1755 combate ao abuso de criancas entrevistaAraceli Cabrera Sánchez Crespo, vítima aos 8 anos de um crime que mobilizou o Brasil na luta contra a violência infantil. (Foto: Arquivo Pessoal)

No Brasil, a violência sexual contra crianças e adolescentes é uma realidade que exige atenção constante da sociedade. Dados do Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil 2021-2023, divulgado pelo Unicef e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), mostram que o número de estupros contra meninas subiu de 40 mil em 2021 para quase 55 mil em 2023, um aumento de 35,5%. Entre os meninos, o aumento foi semelhante, de cerca de 6 mil casos para mais de 8 mil no mesmo período.

A campanha

O Maio Laranja é uma campanha nacional que busca dar visibilidade e estimular o diálogo sobre a prevenção e o combate à violência sexual infantil. Instituído pela Lei nº 14.432 em 2022, o mês promove ações educativas e informativas. O dia 18 de maio, instituído pela Lei nº 9.970/2000, representa um marco dentro dessa campanha, em memória ao caso Araceli, que impulsionou políticas públicas voltadas à proteção da infância e adolescência no país.

O Caso Araceli

Araceli Cabrera Sánchez Crespo tinha oito anos quando foi raptada, drogada, estuprada, morta e carbonizada no Espírito Santo, em 1973. O crime ganhou repercussão nacional pela brutalidade e pela impunidade dos suspeitos, pessoas influentes da região. Embora os acusados tenham sido absolvidos por falta de provas, o caso permanece como símbolo da luta contra a violência sexual infantil e ressalta a necessidade constante de mobilização social e política sobre o tema.

Responsabilidade coletiva e acolhimento

O enfrentamento à exploração sexual infantil é uma responsabilidade coletiva. Heloísa da Silva Baggio, psicóloga da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança, destaca que o primeiro passo diante de suspeitas de violência deve ser sempre o acolhimento, criando um ambiente seguro para que a criança ou adolescente se sinta confortável e protegido para relatar o abuso. É fundamental incentivar o diálogo aberto e prestar atenção em comportamentos que possam indicar situações preocupantes. Leia ou ouça mais sobre os sinais de violência a seguir, na entrevista completa.
Maria Inês Monteiro de Freitas, Coordenadora Nacional da Pastoral da Criança, reforça a relevância da atuação conjunta na prevenção e conscientização sobre o tema. Segundo ela, "não podemos admitir que crianças sofram pela vida toda as consequências do mal sobre elas. A Pastoral da Criança soma esforços com várias entidades para ajudar a conscientizar a população sobre esse importante tema."

Denuncie!

Denunciar é essencial e pode salvar vidas. Ao presenciar ou suspeitar de violência sexual contra crianças e adolescentes, procure imediatamente os canais apropriados:

  • Polícia Militar (190): para situações imediatas;
  • SAMU (192): emergências médicas;
  • Disque 100: denúncias anônimas sobre violações de direitos humanos;
  • Conselho Tutelar: presente em todas as cidades, atende denúncias diretamente;
  • Delegacias especializadas: delegacias da mulher ou da criança e adolescente;
  • Profissionais de saúde: obrigados a realizar notificação compulsória;
  • WhatsApp do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos: (61) 99656-5008;
  • Ministério Público.

Proteger crianças e adolescentes é nossa obrigação. Faça sua parte.

 

ENTREVISTA COM: Heloísa da Silva Baggio, Psicóloga da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança.

1755 combate ao abuso de criancas heloisa

Heloísa da Silva Baggio, Psicóloga da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança

Heloísa, poderia explicar brevemente o que se caracteriza por exploração e abuso infantil?

HELOÍSA: A exploração sexual está diretamente relacionada ao uso de crianças e adolescentes para fins sexuais. A intenção é obter lucro, seja submetendo essa criança à prostituição, compartilhando imagens, vídeos, alguns conteúdos sexuais também, dentre outras práticas, justamente visando o ganho financeiro. Já o abuso infantil se caracteriza por qualquer intenção sexual com a criança ou adolescente. Então pode ser um abraço forçado, toques nas regiões íntimas, falas sexualizadas, o assédio e o abuso sexual e as suas diversas formas.

