Em países desenvolvidos, a alergia à proteína do leite de vaca (APLV) afeta entre 2% e 7,5% das crianças, especialmente nos primeiros meses de vida. A imaturidade do aparelho digestório (estômago, intestino), natural nos dois primeiros anos de vida, e o sistema de defesa do corpo também imaturo nessa idade são fatores importantes para que o desenvolvimento da APLV.
O diagnóstico da APLV deve ser realizado com cuidado por um médico ou especialista, já que seu tratamento se baseia na retirada completa de leite de vaca e derivados (nata, queijo, iogurte, manteiga) da dieta. A Academia Americana de Pediatria (AAP) e a Sociedade Europeia de Gastroenterologia Pediátrica, Hepatologia e Nutrição recomendam a exclusão de qualquer produto ou fórmula que contenha a proteína intacta ou parcial do leite, além de leites de outras espécies, como cabra e ovelha.
Algumas manifestações que podem estar presentes em crianças com APLV são: má absorção intestinal, perda de nutrientes nas regurgitações e nos vômitos, falta de apetite e perda de sangue nas fezes. Essas manifestações associadas ou não a uma dieta de exclusão inadequada podem ocasionar alterações nutricionais, assim como déficit de crescimento e desnutrição energético-protéica, pois a criança acaba deixando de comer os alimentos que são fonte de calorias, proteínas, cálcio e vitamina D.
Para que isso não aconteça é preciso substituir os leites e derivados por outros alimentos que não vão fazer mal para a criança, mas que ao mesmo tempo possuem os mesmos nutrientes que ela precisa.
Para crianças menores de 6 meses de idade e que ainda estejam mamando no peito, durante a dieta de exclusão, preconiza-se a continuidade do aleitamento materno com retirada das proteínas do leite de vaca da alimentação materna. Ou seja, a mãe que está amamentando não deve comer nada de leite ou derivados, pois os alimentos que a mãe come passam para o bebê através do leite materno.
Entretanto, na impossibilidade de manutenção do leite materno, devem ser utilizadas fórmulas específicas em substituição ao leite de vaca. Os substitutos disponíveis no mercado incluem fórmulas à base de soja, hidrolisado proteico e fórmulas à base de aminoácidos livres. Inadequações na dieta de exclusão podem levar ao comprometimento do crescimento da criança com APLV e por isso faz-se necessário o monitoramento do crescimento e desenvolvimento dessas crianças, assim como do aporte de nutrientes e energia que é oferecido.
Intolerância à lactose
A intolerância à lactose não é uma alergia alimentar, apesar de ser frequentemente confundida pelos familiares e profissionais de saúde. É importante esta diferenciação, pois a orientação nutricional é distinta. Enquanto na intolerância à lactose, eventualmente, é possível ingerir pequenas quantidades de leite, na alergia às proteínas do leite, a alimentação não deve conter leite ou derivados.
A intolerância à lactose acontece porque o corpo não produz a enzima lactase no intestino, ou produz quantidade insuficiente, e fica difícil de fazer a digestão de lactose (açúcar do leite). O resultado disso é que a pessoa pode apresentar sintomas intestinais como distensão abdominal (gases), dor, diarreia e vômito. Quando falamos de intolerância, geralmente o indivíduo/criança pode comer/tomar pequenas quantidades de leite por dia. Essa quantidade muda de uma pessoa para outra.
A retirada total e definitiva da lactose da dieta deve ser evitada, pois pode resultar em prejuízo nutricional de cálcio, fósforo e vitaminas, podendo estar associada a osteoporose e fraturas. Por isso, após a exclusão inicial de lactose, geralmente é recomendado a sua reintrodução aos poucos, de acordo com a aceitação de cada um. Sendo que a maioria das pessoas intolerantes à lactose pode ingerir 12g por dia de lactose (equivalente a um copo de leite) sem apresentar sintomas desagradáveis.
Alguns bebês já nascem com intolerância à lactose. Nesses casos, o recém-nascido apresenta diarreia líquida ao ser amamentado ou receber fórmulas, contendo lactose. Essa é uma condição extremamente grave e caso não seja diagnosticada rapidamente pode levar ao óbito. Com uma dieta sem lactose os sintomas desaparecem e o recém-nascido tem crescimento normal.
A diferença entre intolerância à lactose do adulto (hipolactasia primária) e a intolerância à lactose congênita é molecular: na primeira, a enzima lactase é normal, mas diminui a expressão ao longo da vida; na segunda, a enzima lactase não existe.
Pacientes com intolerância à lactose podem usar leites industrializados com baixos teores de lactose, porém estes ainda não estão disponíveis em muitos mercados e lanchonetes. Quando prescritas pelo médico, também podem ser usadas as "lactases" disponíveis comercialmente na forma líquida, em cápsulas ou tabletes, que devem ser ingeridas junto com as refeições que possuem lactose.
Leia também
Alergia ao glúten e doença celíaca
Alergia ao ovo
Alergias e intolerâncias: como cuidar das crianças
Alergia alimentar