Na Diocese de Rio do Sul (SC), vem um exemplo de como envolver mais instâncias em um compromisso pela saúde das crianças e suas famílias. Confirma o relato de Helena Mozena Bertoldi – que é integrante da Pastoral da Criança há 24 anos, já foi coordenadora de setor e hoje atua como capacitadora da ação de Hortas Caseiras e Alimentação Saudável:

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 Helena (de camiseta roxa), de Rio do Sul (SC), compartilhou seus exemplos durante oficina de sistematização de experiências de hortas caseiras da Pastoral da Criança, realizada em agosto, no Rio de Janeiro.

“A gente passa a orientar as mães sobre os primeiros mil dias. Temos muitas crianças que já são obesas, antes dos dois anos. Então a gente faz um trabalho com as gestantes e as mães com crianças pequenas, não só dando informação, mas também incentivando o aleitamento materno até quando a mãe puder (mesmo depois dos 6 meses), ensinando a fazer as papinhas após os 6 meses e a introdução de novos alimentos. A gente leva receitas, mostra como fazer. Por exemplo: sopas variadas, que podem até ser congeladas, se a mãe não pode fazer todo dia”.

Dicas para uma alimentação mais saudável

“O que orientamos muito é não usar o açúcar e o sal nas papinhas. É um hábito tão forte das mães adoçar o chazinho, o leite... É importante a criança adquirir o gosto, aprender a sentir o sabor do alimento. Esse é um compromisso que nossas coordenadoras nas paróquias assumiram com muita vontade de fazer realmente acontecer. Tem também um trabalho em conjunto realizado com as nutricionistas das nossas creches, com agências e postos de saúde em vários municípios. A criança se alimenta muito na creche, então ela também vai tendo o exemplo ali. E, muitas vezes, a partir da creche, a criança leva para casa, incentivando os pais a fazerem uma alimentação saudável.

Outro hábito muito forte que existe é a utilização dos sucos industrializados, dos refrigerantes. Então a gente também trabalha com muita receita de suco natural, porque na nossa região, nós temos muita fruta. Todo mundo tem fruta no quintal. É forte essa questão de ter o alimento. O que falta mesmo é saber utilizar. Temos ainda muita gente que já trabalha com agroecologia, agricultura orgânica, que já produzem. Incentivamos muito o plantio, as hortas...

Também orientamos a não utilização de líquidos durante as refeições, nenhuma espécie de suco, nem água. Nos nossos encontros, quando dá umas 11h, a gente oferece um suco gostoso para os participantes. Chega na hora do almoço, a pessoa não sente sede. Também falamos que não precisa haver sempre sobremesa após o almoço, ela pode ser deixada para o lanche da tarde.

O armazenamento também é um ponto muito importante, pois, às vezes, a mãe tem o alimento, mas não tem todo aquele tempo para preparar. A questão de como lavar aquele alface, a couve, secar bem e guardar na geladeira de uma maneira correta, para usar quando chegar em casa”.

Ação primordial

Dra. Zilda

“É sempre muito bom a gente saber se o trabalho da Pastoral da Criança está trazendo resultados para a saúde da criança, você não acha? Pois quero partilhar com você a minha grande alegria em saber que as ações que você realiza, junto com milhares de líderes de todo o Brasil, aumentou muito o conhecimento das famílias sobre a prevenção da obesidade, sobre alimentação saudável, sobre o cultivo de hortas caseiras. Parabéns! Isto significa melhor saúde e qualidade de vida para as nossas gestantes e crianças”.

"Eu vejo isso como uma ação básica, já dentro da capacitação do Guia do Líder. Eu não posso considerar como uma ação complementar porque ela faz parte do todo. Se a criança não comer bem, não tem boa imunidade, não tem saúde. Às vezes, as crianças saem do médico com remédios, mas não fazem o efeito direito se elas não se alimentarem bem.

Não é só a criança pobre, que não tem acesso. Às vezes, as pessoas têm poder aquisitivo e mesmo assim utilizam o industrializado, porque é mais fácil. Nossa fala também compete com uma série de propagandas na mídia. Mas, quando a mãe percebe, é um trabalho contínuo. A gente precisa convencer a mãe, argumentar, realmente mostrar que aquele produto industrializado não é tão saudável, comparando com nosso alimento preparado com carinho.

Nesse sentido, nossas líderes são muito presentes. Entre tantas outras, tem a coordenadora Angélica, de Pouso Redondo, que faz um grande trabalho. Além da missão de coordenação, ela também é uma agente da Pastoral da Saúde e ajuda na orientação sobre a alimentação, na prevenção de doenças”.

Realidades transformadas

“Recentemente, vimos um caso de criança obesa, que não tomava refrigerante, essas coisas. Era o excesso de alimento que causava isso. Então, ajudamos a mostrar como a mãe podia reduzir um pouco esse alimento, sem deixar a criança com fome, sem prejudicá-la.

Também tivemos um caso, que até foi um frei que chamou a gente, porque havia duas crianças muito doentinhas, gêmeos com 6 meses. Estavam toda semana no médico, tomavam remédio, mas logo o efeito passava e voltavam a piorar. Aí passamos a visitar essa casa, orientar a mãe, mostrar receitas e mostrar como fazer. Ela tinha uma horta com bastante verdura, legume, plantação de limão. Aos 7 meses, já mostramos outros alimentos para as crianças, papinhas. E as duas crianças começaram a melhorar muito. Temos muitos exemplos em que o desenvolvimento da criança melhora a partir da alimentação correta”.

Parceria com Secretarias Municipais

“Temos muitas crianças obesas. Através de conversas com a Secretaria Municipal de Saúde e de Educação, a gente consegue levar nutricionistas para as creches, para  conversar com os pais e fazer esse acompanhamento. Também já ministrei diversas capacitações sobre alimentação saudável para as merendeiras das escolas. E nas visitas, a Pastoral da Criança continua essa orientação.

Muitas mães também, por meio do contato com nossas coordenadoras e líderes, passam a comprar menos salgadinhos, guloseimas. Hoje, na Celebração da Vida, as crianças tomam suco natural, se alimentam com bolos e alimentos que as mães aprenderam a preparar, mais saudáveis.

É muito válido esse trabalho. Mesmo independente dessa ação complementar, através dos ensinamentos do Guia do Líder, a gente já vem, há muitos anos, tentando e incentivando a alimentação saudável. Nossas coordenadoras inciaram por elas, nos próprios encontros das coordenações, em suas casas. Nós temos que começar por nós, fazer uma mudança, mesmo que pequena, de hábitos. O conhecimento é tudo! A pessoa tem que conhecer e se convencer dos benefícios dos hábitos saudáveis”.

Saiba mais: Mudanças na sociedade causam aumento da obesidade – economia levou a novos hábitos na alimentação e na atividade física.

Entrevista sobre prevenção da obesidade, com Dr. Nelson Arns Neumann, coordenador nacional adjunto da Pastoral da Criança, ao programa Bem Estar.

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