1661 familias de imigrantes como acolher entrevistas

 Foto: Acervo da Pastoral da Criança

São muito as dificuldades deste público, tanto para usar o serviço de saúde, quanto de educação e moradia. Também, na maioria das vezes, acabam dormindo na rua, porque as casas de acolhimento estão cheias.

A diversidade nas escolas remete a proposta de inclusão de alunos, de diferentes culturas, idiomas e valores, para convivência e interação na esfera educativa. No Brasil, aumenta cada vez mais a quantidade de estudantes imigrantes e refugiados.

É por isso que a Pastoral da Criança trabalha em ações a fim de inserir esses imigrantes, pois é importante que a instituição tenha uma gestão de acolhimento preparada.

ENTREVISTA COM: Padre Alfredo José Gonçalves, missionário escalabriniano, cujo Carisma é trabalhar pelas migrações e pelos refugiados. Padre Alfredo é vice-presidente do Serviço Pastoral dos Migrantes, ligado à CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. 

De onde vêm e qual é a situação das famílias imigrantes que chegam atualmente ao Brasil?

As famílias que mais estão chegando agora vêm da Venezuela, vêm de Angola, por exemplo. Do Haiti, continua chegando. Chegam afegãos e de outros países da África, especialmente do Senegal. Todas essas famílias vêm muito quebradas. As pessoas deixam o seu país, mas não sabem exatamente onde vão se enraizar. Normalmente, começam bater em várias portas. Se a gente vê o caso dos venezuelanos e dos haitianos, eles batem em vários países, eles ultrapassam várias fronteiras e, normalmente, não encontram um lugar estável.

Isso tem a ver com o trabalho. Em séculos passados com as migrações históricas, migrações e trabalho andavam de mãos dadas. As pessoas migravam porque já tinham alguém que lhes dava trabalho, uma terra onde poderiam viver, como é o caso dos italianos no sul, dos alemães, dos poloneses, etc. Hoje, não é assim. As pessoas migram sem nenhuma possibilidade de trabalho e muitas não conseguem trabalhar naquela área para a qual se prepararam. Então, nós vemos muitos estudantes, por exemplo, já formados que chegam aqui e não podem revalidar o seu diploma e, portanto, não podem trabalhar naquele ramo para o qual se prepararam. Isso compromete muito a situação e a segurança das famílias: segurança alimentar, segurança na saúde, segurança na moradia, no trabalho. Normalmente, são pessoas que enfrentam uma série de dificuldades.

Como é a saúde mental e emocional dessas pessoas que precisam abandonar a sua pátria pelos mais diversos motivos?

Cada vez mais a gente vem recebendo pessoas que chegam transtornadas. Cada vez mais são requisitados os serviços de assistência psiquiátrica, psicológica. Cada vez mais as pessoas estão desorientadas, perderam suas referências essenciais e, chegando aqui, às vezes, sozinhas, estão completamente transtornadas e precisam de uma acolhida muito especial para conseguir ir para frente, para conseguir realmente se virar na vida, não é? Então, a saúde mental é cada vez mais um problema para aqueles que estão recebendo imigrantes nas casas de migrantes. A gente recebe gente que realmente está perdida, está completamente fora de órbita, como se diz, e perdeu completamente as referências essenciais.

Quais são as principais dificuldades enfrentadas pelos imigrantes no Brasil?

Viva a VidaPrograma de rádio Viva a Vida 1661 - 24/07/2023 - Famílias de imigrantes: como acolher

Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra

Muitas dificuldades para usar o serviço de saúde, de educação, de moradia, etc. e também, normalmente, acabam dormindo muitas vezes na rua, porque as casas estão cheias. Às vezes, eles não têm como se inserirem no mercado de trabalho. Ou então, se inserem num grau muito inferior àquele para o qual se prepararam. Enfim, as migrações, hoje, constituem um fenômeno muito mais precário do que décadas atrás.

Na sua opinião, o que é preciso ser feito para mudar essa situação?

Eu creio que o mais importante hoje é não só a acolhida, não só o coração aberto, a casa aberta, a paróquia, as instituições abertas, mas também a pressão de todos aqueles que defendem os direitos humanos dos migrantes no sentido de conseguir políticas públicas voltadas especificamente para os migrantes: políticas públicas de acolhida, de inserção de trabalho, de tradução dos diplomas de outras línguas para o português, para que os imigrantes possam utilizar a sua profissão e a sua formação profissional. Também, por exemplo, a prova para a requisição da cidadania de permanência que seja feita não por escrito, mas oral. Muitos migrantes se comunicam bem oralmente, mas quando se pede uma prova escrita têm muitas dificuldades. Então, o que é mais importante, eu penso, é que se crie um setor de Políticas Públicas voltado para os imigrantes, não com a perspectiva da segurança nacional, como é em geral as políticas públicas de todos os países, e sim na perspectiva dos direitos humanos, da defesa dos direitos humanos. Isso é o mais importante para aqueles que estão fora da sua pátria. Que eles se sintam cidadãos em qualquer lugar onde chegam e que possam usufruir do novo recomeço, recomeçar sua vida que isso é a parte mais difícil, mais importante que eles necessitam.

ENTREVISTA COM: Elias De Nardi, Coordenador Diocesano da Pastoral do Migrante da Diocese de Chapecó, Santa Catarina

Que tipos de acompanhamentos as crianças imigrantes recebem?

São muitos acompanhamentos. Quer dizer, o acompanhamento da Pastoral da Criança é um acompanhamento, as secretarias de educação, de saúde. Aí vai depender também de cada cidade, de cada lugar onde elas chegam, lá vão ter mais ou menos acompanhamentos, dependendo da estrutura, porque não são só as crianças imigrantes que sofrem, mas também as crianças brasileiras. A gente sabe que muitas também não têm acesso a uma vida digna aqui no nosso país. Mas sim, têm muitas instituições ou várias, podemos dizer, que se preocupam com elas e que buscam dar um apoio aos seus familiares e, principalmente, às crianças.

Em que condições chegam e como vivem as gestantes imigrantes que vêm ao Brasil?

A migração em si é um drama quando é algo não voluntário. E geralmente o migrar não é algo voluntário. As pessoas saem dos seus países, do seu lugar onde nasceram porque não encontram trabalho, não encontram saúde e educação. E para as gestantes é um drama um pouco maior ainda, porque elas já vêm com uma vida gerada geralmente no seu país e saem em busca de algo para elas e para seu filho. E o nascer é um direito. Então, buscar esse direito em outro país é um drama, como podemos dizer assim. Então, a situação dessas pessoas, claro, é bem mais delicada, tendo em vista que são duas vidas que estão cruzando uma fronteira: uma para nascer e a outra para sobreviver, buscando sobreviver em outro país.

 

Leia a entrevista na íntegra

1661 - 24/07/2023 - Famílias de imigrantes: como acolher (.PDF)  

 

1616º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável

"Paz, justiça e instituições eficazes: promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis."

Os líderes comunitários, sensíveis ao sofrimento humano, procuram ser uma presença acolhedora e solidária junto aos imigrantes, principalmente junto às famílias, crianças e gestantes.

 

Dra. Zilda

“O trabalho social precisa de mobilização das forças. Cada um colabora com aquilo que sabe fazer ou com o que tem para oferecer. Deste modo, fortalece-se o tecido que sustenta a ação e cada um sente que é uma célula de transformação do país”.

Papa Francisco

“Trabalhamos para que toda a migração possa ser fruto de uma escolha livre, somos chamados a ter o maior respeito pela dignidade de cada migrante, construindo pontes e não muros.”