enfermeira dando banho em bebê recem nascido

Foto: Acervo da Pastoral da Criança

Foi o voluntariado na Pastoral da Criança que fez com que Monica Balsano iniciasse outra profissão: de farmacêutica e bioquímica, ela também passou a fazer parte do time das doulas, mulheres que acompanham mães antes, durante e depois do parto, dando suporte físico e psicológico. De tanto ouvir reclamações das mulheres sobre a violência durante o parto, ela buscou de que forma poderia ajudar mais. “As mães reclamavam que foram maltratas durante o parto. São casos que marcam”, conta.

Há 13 anos como voluntária da Pastoral da Criança, Monica – que é mãe de quatro filhos e sofreu com complicações em todos os partos e para amamentar – dá palestras para grupos de gestantes que acontecem nas paróquias de Ponta Grossa, Paraná. Em 2008, uma época em que ainda se falava pouco sobre a violência obstétrica e os direitos da mulher durante o parto, a farmacêutica se inscreveu em um curso para se tornar doula. Desde então, além de participar das palestras, ela acompanha de perto algumas mães. As escolhidas geralmente são mulheres que já sofreram violência obstétrica, ou são muito novas e apresentam muitas dúvidas. São as líderes que fazem o acompanhamento à gestante, que indicam as mães que precisam deste apoio.

“Nunca vi uma mãe tão feliz depois do parto”

O caso mais marcante para a doula foi de uma mãe que estava na segunda gestação, mas demonstrava uma ansiedade fora do comum com o que poderia acontecer na hora do parto. E ela tinha motivos: no primeiro parto, a médica que a atendia, ao fazer a episiotomia (corte no períneo), atendeu o celular e acabou fazendo um corte além do necessário, atingindo o intestino da mãe. O erro acabou levando a mãe para uma nova cirurgia e para a UTI. Com todas as complicações, apenas seis meses após o nascimento do filho, ela pôde segurá-lo em seus braços. Com o acompanhamento de Monica, e a participação no grupo de gestantes promovido pela Pastoral da Criança na Diocese de Ponta Grossa, a mãe teve o segundo parto de forma natural, sem episiotomia e outras intervenções. “O parto dela foi lindo. Nunca vi uma mãe tão feliz depois do parto”, conta.

Segundo Monica, relatos de violência acabam sendo comuns. Entretanto, não é por isso que devem ser tratados como normais. Através das palestras, as voluntárias da Pastoral da Criança indicam às mães seus direitos durante o nascimento dos filhos, e orientam a relatarem o parto por escrito, caso sofram algum tipo de violência. Este material pode ajudar a embasar processos, caso seja necessário. “Precisamos fazer alguma coisa”, declara Monica.

Dra. Zilda

“É o melhor e mais abençoado dos trabalhos porque é feito com puro amor, dedicação total, fé em Deus, procurando sempre aprender mais para ensinar mais, nessa rede de solidariedade humana”.

Papa Francisco

“A fecundidade da fé expressa-se na solidariedade concreta para com os nossos irmãos e irmãs, independentemente da sua cultura ou condição social”.

Exemplo que vem de casa

Para Mariana Letícia Schram Dodamese, as pessoas acabam tendo “uma quedinha pela cesárea”. Apesar disso, o parto de seu primeiro filho, em 2014, foi sem anestesia ou outras intervenções. “Sempre tive a certeza de um parto natural. Não existia a possibilidade de escolher cesárea”, relata. Ela afirma que buscou informações desde o início da gravidez, e com dez semanas, trocou de médico e foi em busca de um que respeitasse sua opinião. “Corri atrás de um médico que fizesse um parto normal”, brinca. Para ela, o acompanhamento médico e o parto sem preocupações foram os responsáveis por um “pós-parto bem tranquilo”.

O interesse de Mariana pelo parto normal talvez tenha sido influenciada pela avó, Lourdes Menon Schram, voluntária da Pastoral da Criança desde 1990. Atualmente como coordenadora da Diocese de Cascavel (PR), a avó conta que a neta recebeu acompanhamento das líderes da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, e além do parto normal, “também amamentou os seis meses exclusivamente com leite materno, sem água ou chá. E a alimentação super natural, como a Pastoral orienta. Meu bisneto Breno Artur é a maior graça”, conta.

Cesárea: só quando for necessário

O medo da dor, a influência da família e do médico. Estes são alguns dos motivos pelo qual algumas gestantes acabam optando por uma cesárea quando não há necessidade. Conforme a indicação da Pastoral da Criança, o ideal é que o parto aconteça de forma natural, quando a criança se sente preparada para nascer, respeitando o tempo dela. Isso é importante para evitar complicações desnecessárias, como o bebê nascer com baixo peso, o que pode acarretar outros problemas até na vida adulta.

Em Corumbá, Mato Grosso do Sul, uma gestante foi avisada pelo médico que teria seu primeiro filho através de uma cesariana, apesar da gestação estar evoluindo normalmente. Como ela estava sendo acompanhada desde o início da gravidez por líderes da Pastoral da Criança, ela já havia recebido algumas cartelas do Laços de Amor e orientações sobre o momento do parto. “Eu havia passado as informações sobre o bebê e as contrações do parto, para não ter medo. Para ela ter muita confiança em si mesma, no potencial de ser mãe, colaborasse e acompanhasse a cada contração, conforme o necessário”, relata a voluntária Nides Marcon.

No momento do parto, o médico estava em outra cesariana e acabou demorando. Nides conta que momentos após o parto, recebeu uma ligação da mãe que disse: "lembrei das informações que recebi da Pastoral da Criança. Fiz certinho como você me ensinou e tive o parto normal”. Para a líder, que também é coordenadora diocesana, momentos como este são gratificantes: “Fiquei muito feliz, ela me avisou no mesmo dia do parto e estava muito satisfeita por ter sido protagonista do nascimento de sua primeira filha”. O momento do parto foi tão marcante que a mãe já decidiu que terá mais um filho por parto normal e resolveu passar a outras gestantes a sua experiência. Para isso está fazendo a capacitação do Guia do Líder. “Ela diz que quer ser líder para ajudar as mães gestante a terem seus filhos de parto normal”.

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