A Dra. Zilda Arns foi médica pediatra e sanitarista, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa, organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Nesta entrevista, ele fala sobre o seu primeiro grande desafio: criar cinco filhos, depois que o marido morreu do coração, ao tentar salvar uma criança no mar. A entrevista integral estará em breve na coleção de livros Memória Paranaense.

José Wille – Com cinco filhos a senhora ficou viúva muito cedo.

Zilda Arns - Foi muito difícil! Meu marido, o professor Aloísio Bruno Neumann, era diretor da Faculdade de Administração e Economia do Bom Jesus e estava no sexto ano como diretor. Morreu de repente, ao tentar salvar uma menina no mar; teve um enfarte e morreu dentro da água. E eu fiquei de uma hora para outra viúva, com o mais velho com 14 anos e a menor com 4. Realmente, foi muito difícil, mas havia a minha família, minha grande família, meus irmãos, que estavam em volta de mim e me ajudaram demais. Principalmente no primeiro ano, que é um período de adaptação muito forte, uma vida muito diferente – meu marido realmente me ajudava muito, pois era muito bom pai. Então, eu tive que fazer os dois papéis. As crianças, que não esperavam a morte do pai, não estavam preparadas... Mas Deus me ajudou e hoje todos já estão formados e tocando a vida para a frente.

José Wille - Mas era uma situação bastante difícil, porque exercia os dois papéis e tinha 5 crianças...

Zilda Arns - É, exatamente! Eu tinha que trabalhar muito e tinha duas empregadas, que faziam muito bem o trabalho. Quis dispensar uma e meus filhos disseram “não, mãe, elas precisam do sustento delas. A senhora tira todos os supérfluos de nós, por exemplo, sorvete, iogurte, e fica com a empregada”. E eu pensei “eles têm razão, porque se podem cortar muitas coisas, mas para tirar alguém do emprego deve-se pensar 3 vezes”. E fiquei com as duas empregadas e foi muito bom, porque, 5 anos depois, eu comecei a Pastoral da Criança, viajando bastante e desenvolvendo muita atividade profissional. E elas me ajudaram muito a criar os filhos.

José Wille - Como médica pediatra e sanitarista, dentro dessa situação difícil, mesmo assim a senhora teve uma carreira muito longa e muitos cursos, principalmente no exterior. Como foi possível conciliar?

Zilda Arns - Quando era namorada do meu marido, eu dizia que não ia me casar, porque não podia ser médica pela metade. Para ser médica inteira, precisava estudar, me aperfeiçoar. Ele disse “você casa comigo, que eu dou um jeito de você se aperfeiçoar”. E realmente ele sempre me incentivou a fazer cursos. Parei um pouco somente quando fiquei viúva, mas logo depois recomecei e meus filhos sempre me apoiaram. Quando morreu meu marido, eu constitui com meus 5 filhos um conselho. Se todos os filhos fossem unidos e pensassem diferente de mim, eles ganhavam. Então, eles aprenderam a resolver as coisas sempre com responsabilidade e isso me ajudou muito a desenvolver minha vida profissional, porque eu sabia que eles resolviam em comum acordo.

José Wille - O início de sua profissão foi no hospital César Perneta, um hospital voltado a crianças.

Zilda Arns – Exatamente. Devo muito ao hospital César Perneta. Trabalhei bastante e trabalhei principalmente com lactentes, crianças menores de um ano. Foram 6 anos de muito trabalho.

José Wille - E a Secretaria de Saúde? A senhora foi chefe de divisão, trabalhando no governo do estado.

Zilda Arns - Eu fui diretora da Saza Lattes por 13 anos, e o doutor Plínio de Matos Pessoa, um grande pediatra, me pediu para coordenar o setor de bem-estar do Departamento Estadual da Criança. E eu fui e fazia as duas funções, de manhã em um e à tarde em outro. Desenvolvi, então, o Clube de Mães do Paraná. Até hoje eu viajo para o interior e vejo o Clube de Mães por aí e fico muito feliz. Eram 11 dias de curso de orientador de Clube de Mães e também havia curso para crecheiras. E, mais tarde, quando coordenei a primeira campanha de vacinação contra a paralisia infantil no Paraná, em 1980 - e me saí muito bem - fui convidada pelo Ney Braga, para coordenar a Saúde Materno-Infantil no Paraná, com Oscar Alves na Secretaria. Esta foi a primeira experiência em Saúde Pública. Eu vinha da Saza Lattes, que era particular, com muitos médicos, enfermeiras, fazendo um trabalho excelente, que era considerado padrão na época. E fui trabalhar com funcionários públicos. E descobri também que funcionário público é excelente, ele precisa de motivação, animação e, com isso, produz um bom trabalho.

 ESCRITO POR JOSÉ WILLE | 01 FEVEREIRO 2011

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