“Parabéns” não irão faltar neste dia 8 de março, assim como flores, presentes e o reconhecimento das mulheres que trabalham, muitas vezes estudam, cuidam de casa, dos filhos e do marido. Se tudo isso está errado? Não. Mas este não é um dia para comemorar, é uma data para refletir.
Em 1911, quando uma fábrica de roupas pegou fogo matando 125 mulheres, durante o mês março, as mulheres de diversas partes do mundo já lutavam por empregos e salários mais justos. Cem anos depois, as mulheres já ocupam os mesmos cargos dos homens, mas ainda com salários mais baixos – apesar dos números indicarem que elas estudam por mais anos que o sexo masculino.
É impossível não reconhecer que hoje, as diferenças são gritantes se comparadas às do início do século passado: hoje as mulheres têm direito ao voto no Brasil; muitas são independentes financeiramente e o casamento passou a ser um direito e não mais uma obrigação; o respeito entre homens e mulheres é (quase) mútuo – ou pelo menos deveria ser... Apesar de todas as transformações, a visão da dependência feminina continua presente: mesmo tendo princípios que a protegem da violência – como a Lei Maria da Penha, considerada pela ONU como uma das três melhores legislações do mundo no enfrentamento à violência contra a mulher –, uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que entre 2001 e 2011, ocorreram mais de 50 mil assassinatos de mulheres, a grande maioria cometida por seus parceiros. No mundo, os dados não são diferentes, 40% são cometidos por parceiros íntimos das vítimas.
Com a instauração da Lei Maria da Penha em 2006, foi possível perceber um pequeno declínio na violência contra as mulheres no ano seguinte. Entretanto, esse número voltou a crescer em 2011, ultrapassando os números de dez anos antes. A taxa de assassinatos, em 2001, era de 5,41 mortes para cada 100 mil habitantes, caiu para 5,02 em 2006, chegou a 4,74 em 2007, mas voltou a subir, chegando a 5,43 em 2011. Esse indicador demonstra que apesar de todas as conquistas, ainda há muito a ser feito.
É preciso mais que parabéns, flores, presentes ou jantares. É preciso olhar para o lado, colocar-se no lugar da mulher, conseguir compreender que, sim, homens e mulheres não são iguais, mas merecem os mesmos direitos: o direito de andar na rua sem sofrer a violência da cantada (não, isso não é elogio); o direito de sair de casa e poder voltar à noite sem o medo do estupro; o direito de escolher quando e com quem se quer conviver; o direito de andar na rua sem seguir padrão de perfeição, sendo apontada por ser magra demais ou por estar acima do peso; o direito de pensar diferente e ser respeitada por isso; o direito de ser escolhida para qualquer cargo sem que seus “erros” sejam considerados erros apenas por ser mulher. Os direitos não são poucos e não cabem todos aqui, mas criar empatia diariamente e pensar em cada situação dessas é um exercício para entender que este dia 8 não é de flores, é de dar as mãos e compreender o que realmente é ser mulher num mundo de machismo incrustado e mascarado.
Foto: Piotr Lewandowski