2015 está sendo um ano atípico em várias regiões do Brasil. O país acostumado com água em abundância, desde 2014 vem vendo a crise hídrica se agravar, e em algumas situações, ver a água faltar para a população. O cenário de escassez que antes era uma realidade apenas no semiárido nordestino, chegou à região sudeste, de forma mais grave em São Paulo, e chegou atingir o restante do país, já que a energia elétrica vem, em sua maioria, de usinas hidrelétricas que também sofrem com a estiagem.

O tema vem sendo pautado por organizações que discutem socioambientalismo há muito tempo, mais claramente, desde 1992, ano da ECO-92 e quando foi instituído pelas Organizações das Nações Unidas (ONU), o dia 22 de março como Dia Mundial da Água. De lá para cá, o mês de março é tomado por atividades que discutem o tema, sempre embasados de um tema também definido pela ONU. Em 2015 as reflexões serão em torno de “Água e Energia”. Com a proposta de reunir e divulgar os eventos nacionais relacionados à data, a Agência Nacional das Águas (ANA) criou, em 2008, o site Águas de Março. Nele é possível encontrar a agenda dos eventos que irão discurtir a temática da água em todo o território nacional.

Discussão política

A grave crise enfrentada pela população fez com que os políticos também passassem a olhar com mais atenção para o tema. São pelo menos dez projetos apresentados por deputados e senadores desde o início do ano. A grande maioria traz como justificativa a crise que se agravou nos últimos meses.

lavar as maos

Campanha Lavar as Mãos: informação que salva vidas chega à crianças de todo o Brasil

Água promove saúde

Para o gestor de relações institucionais da Pastoral da Criança, Clóvis Boufler, a discussão sobre a água é importante e urgente: “a água nesse momento [da infância] é saúde para pessoas”. Por este motivo, a instituição tem duas ações que utilizam a água como item principal: a campanha do Soro Caseiro e a campanha que incentiva a lavar as mãos.

A campanha “Lavar as Mãos” foi iniciada em 2008, com envolvimento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), governos, instituições internacionais, organizações da sociedades e empresas privadas. No Brasil a ação acontece através de uma parceria entre Pastoral da Criança e Unilever. A contaminação pelas mãos causa a morte de 3,5 milhões de crianças por ano pelo mundo. “Metade delas poderiam ser evitadas com atos simples, como lavar as mãos”, esclarece Boufler.

Para a Pastoral da Criança, a água é um vetor de transformação social. A campanha do Soro Caseiro, por exemplo, foi uma das responsáveis por diminuir significativamente o número de mortes das crianças atendidas pela instituição. Carro chefe da Pastoral da Criança desde a década de 1980, para o gestor, o soro caseiro “trouxe uma capacidade para as pessoas de abordagem da água de uma maneira revolucionária: o domínio de uma técnica simples para salvar as vidas das crianças”.

Semiárido

Sobre outras ações que contribuam para uma melhor utilização da água, Boufler usa o exemplo da ação realizada no semiárido nordestino: o programa “Um Milhão de Cisternas”, realizado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), uma rede de mil organizações da sociedade civil. Segundo Clóvis, é necessário educar para utilizar a água de forma racional, o que ele acredita que o programa fez, trazendo uma reflexão de que é necessário conviver com a realidade da escassez de água, e não simplesmente lutar contra a seca. “Nas nossas tradições políticas, especialmente no Nordeste, temos muito essa visão: vamos acabar com a seca. Não, ela é um fenômeno natural e vai existir, nós precisamos conviver com ela. De que maneira? Podemos trazer para o aprendizado e valorizar as pessoas. O uso racional para as necessidades essenciais é um exemplo disso”, afirma.