Foto: T.Rolf
Todas as crianças já nascem com direitos. A lei garante a elas proteção. Mas, infelizmente, os números sobre abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes são muito grandes. E essa realidade precisa mudar.
No Brasil, o Disque 100 é o principal canal do governo federal para denúncias sobre descumprimento de direitos humanos. De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a violência sexual é a quarta violação contra crianças e adolescentes mais citada neste canal. Em 2015, foram registradas 17.583 denúncias desse tipo, o que representa quase 50 casos por dia.
Por isso, a cada ano, diversas organizações promovem campanhas e ações para estimular o envolvimento da população na identificação e no enfrentamento destes casos – especialmente durante o Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes (18 de maio) e do Carnaval (quando o índice de denúncias chega a subir 20%).
Sobre o abuso e a exploração sexual contra crianças e adolescentes, bem como os cuidados que a população precisa ter, a Pastoral da Criança entrevistou Douglas Moreira, articulador do Centro Marista de Defesa da Infância e especialista em direitos da criança e do adolescente.
Como é possível perceber se uma criança foi ou está sendo vítima de abuso sexual?
Programa de rádio Viva a Vida
1285 - 16/05/2016 - Enfrentamento ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra
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A criança vai sempre avisar de alguma maneira, vai dar sinais de que está sendo vítima desse tipo de violência. Por vezes, ela não vai falar a respeito daquela situação e a gente precisa estar atento para conseguir perceber isso. Entre esses indícios, a gente pode ter alguns comportamentos sexuais que não estão muito adequados para aquela idade da criança: brincadeiras sexuais com os amigos, interesse súbito por esse tema. Ou você pode ter, por outro lado: insegurança excessiva, vergonha, isolamento, uma criança que evita ter contato físico com outras pessoas. Você pode, também, perceber mudanças súbitas de humor: essa criança está muito alegre e, de repente, se fecha totalmente. Por vezes, pode manifestar alguma agressividade, fuga de casa, baixa autoestima. Enfim, têm vários elementos que podem mostrar que essa criança tá passando por uma situação de violência sexual.
Que consequências o abuso ou a exploração sexual podem trazer para uma criança?
A violência sexual pode desestruturar o desenvolvimento físico, emocional e intelectual da criança e do adolescente. E comprometer a formação da afetividade, da personalidade e dos valores dessa pessoa. É importante destacar, também, que as consequências variam muito de acordo com o contexto que aconteceu a violência: quando foi, por quanto tempo ela aconteceu, como que foi, com quem ela se deu (se era uma pessoa da família, se era uma pessoa próxima), se teve alguém que escutou depois essa criança, que a acolheu, que deu atenção para ela. Tudo isso influencia nas consequências que a situação vai gerar para a vida dessa criança. Quanto mais ela for acolhida, quanto mais ela for ouvida e apoiada diante dessa situação, que é bastante complexa, menos chances ela terá de apresentar consequências mais graves no seu desenvolvimento.
Douglas Moreira, articulador do Centro Marista de Defesa da Infância e especialista em direitos da criança e do adolescente
Que orientações nós devemos dar às crianças sobre esse tema?
É importante que a gente converse, desde cedo, com a criança sobre o seu corpo. Mostrar para a criança que o corpo pertence só a ela, que ela sabe o que está sentindo, que não deve aceitar que outra pessoa diga coisas, fale ou faça coisas no corpo dela que não goste, que se sinta desconfortável ou sinta dor. Mostrar para a criança que, se alguém olhar ou tocar nesse corpo, é importante que ela procure alguém de confiança e fale que isso aconteceu. É importante também falar para criança que ela não deve deixar ninguém fazer nenhum tipo de carinho nela em troca de presente, de dinheiro, de favores. Não deixar ninguém fotografá-la sem roupa ou mostrando alguma parte do corpo dela. Enfim, fazendo qualquer coisa que a deixe desconfortável ou com medo. E ainda conversar sobre o fato de que quase todo mundo está na Internet, usa redes sociais. Então, falar sobre a importância de não postar fotos íntimas ou informações do seu cotidiano: onde estuda, o que faz no dia a dia. Porque tudo isso pode facilitar para um possível abusador chegar até essa criança.
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Leia a entrevista na íntegra: 1285 - Entrevista com Douglas Moreira - Enfrentamento ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes (.PDF)
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