É fundamental as crianças terem espaços e oportunidades para as brincadeiras, pois é brincando que elas aprendem e se desenvolvem.
Portanto, ao pensar em oferecer oportunidades para que o brincar aconteça, precisamos proporcionar ambientes lúdicos, atrativos, seguros adequados à idade e interesses da criança, fazendo com que a brincadeira seja um incentivo a exploração, interação e descoberta da aprendizagem.
O brincar deve ser livre e espontâneo, assim as crianças aproveitam todos os benefícios. Além disso, favorece para que aprendam sobre riscos e limites, explorem e se arrisquem a realizar novas experiências.
O espaço, desta forma, deve valorizar o brincar livre, mas ao mesmo tempo seguro e supervisionado pelos adultos. Como é possível permitir que os pequeninos brinquem livremente sem que algo grave aconteça?
Algumas ações simples de prevenção e cuidados podem ser feitas. Por isso, a pedagoga da área de desenvolvimento infantil da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança, Priscila do Rocio Costa, fala a respeito da importância dos espaços seguros para as brincadeiras.
Priscila do Rocio Costa - pedagoga da área de desenvolvimento infantil da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança
ENTREVISTA COM: Priscila do Rocio Costa, pedagoga da área de desenvolvimento infantil da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança.
Os espaços seguros são garantidos por lei. Priscila, você poderia explicar um pouco isso?
Sim, as crianças são cidadãs e sujeitas de direitos, dentre eles o de brincar, que é um direito garantido por leis e preconizado pela ONU desde 1959, na Declaração Universal dos Direitos da Criança. Aqui no Brasil, nós temos documentos como a Constituição Federal Brasileira, Estatuto da Criança e do Adolescente, Leis de Diretrizes e Bases da Educação e o Marco Legal da Primeira Infância, de 2016. E não é à toa que existem leis para assegurar esse direito. Elas existem exatamente porque é comprovado que brincar é uma necessidade para o desenvolvimento e aprendizado das crianças. Faz-se necessário, então, que toda sociedade haja em conjunto e garanta a todas as crianças o direito a brincar, além de que lutem por esses espaços seguros e estimulantes para brincar, afastando cada vez as crianças da vulnerabilidade e dos riscos.
Como criar diversos espaços e materiais para que as crianças brinquem com liberdade de escolha?
Programa de rádio Viva a Vida 1604 - 20/06/2022 - Espaço seguro para as crianças brincarem
Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra
Criar ambientes seguros de acordo com a faixa etária, dando a chance da livre escolha e como e quando brincar, mostra respeito do adulto pela criança. Muitas vezes os pais, ou quem cuida da criança pensam que precisa de brinquedos comprados, mas podemos oferecer objetos e materiais que temos em casa, por exemplo, uma caixa de papelão, colheres de pau, panelas, potes com tampas, porque para a criança tudo vira brinquedo e quando há a livre escolha, estamos ajudando-a a se desenvolver.
Como devem ser esses espaços para que as crianças brinquem em segurança?
Devem ser atrativos, que chamem a atenção das crianças. Organizar os ambientes com brinquedos e propostas de brincadeiras em diferentes níveis e de modo acessível às crianças, de forma que atenda à amplitude corporal e gestual delas de acordo com a idade. Nós precisamos oferecer materiais que proporcionem construções desafiadoras, porém, seguras para todas. É necessário a livre escolha delas, de com que e como brincar, de brincar com outras crianças. E nós, adultos, também precisamos brincar junto com elas, oferecendo ajuda quando preciso e de acordo com as demandas nas construções, incentivando a criatividade, mas não fazer tudo por elas, isso incentiva ao desenvolvimento da autonomia. Planejar atividades por faixa etárias, quando é um grupo grande de crianças, por exemplo, combinar regras para que os maiores respeitem o espaço dos menores e planejar que as atividades aconteçam, envolvendo a interação das crianças com todos de forma atrativa, divertida e segura.
Como uma família pode reconhecer que um ambiente não é seguro para a criança brincar?
As famílias, os pais, ou quem cuida das crianças, precisam estar sempre atentos aos riscos. Então, o brinquedo que pode machucar, pecinhas que podem ser engolidas, principalmente crianças menores que têm a tendência de colocar objetos pequenos no nariz, na boca, isso pode ser aspirado, pode ser engolido e causar um sério risco de afogamento. Quando levam a criança em parquinhos, em praças com equipamentos que tenham a estrutura fragilizada pela ação do tempo ou mau uso, não deixe que as crianças brinquem nesses brinquedos onde gere risco. E alertem a prefeitura para que faça a manutenção desses equipamentos e do local. O brincar é um direito garantido por lei, então, o poder público precisa criar espaços de lazer, mas também precisa cuidar da manutenção para que esses espaços sejam seguros. Outras situações também podem ser em casa, fora de casa, que a criança está brincando no entorno, às vezes próxima de represas, rios, poços, cisternas, cuidar para que a criança nunca fique sozinha, para evitar acidentes. São vários tipos de acidentes que a gente precisa sempre estar prevenindo para que não aconteça. Nas oficinas de construção de brinquedos, a gente trabalha com tesouras com ponta, cola quente. Esses objetos nunca devem ficar ao alcance livre das crianças. O adulto, brinquedista, brincador, a família que está ali, precisa estar sempre supervisionando.
No passado, a rua era o lugar privilegiado para as crianças brincarem em grupo e para a socialização e aprendizagem com os outros. Hoje, a Pastoral da Criança incentiva que se organize as Ruas do Brincar. Priscila, como é feito isso?
Devido às mudanças e transformações da sociedade, com o aumento da violência e do trânsito, e até mesmo a rotina que passou a ser mais corrida, as crianças estão tendo uma tendência maior de permanecer dentro de casa e isso acarreta um comportamento mais sedentário, principalmente quando passam maior tempo em frente da TV ou no celular. E isso a gente sabe que afeta muito a saúde e o desenvolvimento delas e quanto mais brincadeiras saudáveis, mais atividades físicas, mais interação social e contato com a natureza, melhor será. Portanto, a Ruas do Brincar são importantíssimas para que possamos garantir esses benefícios. O ideal é que as comunidades façam um planejamento do dia, do local e que essa rua, ou espaço, seja seguro para desenvolver essas atividades, permitindo que elas escolham suas brincadeiras, explorem o mundo e deem diferentes significados a suas experiências. A criança busca sempre alternativas para que o brincar aconteça, seja ocupando ruas, calçadas, dentro de casa, fora de casa, em parques e praças. É importante considerar que elas, de fato, busquem alternativas sadias, que o brincar seja prazeroso e que possamos, assim, garantir a segurança, além de promover oportunidades para todas as crianças e suas famílias.
Leia a entrevista na íntegra: 1604 - 20/06/2022 - Espaço seguro para as crianças brincarem (.PDF)
16º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável
“Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.”
A fim de promover os benefícios da brincadeira no desenvolvimento infantil, a Pastoral da Criança trabalha em ações e promove espaços adequados para que as crianças brinquem à vontade e com segurança. A brincadeira na infância reflete diretamente na qualidade da saúde e no estilo de vida ativo dos adultos.
Dra. Zilda
“Quando você ensina as mães e famílias a cuidarem melhor dos filhos, você está construindo um mundo melhor, mais justo e fraterno para essas crianças”.
Papa Francisco
“O amanhã pertence às crianças que protegemos hoje”.