Os moradores de Forquilhinha, Santa Catarina, talvez imaginassem que o dia 25 de agosto de 1934 fosse apenas mais um no calendário. Não sabiam que nesta data uma criança nasceria para mudar e salvar a vida de muitas outras. Zilda Arns nasceu em uma família regida pelos ensinamentos cristãos. E a medicina foi descoberta como vocação, ainda na juventude. Fatores que, ao se aliarem, foram imprescindíveis para o trabalho desenvolvido e reconhecido internacionalmente.

 

Setenta e cinco anos depois, a comunidade religiosa haitiana reunida na Igreja Sacré Couer de Tugeau, na capital Porto Príncipe, Haiti, também não imaginava que o encontro com a fundadora da Pastoral da Criança terminaria de forma marcante. Doze de janeiro de 2010, a médica palestrava para dezenas de pessoas em sua segunda visita ao país, quando um tremor de terra atingiu o local. Apenas o crucifico resistiu ao terremoto que atingiu 7 graus na escala Richter e ceifou a vida de Zilda Arns e centenas de pessoas. Mas, o legado deixado pela médica pediatra continua.

 

"Para que todas as crianças tenham vida". Criada em 1983, a pedido da CNBB e em parceria com Dom Geraldo Majela, a Pastoral da Criança que utilizou uma metodologia de solidariedade para combater as doenças que assolam as crianças carentes, como a desnutrição e a diarréia. A formação de líderes comunitários para auxiliar as mães no desenvolvimento saudável dos filhos foi uma iniciativa eficaz, principalmente quando aliada à distribuição da multimistura (farelo nutricional rico em nutriente). No Brasil, cerca de 130 mil agentes auxiliam mais de um milhão e meio de crianças. Em 27 anos de atuação, a pastoral está presente em todas as dioceses brasileiras e em mais dezenove países. Desde 2008, a irmã Vera Lúcia Altoé coordena as ações a nível nacional e Nelson Arns, filho da fundadora, coordena internacionalmente.

 

A coordenadora arquidiocesana da Pastoral da Criança, Rosane de Jesus, afirma que o trabalho "é muito gratificante e nos valoriza quando a gente entra em uma comunidade e as crianças vêm nos abraçar com total carinho. Nos sentimos felizes por estar dando continuidade ao trabalho da doutora Zilda começou e nos deixou empenhados a continuar". Mas, Rosane destaca que, em Belém, a falta de voluntários constitui um grande desafio a ser enfrentado. Poucos se doam ao trabalho como Fátima Sarges: "Se deixar a gente se dedica 24 horas. Não recebemos nada material, mas espiritualmente recebemos muito porque transforma nossa vida. Eu faço isso com muito amor".

 

Outro marco importante nesta história se deu no ano de 1993, quando um casual encontro no aeroporto de Londrina, Paraná, com o Dr. João Filho, médico geriatra, gerou uma nova missão: a Pastoral da Pessoa Idosa. Mais de 129 mil idosos são acompanhados mensalmente no Brasil. Há seis anos na Arquidiocese de Belém, sob a coordenação da irmã Maria do Carmo, a pastoral já atende dois mil idosos. Para a religiosa ainda há um descaso para com os anciãos por parte dos familiares, o que constitui um obstáculo para o serviço. Ela, que conheceu Zilda Arns em 1987, disse que a médica "tinha um entusiasmo pelo trabalho. Sou muito agradecida pelos anos que pude caminhar ao seu lado. Muito eu aprendi com ela e sou grata por isso".

 

 Fonte: Fundação Nazaré