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Foto: Acervo da Pastoral da Criança

Cada vez mais a ciência nos mostra evidências da importância dos primeiros 1000 dias de vida do ser humano. O que ocorre de positivo ou negativo neste período pode gerar impactos em curto e em longo prazo. E essa é a área de estudo da epigenética, que nos últimos anos passou a ser cada vez mais pesquisada. Segundo o Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard, a epigenética mostra como as influências ambientais realmente afetam a expressão dos genes. Em outras palavras, como as experiências iniciais na infância podem favorecer ou evitar o aparecimento de algumas doenças crônicas ao longo da vida. São vários os fatores ambientais que podem exercer influência negativa nesse período, como a má alimentação, condições de vida ruins, circunstâncias estressantes contínuas, como a violência e a negligência, entre outras. O impacto desses fatores na saúde, crescimento e desenvolvimento infantil pode se tornar permanente se não houver uma intervenção rápida e eficaz. Diante dessas evidências, é preciso reforçar que a gestação e os primeiros anos de vida da criança é uma especial janela de oportunidades para construir seres humanos saudáveis e que consigam atingir seu pleno potencial de desenvolvimento. Na entrevista a seguir, a nutricionista Caroline Dalabona, da equipe técnica da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança, fala sobre os primeiros 1000 dias e as repercussões da pandemia neste período.

O que compreende esse período dos primeiros mil dias de vida do bebê?

Compreende o período da gestação, que gira em torno de 270 dias; o primeiro ano de vida do bebê, 365 dias; mais o segundo ano de vida do bebê, mais 365 dias. Se somarmos esses 365 + 365 + 270, nós temos os primeiros mil dias de vida da criança.

Por que esses primeiros mil dias de vida são tão importantes?

Esse período é tão importante porque a ciência, as pesquisas, nos mostram que o que acontece tanto de bom quanto de ruim nesse momento da vida gera repercussões pelo resto da vida dessas crianças. A gente já tem evidências suficientes de que, por exemplo, uma mãe que é subnutrida, que fuma durante a gestação, provoca na criança uma mudança no crescimento e no desenvolvimento dos órgãos dela durante a gestação que, lá no futuro, pode gerar o surgimento de doenças crônicas.

Viva a VidaPrograma de rádio Viva a Vida
1559 - 09/08/2021 - Primeiros mil dias de vida


Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra

A nutrição da gestante é fundamental nesse período dos mil dias. Agora, durante a pandemia, muitas gestantes têm dificuldade de acesso a uma boa alimentação. O que fazer?

Realmente, a nutrição da gestante, a alimentação da gestante, é primordial para o desenvolvimento do bebê. Nesse período de pandemia em que a gente está percebendo o aumento da fome e que muitas gestantes, talvez, estejam passando fome, é preciso agir com urgência. A gente precisa cobrar do governo as suas urgências, a gente precisa fazer uma força-tarefa local, comunitária, para que essas gestantes tenham acesso a alimentação de qualidade nesse período tão fundamental.

O pré-natal com ou sem covid é muito importante. O que você diria para as gestantes que estão com dificuldades de acesso, ou que estão com receio de comparecer às consultas?

Sem dúvida, nenhuma gestante deve deixar de fazer o pré-natal. Nesse período de pandemia, a gente sabe que muitas estão tendo dificuldades. Nesse momento é preciso também uma união de esforços, conversar com o Conselho Municipal de Saúde, conversar na Secretaria de Saúde, para que essas gestantes não deixem, de forma alguma, de ter acesso a um profissional de saúde que a oriente e que faça o acompanhamento pré-natal. E a gente sabe também que muitas mulheres estão com medo de ir ao serviço de saúde devido à situação da pandemia. O que a gente pode orientar é que com todos os cuidados é possível, sim, fazer o pré-natal sem ter nenhum problema.

Qual a importância do aleitamento materno durante a pandemia e que cuidados são necessários?

caroline dalabona

 Caroline Dalabona

O aleitamento materno é, sem dúvida nenhuma, um dos principais pontos a serem considerados durante os primeiros mil dias de vida. A gente deve, de alguma forma, favorecer sempre o aleitamento materno. Mas, lógico, que neste tempo de pandemia há muita incerteza sobre o aleitamento materno. Mas o que a sociedades científicas, a Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria, orientam é que é preciso continuar amamentando, mesmo que a mãe esteja com covid, tomando todos os cuidados, usando uma boa máscara, lavando muito bem as mãos antes de pegar o bebê. Caso a mãe não se sinta à vontade para dar o peito nesse momento, é preciso que faça a retirada do leite com todos os cuidados de higiene necessários, mas que não deixe de amamentar. Já está comprovado que mães que são vacinadas conseguem transmitir os anticorpos da covid pelo leite materno.

Devido à pandemia, sabemos que muitas crianças estão passando fome. Qual o impacto da fome nos dois primeiros anos de vida?

A fome traz um impacto gigantesco no crescimento e no desenvolvimento dessa criança, especialmente nesse período da vida que é tão sensível e que envolve os primeiros mil dias. O que acontece? A criança quando passa fome acaba consumindo menos nutrientes do que ela precisa. O organismo dela prioriza esses nutrientes para os órgãos vitais para poder mantê-la viva. Isso compromete o crescimento dessa criança. É uma criança que vai crescer em estatura de forma mais lenta. Em alguns casos graves, ela para de crescer. Compromete toda parte de seu desenvolvimento psíquico, motor. Compromete o seu sistema imunológico e gera repercussões, sem dúvida nenhuma, para o resto da vida. Nós temos que unir forças para tratar de forma emergencial e para tentar de alguma forma evitar que o impacto da fome seja ainda maior nas crianças do nosso Brasil.

 

Leia a entrevista na íntegra: 1559 - Os primeiros 1000 dias de vida (.PDF) 

 

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“Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades”

 

Dra. Zilda

“O melhor resultado para a paz nas famílias é cuidar bem das crianças, para que elas tenham oportunidade de se desenvolver, tenham saúde, alegria de viver e fé em Deus.”

Papa Francisco

"As crianças são o futuro da família humana: cabe a todos nós promover o seu crescimento, saúde e serenidade.