Quem nunca ouviu dizer que quando a criança come, a mamãe fica contente? Ou qual mãe nunca foi ao pediatra dizendo: "Doutor, meu filho não come"? A comida certamente é uma das maiores preocupações dos pais com relação à saúde da criança. Há famílias que transformam o momento das refeições em um verdadeiro campo de batalhas, desespero e acusações. Se a criança não come ou come muito pouco em uma refeição, a família começa a dar "substitutos", para a criança não ficar com fome ou não ficar doente, de "fraqueza". E quais substitutos são esses? Em geral, salgadinhos, refrigerantes, bolos, biscoitos... Isso a criança come e, por isso, deixa cada vez mais de comer a comida saudável para poder receber essas guloseimas. Há também as crianças que só comem algumas colheradas, como dizem as mães, se estiverem vendo televisão, brincando no computador ou, simplesmente, correndo pela sala. É muito comum ver mães com um prato na mão "correndo" pela casa atrás da criança, para ver se ela come alguma coisa. A ansiedade da família só diminui se a criança come. Se comer tudo, então, é uma festa! Sem falar das promessas que são feitas: "Se você comer tudo, vou te dar esse brinquedo..." Com isso, a criança aprende e entende que a ordem é comer! Comer deixa todo mundo da casa feliz e ela ainda ganha recompensas. Assim, para a mamãe ficar contente, e sempre mais contente, algumas crianças passam a comer cada vez mais, a qualquer hora, os alimentos que elas escolhem, o que só faz aumentar os casos de obesidade infantil.
Como a Pastoral da Criança faz
Mudança de hábitos e bons exemplos para combater os casos de obesidade infantil
Quando se fala em obesidade infantil, é preciso entender que a família é quem está no comando da situação, não a criança. Não adianta brigar com a criança porque ela come muito, porque ela está obesa. A violência não resolve nada, só piora as coisas e traumatiza a criança. E nesse estado emocional, a criança passa a comer mais ainda para abafar o medo e a ansiedade. O diálogo, a mudança consciente de hábitos alimentares, a introdução de uma alimentação saudável e de práticas esportivas são atitudes concretas que ajudam a prevenir e combater a obesidade infantil. Só que para isso, é essencial contar com o comprometimento de toda a família. Para proteger a saúde atual e futura das crianças, invista numa proposta nutricional saudável, com alimentos nutritivos, de baixo custo e de época. Use sua criatividade e motive as crianças com palavras de incentivo, atenção e amor. Assim, não só a mamãe, mas todos ficam contentes e as crianças mais saudáveis.
“Ninguém deve ser premiado por comer”, alerta Patrícia.
A obesidade infantil é um problema que atinge muitas crianças brasileiras. Segundo especialistas, a criança obesa tem grandes chance de se tornar um adulto obeso. A entrevista com a Dra. Patrícia Muller da Costa - psicóloga com especialização em saúde mental, que trabalha em Curitiba (PR) - esclarece diversas dúvidas sobre a obesidade infantil, chamando a atenção para questões que envolvem o bem estar emocional e a saúde de maneira geral, pois estão intimamente ligadas.
Como as emoções contribuem para a obesidade?
Existem vários fatores emocionais que podem contribuir para o aumento do peso ou dificultar o emagrecimento. Quando uma pessoa vive em uma situação que gera uma forte carga emocional, o organismo interpreta que é necessário dar uma resposta para essa situação. Para isso, o corpo vai se preparar para enfrentar essa a situação ou para fugir. Para ocorrer esse enfrentamento, há um aumento de produção do cortisol. E os altos níveis de cortisol facilitam o armazenamento da gordura abdominal. Quando a pessoa avalia que não possui recursos para enfrentar o problema que a aflige, ela se sente impotente e se deprime. A depressão altera o apetite. Em alguns casos, o apetite diminui, mas em muitos casos o apetite aumenta. Então, essa é umas das razões para o aumento do consumo de alimentos.
E como prevenir que uma criança se torne uma comedora emocional?
É preciso estar atento às mensagens contraditórias que a gente passa para as crianças. É comum que os adultos enfatizem o desejo pelos alimentos hipercalóricos, mesmo quando fazem isso em um discurso sobre a importância de evitar. Mas a mensagem que fica é que esses alimentos são deliciosos. Outra questão é que, na nossa cultura, os alimentos hipercalóricos são considerados um prêmio. Bolo de aniversário, por exemplo. Ninguém faz uma salada de aniversário. A pizza do final de semana, o ganhar uma sobremesa, “mas só se comer todo o almoço”. Percebam a mensagem implícita: se você se esforçar para comer o arroz o feijão que você não está com vontade, então vai merecer uma recompensa, a sobremesa. O que a gente está dizendo com isso é que o que realmente é bom é a sobremesa. E também estamos dizendo que feijão e arroz devem ser uma coisa ruim, porque é um sacrifício que merece um prêmio. Então, ninguém deve ser premiado por comer.
Como o aleitamento materno ajuda nas emoções e na prevenção da obesidade?
Realmente, o aleitamento é um momento muito especial, muito mais do que o leite que está sendo passado do seio para boca da criança. Então, esse contato físico é muito importante, o olhar da mãe para a criança. E esse olhar entre a mãe e o filho vai favorecer a hora que o bebê já terminou de mamar, entender que já é o suficiente.
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Obesidade infantil e fome emocional
Acompanhamento nutricional
Leia a entrevista na íntegra: 1201 - Entrevista com Patrícia Muller da Costa - Obesidade infantil (.PDF)
Saiba mais SBP: Obesidade na infância e adolescência - Manual de Orientação 2ª edição revisada e ampliada
Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra
Programa de Rádio 1200 - 29/09/2014 - Obesidade infantil