Vacinação de criança acompanhada em Maiquinique (BA)
Mesmo sendo um direito da população, imprevistos podem acontecer e atrapalhar a chegada das vacinas em tempo e quantidade ideal nas unidades de saúde. As causas podem envolver questões de produção ou a falta de planejamento em alguma das instâncias envolvidas no caminho da vacina, desde o governo federal até o município. Confira o infográfico com este fluxo completo, nas páginas centrais da quarta edição da Revista Pastoral da Criança.
Bom exemplo de diálogo em Duque de Caxias (RJ)
A líder Ivani Batista, do município de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, mora perto de um posto de saúde e, sempre que ouve alguém dizendo que não conseguiu tomar vacina, faz questão de ir pessoalmente até lá para verificar se realmente não tem, o porquê e quando terá novamente. “Tenho um ótimo relacionamento com as agente de saúde, então sempre que tem alguma reclamação eu procuro ir até eles e verificar”, relata. Ela conta que 2015 foi um ano muito difícil, principalmente para as gestantes, pois além das vacinas, faltavam também médicos suficientes para o pré-natal, situação que se repetia em diversos lugares do estado. Neste ano, a situação das vacinas já melhorou, e a pedido de uma das enfermeiras do posto, a Pastoral da Criança ajuda a combinar com as mães dias marcados para poder abrir cada lote e usar no mesmo dia, diminuindo as perdas que aconteciam antes. “A BCG ainda está em falta, mas hoje as crianças já saem da maternidade com essa vacina”, observa a líder, que continua atenta às necessidades das famílias que acompanha e à qualidade do serviço de saúde mais próximo.
Dra. Zilda
“Em cada situação, os líderes da Pastoral da Criança vão demonstrando ser verdadeiros discípulos missionários”.
Papa Francisco
“Como cristãos, membros da família de Deus, somos chamados a ir ao encontro dos necessitados e servi-los”.
O papel do articulador de saúde
O articulador de saúde da Pastoral da Criança é um voluntário que tem a função de ser ponte entre a população e o serviço de saúde na comunidade, a partir das necessidades sentidas pelas pessoas. Está atento à qualidade do serviço (incluindo, por exemplo, exames, falta de medida de curva uterina, vacinas, medicamentos, suplementos de ferro e ácido fólico). Também promove a campanha “Antibiótico: primeira dose imediata” e busca a melhoria de condições para evitar doenças e mortes. O trabalho é feito a partir do contato com as autoridades, participação nos Conselhos de Saúde e demais instâncias locais envolvidas com os serviços que estão com problemas. Muita coisa pode ser resolvida com diálogo e boa vontade de todos os lados. Quando não é possível chegar a soluções, o articulador pode contar com o auxílio da coordenação nacional. Essa é uma ação complementar, que contribuiu para a defesa do direito à saúde, com atenção prioritária ao atendimento das crianças e das gestantes. Atualmente, está se estudando uma reformulação da ação, para que este voluntário esteja preparado para defender os direitos das comunidades como um todo e passe a atuar como um articulador de direitos.
União de forças em Ourilândia do Norte (PA)
Mesmo os municípios em que estão com bom funcionamento podem ter articuladores para melhorar o relacionamento com os líderes e com a população, convidando os profissionais de saúde para fazer palestras na Celebração da Vida, por exemplo, e orientar as famílias sobre um tema que está gerando muitas dúvidas. É o que acontece com a articuladora Edicléia Lopes, em Ourilândia do Norte, no Pará. Ela é enfermeira do município e, desde 2013, colabora com a Pastoral da Criança. Já realizou capacitações com líderes da cidade e participou de outras atividades com os pais e crianças, convidando até mais colegas de trabalho. Hoje, ela atua como coordenadora do Programa de Agentes de Saúde no município e ajuda a divulgar entre eles também as ações pastorais. “Um soma com o outro. A Pastoral da Criança está sempre em contato, troca orientações, faz treinamentos. As líderes são muito participativas na vida da comunidade”, conta. No caso recente de falta de vacinas, ela ouvia atentamente as famílias e voluntários e levava as preocupações para suas chefias, ajudando a esclarecer os motivos da falta, planejar a resolução e agendar a vacinação para quando as vacinas chegassem. No mês de abril, o posto em que trabalha já estava com o estoque normalizado. Todos os dias há vacinação para gestantes. Para as crianças, ela ajuda a divulgar os dias em que cada tipo de vacina é aplicada.
