Tema: Parto

1386 parto humanizado mae com bebe entrevista

Foto: Freepic.diller

Você sabe o que é parto humanizado e qual a importância dele para a mulher e para o bebê? O parto humanizado é aquele em que as decisões da mulher são levadas a sério, buscando ouvi-las desde o início, conhecendo os desejos e medos da futura mãe e, respeitando as pretensões da gestante para o nascimento do filho.

Sem tantas intervenções médicas, o parto humanizado busca deixar a natureza e mãe fazerem o trabalho, sempre levando em consideração a saúde da mulher e do bebê, para que todos possam vivenciar integralmente a experiência do parto natural, sem traumas e se recuperando muito mais rápido. É tornar esse momento tão lindo, o mais humano possível, com muito respeito, amor e carinho.

Para entendermos mais sobre o que é o parto humanizado, conversamos com a Karen Esteban, enfermeira obstetra que trabalha em Curitiba (PR).

Viva a VidaPrograma de rádio Viva a Vida
1386 - Parto humanizado - 23/04/2018


Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra

Sul

Norte

O que muda em relação aos partos tradicionais?

Uma das mudanças desse modelo é que as mulheres não vão tão cedo para a maternidade, que ela entenda que isso é um processo natural que acontece, que as contrações vêm e vão, e que ela pode ficar em casa tranquila, assistindo televisão, tomando um banho no chuveiro, se alimentando, para depois ela ir para a maternidade. A humanização retoma esse processo. Então, ela precisa de alguém de confiança dela, ela precisa de alguém que fique com ela, ela precisa se alimentar, ela precisa ter liberdade de posição, então se ela quer parir de cócoras, em pé, deitada, como ela quiser e que as informações sejam passada para ela, para ela ser a protagonista desse momento, ela precisa de todas as informações para decidir o que ela vai querer ou não.

Quais são as vantagens do parto humanizado?

karen estevan

Karen Esteban

O principal aspecto é a responsabilidade, é a família entender que ela também é responsável pelo nascimento desse bebê e é uma vantagem, pois eles vão se munir de informações de várias informações e perceber que esse momento é fisiológico, isto é, é natural e não vão se assustar com isso, vão tratar esse processo como natural. Agora, se tratando de mãe e bebê, a questão de humanização é colocar quais são os benefícios do nascimento de parto vaginal, em busca de aumentar essas taxas e diminuir o número de cesáreas. Desse modo, as vantagens do parto humanizado são: o fato do bebê nascer no momento adequado, isto é, no momento que ele tá preparado, lembrando que nascer de parto vaginal faz que no momento em que o bebê passa pela vagina da mãe, ele adquira uma série de bactérias que vão protegê-lo nos primeiros dias de vida, até tomar as primeiras vacinas. O parto vaginal também facilita a descida do leite materno, pelo próprio coquetel de hormônios que essa mulher tem no momento do trabalho de parto, a mulher tem 3 vezes menos chances de ter hemorragia pós-parto, uma vez que no parto vaginal ela sangra menos do que na cesariana, fora o vínculo afetivo, visto que ela vê o bebê logo e esse bebê vai em contato pele a pele com ela. Então, a humanização também traz essa questão de vínculo materno.

Quais são as diretrizes do Ministério da Saúde para o parto normal e humanizado?

Desde 1996, a Organização Mundial da Saúde (OMS) possui um material dizendo quais são as orientações para os profissionais de saúde atenderem esse nascimento. No Brasil, uma das primeiras coisas que vieram foi a rede cegonha em 2011. Em 2005, surge a lei do acompanhante, a lei de número 11108, que obriga os serviços de saúde a permitirem a entrada de um acompanhante durante o parto e se acompanhante é de livre escolha da gestante e pode ficar junto 24 horas por dia. Mais recentemente, em 2016 para 2017, foi lançada a Conitec, que são as diretrizes do Ministério da Saúde pela assistência ao parto. O Ministério da Saúde hoje tem o projeto Apice On, que é um projeto que liga as instituições de ensino as instituições que atende a mulher, é uma rede de aprimoramento, ou seja, para melhorar aquilo que eu já faço ou para criar novas formas de atender essa mulher.

Como a mulher deve se preparar para o nascimento do bebê?

O mais importante é a informação, para isso ela precisa ir em busca e entender quais são os riscos e como vai ser esse processo de trabalho de parto. As mulheres precisam entender que o trabalho de parto é algo fisiológico, que vai haver um momento de muita dor, mas que isso vai passar e tem também, que é um momento maravilhoso, ainda mais quando o bebê é colocado no colo dela. Que ela vai sangrar, que ela pode gritar, que ela vai querer se expressar e elas podem tudo isso. Então, é muito bom que elas buscam em grupos de apoio à gestante ou grupos de apoio durante o pré-natal e profissionais que realmente vão atender as expectativas delas durante o parto.

Por que muitas mulheres têm medo do parto normal?

Na minha opinião, o maior mito que ficou é a questão da dor e por isso, muitas mulheres têm medo do parto normal. Mas é importante lembrar que muita dessa dor, não foi pela questão física, mas sim uma dor de alma, for por ter tido de ficar sozinha, dor por ter pedido um copo de água e ninguém ter dado, dor por querer alguém junto e a equipe de saúde não deixar o acompanhante entrar, dor porque alguém gritou ou brigou quando ela disse que estava com dor, são dores porque as pessoas que deviam ajudar, não acreditaram nela no momento do parto, não cuidaram da mulher como ela deveria ser cuidada. Mas isso, está mudando, esse é o objetivo do parto humanizado.

Qual é o papel do pai ou acompanhante no parto humanizado?

Ter alguém que você confia do seu lado reduz em 70% o limiar, a intensidade de dor. Porém, se essa pessoa não entender esse processo de parto e não confiar em você, não vai funcionar. Então, a pessoa também tem de se preparar e entender que esse processo foi uma escolha da mulher e que ele está lá para apoiá-la e também, quando houver questões de decisão, que a mulher não consegue decidir, por estar prestando atenção no momento do nascimento, o acompanhamento está ali para decidir com ela, junto com ela, para ser uma proteção. Então, essa pessoa precisa ser positivo, entender que está lá para apoiar a mulher e ser mais forte fisicamente, ajudando-a a passar por tudo. O acompanhante vem desde o pré-natal, é muito importante que a pessoa acompanhe a mulher desde o início. Hoje em dia, as maternidades vêm fazendo um esforço muito grande para que esse acompanhante seja o pai, fazendo ele estar presente em todo esse momento tão lindo que é o nascimento.

O que fazer quando não se respeita a lei do acompanhante?

Os esforços para que isso não aconteça, para que se respeite a lei do acompanhante e permitam que ele esteja presente, são grande. Mas, mesmo assim existem lugares que ainda proíbem a entrada. Nesses casos, é muito importante fazer a denúncia para o Ministério Público, no site do Ministério Público você não precisa se identificar. Temos também a ouvidoria do Ministério da Saúde e do Município.

Leia a entrevista na íntegra: 1386 - Entrevista com Karen Esteban - Parto humanizado (.PDF)