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Foto: Joana Pereira - Jaciara (MT)

Para as mães que trabalham fora, quando o período de licença-maternidade vai chegando ao fim e é preciso se organizar para voltar ao trabalho, vem à tona a questão: deixar o bebê com familiares ou na creche? Nem sempre a família tem as duas opções, então é preciso tomar todos os cuidados possíveis dentro das possibilidades.

Em muitas regiões, não há instituições de educação infantil para atender a todos. “Há creches sim, mas não o suficiente. Muitas mães precisam ficar na fila de espera mais de um ano para conseguir uma vaga! As mães precisam voltar ao trabalho, mas não têm com quem deixar seus bebês. Então, contratam suas vizinhas para este papel. Além do custo extra no orçamento, que dificulta a vida delas, estas pessoas muitas vezes não são preparadas para a função de babás, tenho visto até menores de idade cuidando de bebês”, relata a capacitadora e multiplicadora Belenaura Rodrigues, da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, comunidade Santo Eugênio, na capital de São Paulo.

Ela não é a única com esta preocupação. A líder Ana Maria Perin Nunes, também da capital paulista (no bairro Ipiranga), conta que “algumas vezes as crianças são mandadas para uma creche muito longe da moradia”. Mas, de modo geral, não há reclamação em relação ao ambiente, higiene e profissionais. Como na maioria dos lugares, “a maior preocupação das mães é ter que se separar tão cedo das crianças”, observa.

Para que seja mais tranquila a fase de adaptação e, depois, de convivência com a instituição de ensino, Belenaura orienta: “Do ponto de vista dos pais, é importante cuidar da emoção da mãe, principalmente, que por vezes sofre muito por deixar seu filho num berçário ou creche! Reforçar com as mães que, tomando os cuidados de verificar as condições do local e dos funcionários, seu filho terá a oportunidade de conviver com crianças de sua idade, de brincar e se divertir. E assim aprender a conviver em sociedade e muito mais... Tem o lado bom disto para a criança”.

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Foto: Joana Pereira - Jaciara (MT)

Oportunidades para brincar, socializar e se desenvolver

Independentemente de ser em casa (na presença dos pais ou outros familiares) ou em berçários e creches, o que importa para a criança é ter condições favoráveis para se desenvolver e ser bem cuidada. Por isso, na hora da decisão, é preciso levar em conta diversos fatores.

“Tínhamos um menino, acompanhado pela Pastoral, que era cuidado por vizinhas da família, pois os pais trabalhavam fora. Esse menino não ganhava peso, vivia doente e apresentava dificuldades nos IOCs [indicadores de oportunidades e conquistas]. Depois de muita luta, a mãe conseguiu uma vaga numa creche municipal. Quase que imediatamente, o menino ganhou peso, os problemas de saúde desapareceram e o desenvolvimento dele hoje é normal”, lembra a líder Graça Ribeiro, de Santo André (SP), destacando a importância do preparo de quem fica cuidando da criança na ausência dos pais.

A importância de profissionais competentes e de confiança

A pedagoga e orientadora educacional Joana D'arc Lucio Pereira, do Mato Grosso, tem uma visão crítica, de profissional e também de voluntária: “Em Jaciara, onde moro e trabalho em uma creche como professora, posso afirmar que as instalações físicas das instituições ainda deixam muito a desejar. Falta muito pra contemplar o que rege nos referenciais curriculares da educação infantil. Porém, existem professores e auxiliares bem capacitados para o cargo. A queixa maior por parte da comunidade é a falta de vagas. Na época de matrículas, formam grandes filas e alguns chegam a acampar por três dias nas dependências das instituições”.

Enquanto essa situação não é resolvida para todos, Joana continua trabalhando pela qualidade do que já é realizado, pensando no bem estar da família. “Eu, como Pastoral da Criança, procuro tranquilizar os pais e informar sobre as vantagens dos filhos frenquentarem as creches, principalmente no que refere a um melhor desenvolvimento, socialização, construção da autonomia e momentos do brincar. E também o quanto contribui para que a mãe possa trabalhar fora e construir a sua independência”, orienta.

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Foto: Joana Pereira - Jaciara (MT)

Direito da criança, não apenas da mãe trabalhadora

Apesar de se tratar de um direito da criança – seja de pais trabalhadores ou não –, percebe-se quando se fala em bercário ou creche, geralmente o aspecto mais lembrado é a falta de vagas nos espaços públicos dedicados à educação infantil. “O conselho que damos as mães é fazer o cadastramento ainda na gestação. Algumas mães recorrem ao Ministério Público. Recentemente fizemos uma Roda de Conversa com um Conselheiro Tutelar, que orientou as mães como proceder para fazer valer esse direito”, compartilha a líder Graça.

Que ainda há muito a se construir, para que haja condições adequadas em qualquer região do país, muita gente sabe. E essa demanda não é apenas de uma família aqui e outra acolá, mas sim da comunidade como um todo, comprometida com o desenvolvimento de suas crianças. Como a Pastoral da Criança pode colaborar nisso, com atenção não apenas na quantidade de espaços, mas também na qualidade?

Dra. Zilda

“A criança tem direito de brincar, que é fundamental para se desenvolver bem; tem direito de ser bem tratada onde estiver, com o maior respeito pela família e na comunidade. A criança que é respeitada aprende a respeitar e se torna cidadã, isto é, aquela pessoa que cumpre com suas obrigações e procura que seus direitos sejam cumpridos”.

Papa Francisco

“Precisamos ver cada criança como um presente a ser saudado, acarinhado e protegido”.

“É importante a representatividade da Pastoral da Criança nos Conselhos da Criança e do Adolescente, da Saúde, etc. Anos atrás, tinham poucas vagas em creches, as mães não tinham onde deixar os filhos e sempre ficava para os avós cuidarem. Hoje, o nosso município já tem creche, com ótimas condições de higiene e nutricionista acompanhando a alimentação das crianças. Os pais vão para o trabalho despreocupados, pois sabem que têm profissionais qualificados para cuidar dos seus filhos. Temos que participar tendo voz e voto, aí as coisas acontecem”, afirma Osnilda Kniess Inacio, que atua como agente comunitária de saúde e faz parte da Pastoral da Criança em Salete, Santa Catarina 

A coordenadora de área e articuladora de saúde Sonia Garcia, de Guarujá (São Paulo), concorda que presença dos líderes nas instâncias de discussão e observação de políticas públicas é importante, para que levem para frente o que aprenderam. "Atualmente, faco parte do Conselho de Alimentacao Escolar (CAE). Fazemos visitas em creches e escolas, verificando a qualidade da merenda e assim também colaboramos com nossos ensinamentos”, analisa.

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Conhecer e participar para melhorar

Muitas vezes, o que falta para melhorar a qualidade do espaço é diálogo e mais informação, para que pais e profissionais ofereçam as melhores condições para a criança. “Na creche de um dos bairros da minha área, consegui fazer com que a direção autorizasse a mãe ir amamentar na creche”, revela Maria Alice do Carmo Ferro Martinez – líder, capacitadora e multiplicadora em Araraquara (São Paulo) –, demonstrando que às vezes o que parece óbvio (a possibilidade de um cuidado muito importante) precisa ser conquistado.

Esse trabalho de compartilhar e multiplicar informação que vira ação prática faz parte da Pastoral da Criança. A iniciativa de conhecer sempre mais, pensando no cuidado da criança de maneira integrada aos espaços da cidade, é que gera transformações.