Reunião da Pastoral da Criança na Guatemala
Mobilização a partir de dados numéricos na Guatemala
Um dos indicadores mais marcantes da caminhada dos líderes da Guatemala está relacionado com a vacinação. Da Pastoral de la Primera Infancia (como é chamada a Pastoral da Criança neste país, que fica na América Central), vem um exemplo de como aproveitar os números disponíveis nos órgãos públicos e no sistema de informação para cobrar os direitos da população.
Por lá, 2014 e 2015 também foram marcados por dificuldades no serviço público. Os principais afetados foram as crianças, já que nem todas tiveram acesso às vacinas, de acordo com o esquema que o Ministério de Saúde Pública e Assistência Social do país estabelece. Na Diocese de San Marcos, diversas ações foram promovidas para tentar reverter esta situação. “Elaboramos cartas para solicitar apoio aos prefeitos auxiliares, para realizar um censo da quantidade de crianças que não contavam com vacinas”, conta a coordenadora diocesana Daylin Orozco. Em seguida, foi pedido que os pais preenchessem formulários indicando os nomes dos filhos e quais vacinas estavam faltando para eles. Nem todos preencheram, mas o que veio de informação já ajudou a analisar a situação. Da Paróquia de San José Ojetenam, saiu uma solicitação ao Centro de Saúde para capacitar animadores sobre o tema das vacinas. Cinco pessoas capacitadas se mobilizaram para ir até as casas verificar as cadernetas de vacinação das crianças, e até encontraram gente que não levava o filho ao posto de saúde por medo de reação da vacina. Na aldeia San Jorge de Malacatán e na comunidade Sutquin, os voluntários pediram que as mães levassem a caderneta na Celebração da Vida. Com estas atitudes, descobriu-se que várias famílias não estavam levando suas crianças até o local onde havia vacina, em um centro do município, já que a distribuição direta aos postos das comunidades estavam prejudicadas. De acordo com os registros do Programa Nacional de Imunizações, em 2015, deixaram de ser aplicadas mais de 363 mil doses a crianças menores de 5 anos (contra difteria, coqueluche e tétano).
De conhecimento de todos esses dados e comparando as porcentagens de crianças acompanhadas pela Pastoral da Criança que ainda estavam sem vacina (um número muito menor que a média nacional), os líderes organizaram uma passeata, para chamar a atenção das autoridades e também do restante da população, conscientizando sobre a importância desta proteção para a saúde. A mobilização se estendeu também para outras dioceses.
Comunicação com a unidade de saúde
No Brasil, nos casos de falta de vacinas, a orientação é que os pais procurem as unidades de saúde e façam o agendamento da vacinação, para garantir o melhor aproveitamento das doses já existentes e garantir que as crianças sejam imunizadas assim que as doses faltantes chegarem aos municípios. “É importante o líder fazer uma visita ao posto de saúde da comunidade que acompanha, para conhecer o serviço, os profissionais que trabalham e os horários de médicos e de vacinas. Assim, quando for visitar a família, pode passar essas informações”, reforça Regina. E, ainda, incentivar a família a não deixar de ir à unidade de saúde por desânimo, para receber outras doses do Calendário de Vacinação que não estejam em falta, bem como participar dos demais serviços, como consultas e exames.
Vale lembrar que o caminho da vacina desde a produção até a chegada nas unidades de saúde passa por muitas instâncias. E é necessário que todas elas estejam comprometidas e assumam suas responsabilidades – inclusive a comunidade, quando percebe que há um problema, precisa se informar sobre as causas, exigir seus direitos e colaborar com a resolução da situação.
3º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável
“Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades”.
Fatores como a mobilização de voluntários na comunidade, como faz a Pastoral da Criança (especialmente no que se refere ao pré-natal e acompanhamento da criança na primeira infância), contribuem para a busca de uma saúde de qualidade para toda a família. Na medida em que a população conhece melhor seus direitos e se envolve mais com os serviços públicos de saúde, tende a exigir qualidade e identificar as falhas mais rapidamente, para buscar soluções com as instâncias responsáveis. A vacinação, por exemplo, é um dos itens de atenção dos líderes comunitários em todos os locais onde há a atuação pastoral.
Parte destas histórias estão na reportagem especial da quarta edição da Revista Pastoral da Criança, que apresenta mais informações sobre o fluxo da vacina (da produção até a população) e o que fazer quando faltam vacinas.