A pandemia do novo coronavírus mudou a rotina do mundo e trouxe inúmeras dificuldades e desafios para a maioria dos países. Além de todos os problemas relacionados com o vírus em si, a pandemia está provocando efeitos graves em muitas outras áreas da saúde, como é o caso da materno infantil.
Um recente relatório das Organizações das Nações Unidas (ONU) sobre a Estratégia Global para a saúde das mulheres, crianças e adolescentes, apontou situação bastante preocupante desta população nos últimos anos e que deve ser agravada ainda mais pela pandemia.
Segundo publicação da Revista Lancet, em muitos países os serviços de saúde estão comprometidos e o apoio social e financeiro para a população carente está sendo insuficiente. Muitos profissionais de saúde que trabalhavam na atenção básica foram realocados para ajudar no combate a COVID-19, prejudicando atendimentos essenciais de saúde.
O relatório citado acima ainda traz uma estimativa assustadora sobre o aumento mortes maternas e infantis em países de baixa renda devido a pandemia. Dentre as principais condições relacionadas a este aumento, destacam-se:
- Dificuldades de atendimento no serviço de saúde, como consultas de pré-natal, realização de exames e acompanhamento de rotina de bebês e crianças.
- Vacinação de crianças comprometida, seja pela falta de vacinas ou de atendimento ou ainda pelo medo da família em levar a criança ao serviço de saúde.
- Aumento da desnutrição infantil devido a fome.
- Aumento da pobreza extrema pelas dificuldades de acesso a auxílios financeiros e sociais.
E essa triste situação já é realidade aqui no Brasil. Segundo estudo publicado na revista científica International Journal of Gynecology and Obstetrics, mais de 70% das mortes maternas causadas pela COVID-19 aconteceram aqui. Segundo reportagem da revista Exame sobre esse estudo, a má qualidade do atendimento e falha na assistência à gestantes são possíveis causas e que podem estar relacionadas a "falta de recursos para lidar com situações de emergência e dificuldade no acesso aos serviços de saúde durante a pandemia."
A situação é preocupante e clama por ações urgentes. A Pastoral da Criança já teve diversos relatos de situações como as mencionadas acima em várias comunidades do Brasil.
Dessa forma, todos os que atuam na Pastoral da Criança, em cada município e comunidade, devem lutar pelo direito das gestantes e crianças e buscar soluções em rede para ser possível superar esses obstáculos.
Abaixo estão dispostas algumas ações que podem contribuir para melhorar a situação:
Líderes:
- Continuar o acompanhamento das gestantes da comunidade, mesmo de forma virtual, utilizando o aplicativo da Pastoral da Criança. O acompanhamento frequente permite ao líder, além de passar orientações importantes, saber da situação atual da gestante, se a família está passando alguma necessidade e também se ela está tendo dificuldades em fazer ao pré-natal ou exames no serviço de saúde.
- Continuar o acompanhamento das crianças da comunidade, mesmo de forma virtual, utilizando o aplicativo da Pastoral da Criança. Dessa forma o líder mantém o contato com a família, consegue passar orientações importantes conforme a necessidade, fica ciente se estão precisando de alguma ajuda e se estão tendo dificuldades com o serviço de saúde (consultas de rotina e emergência, vacinação e outros).
- Apesar do foco serem as gestantes e crianças, é fundamental o líder ficar atento a todos os que moram na casa visitada. Todos da família são afetados quando alguém está com problemas de saúde, incluindo crianças. Dessa forma, é importante que o líder verifique se alguém da família não está bem, o que já tentou (consulta, automedicação) e se precisa de solidariedade da comunidade para se cuidar.
- Se informar sobre a atuação do serviço de saúde local para repassar informações importantes para as famílias acompanhadas.
- Manter contato próximo com o articulador de saúde da paróquia, ou com o coordenador paroquial, para atuarem em conjunto na solução dos problemas encontrados.
- Ir em busca de parcerias e apoio para a formação de uma rede de solidariedade em cada comunidade. De forma unida e contando com a experiência e conhecimento dos envolvidos fica mais fácil enfrentar os desafios e buscar as soluções que as famílias da comunidade precisam.
Articuladores de saúde:
- Estar informado da situação do serviço de saúde local e buscar redes de apoio para tentar solucionar as dificuldades encontradas.
- Cuidar para que as Unidades Básicas de Saúde do município continuem:
- Identificando rapidamente e cuidando dos casos suspeitos de COVID-19.
- Evitando o risco de transmissão de contatos e mobilizando a comunidade para que estimule os possíveis contaminados a se isolarem.
- Mantendo os cuidados médicos essenciais não só para crianças e gestantes mas também para outras enfermidades cuja falta de acompanhamento representa risco de vida.
- Mantendo a comunidade informada sobre os níveis de contaminação no bairro, sem expor as pessoas infectadas, bem como o número de recuperados da doença.
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- Manter contato próximo com os líderes da paróquia, pelo correio do aplicativo, para conhecimento e apoio em relação à situação das famílias da comunidade.
Importante mencionar que devemos conviver com o coronavírus por muito tempo ainda e mesmo que surja uma excelente vacina e que esteja disponível para todos, ainda poderão haver novos surtos mesmo com a cobertura vacinal alta, assim como aconteceu com o sarampo em 2019. Dessa forma é preciso atuar de forma contínua para garantir a saúde das famílias em todas as suas dimensões.
Sabemos que o desafio é grande mas precisa ser vencido. Com a atuação de cada líder, dos articuladores e de todos que colaboram com a Pastoral da Criança em todo o Brasil, será possível enfrentarmos esses obstáculos e assegurar que as famílias, em especial as gestantes e crianças, tenham seus direitos preservados.
Como disse o Papa Francisco “Não é suficiente dizer que somos cristãos. Devemos viver a fé não só com as nossas palavras, mas com as nossas ações.”
Portanto nós, como cristão missionários na Pastoral da Criança, precisamos lembrar e atuar diariamente em nossa grande missão “Para que todas as crianças tenham vida e a tenham em abundância”.
Para inspirar:
“A medida da grandeza de uma sociedade está na forma como trata aos mais necessitados, aqueles que não têm nada, mais que a sua pobreza.” Papa Francisco
“A indiferença para com os necessitados não é aceitável para um cristão.” Papa Francisco
Fontes:
- Relatório ONU: women's, children's, and adolescents' health in the context of UHC and the SDGs
- Lancet: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)31520-8/fulltext
- International Journal of Gynecology and Obstetrics: https://obgyn.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ijgo.13300
- Revista Exame: https://exame.com/ciencia/brasil-e-o-pais-que-mais-concentra-mortes-por-covid-em-gravidas/