogo e o apoio constante.
Em caso de perdas, vivenciar o luto é necessário, mas não no sentido da derrota, do desespero, e sim na dimensão da esperança, tanto para crianças, como para os adultos.
“Toda perda requer uma elaboração, um trabalho de luto”, explica Rosicler.
Você sabe como falar de morte para uma criança? Existe hora e momento oportuno para se falar de morte com os pequenos? Para conversar sobre o tema “Como a criança lida com as perdas”, a Pastoral da Criança entrevistou Rosicler Schmidt, psicóloga clínica que trabalha em Curitiba (PR).
A perda de um ente querido é muito difícil de suportar. Existem perdas mais difíceis de enfrentar do que outras?
Toda perda requer uma elaboração, um trabalho de luto. É um tempo que você precisa para falar, para externar, botar para fora. Elaborar esse tempo é importante para poder seguir a vida adiante. São mais difíceis: perda por morte de um ente querido, perda de forma brutal quando pessoas são sequestradas e assassinadas, por morte súbita em tragédias e catástrofes ambientais, em acidente de trânsito ou acidente aéreo. O luto não termina, quanto mais o tempo passa, o sofrimento é adiado e se torna maior.
A criança deve participar dos ritos fúnebres?
Sim, desde que ela queira participar desses ritos fúnebres. Os pais jamais devem negar, porque não adianta negar, não levar a criança para o velório, se ela está vendo a tristeza estampada nos adultos. Daí ela fica confusa, ela se torna insegura, porque vê que os pais estão escondendo alguma coisa dela.
Rosicler, você tem alguma orientação de como falar com a criança sobre a morte?
Primeiramente, adequar a sua linguagem, em que a morte pode ser representada através de histórias infantis, de contos de fadas, de filmes. É benéfico a criança ter um animal de estimação, esses seres concretos da natureza podem lhe servir de paralelo para introduzir a compreensão do acontecimento doloroso que a morte encerra. Por exemplo, a criança tem um peixinho lá no aquário, ou ela tem um cachorrinho de estimação. Então, ela vai ver que o cachorrinho foi criado e daqui a pouco ele morre. É importante ela vivenciar esse rito, então nós temos que enterrar esse cachorrinho. “Ó, o peixinho estava vivo, agora morreu”. Os filmes e os contos de fadas transmitem sempre esse sentimento.
Leia a entrevista na íntegra: 1205 - Entrevista com Rosicler Schmidt - Como a criança lida com as perdas (.PDF)
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