Viva a VidaPrograma de rádio Viva a Vida 1755 – 12/05/2025 – Combate ao abuso de crianças

Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra

Quais são os sinais que podemos identificar que uma criança está sofrendo abuso?

HELOÍSA: A gente pode observar mudança de comportamento repentino; alterações no sono; medo de ficar perto de figuras masculinas; queda no rendimento escolar; uso de palavras, gestos, desenhos com conteúdos sexuais; excesso de toques em regiões íntimas; comportamentos agressivos que essa criança ou esse adolescente adolescente não apresentava antes; sinais físicos como hematomas ou vermelhidão nas partes íntimas; sangramentos também nessa região; dentre outros sinais que acabam servindo como um alerta e devem ser investigados.

Sabemos que a maioria dos crimes sexuais contra as crianças e adolescentes ocorrem em casa, de modo geral por familiares e amigos próximos. Diante dessa realidade, como podemos protegê-las desse cenário aterrorizante?

HELOÍSA: Infelizmente essa é a realidade quando a gente fala do abuso infantil. Aqui no Brasil, em mais de 68% dos casos contra as crianças e adolescentes, os abusadores são familiares ou pessoas próximas. O local que deveria ser um lar, que deveria ser um ambiente acolhedor, trazer conforto, acaba se tornando um cenário de horror. Diante desse cenário é importantíssima uma conversa sincera com as crianças e adolescentes, ensinando que o corpo delas não pode ser tocado sem o consentimento delas, que elas não são obrigadas a sentar no colo do tio, sentar no colo do Papai Noel, que elas têm o direito e o poder de dizer não.

Então, ensinar limites envolve também o próprio corpo e aceitar ou não certos comportamentos vindos de outras pessoas. E, além disso, sempre ter o cuidado com quem entra na sua casa, evitar deixar essa criança sozinha nos mesmos ambientes que um estranho, e sempre manter um ambiente acolhedor, um ambiente de escuta e diálogo constante, porque assim possibilita que essa criança, ou adolescente, ele se sinta seguro para compartilhar qualquer desconforto que possa sentir.

Existem muitos casos de violência sexual em que a criança ou o adolescente denuncia a violência para a família, mas acaba sendo descredibilizado, acreditam ser uma mera fantasia e acabam perpetuando essa violência. Heloísa, como alertar a família sobre os perigos e como agir diante desse cenário?

HELOÍSA: Se houver qualquer sinal ou suspeita de que a criança ou adolescente esteja sendo vítima de violência, o acolhimento deve ser a primeira atitude. Jamais descredibilizar, deixar pra lá e não investigar, ou ter qualquer outra abordagem que não seja o olhar atento a essa situação. Quando ela vem até você e conta que está sendo abusada ou que o tio passou a mão ou falou algo estranho, acredite, vá atrás, acolha, mostre que ali ela está segura e que pode contar com você.

Esse tipo de violência tende a acontecer por familiares e pessoas próximas, então esteja sempre atento, preste atenção no comportamento da criança, como que ela está se comportando perto das outras pessoas, e também possibilite uma relação de confiança entre vocês. Então, se ela chegou até você é porque ela confia e você tem a responsabilidade de averiguar, inclusive abordando o abusador. Então, feita todas as abordagens e, se necessário, denuncie. Não se cale. 

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Fabrício de Oliveira Medeiros, Líder comunitário da Pastoral da Criança

(TESTEMUNHO) Fabrício de Oliveira Medeiros, Líder comunitário da Pastoral da Criança, na Paróquia Imaculada Conceição, cidade de Tombos, Diocese de Caratinga, estado de Minas Gerais.

Fabrício, como os líderes da Pastoral da Criança podem colaborar no combate e na prevenção da violência e do abuso de crianças?

FABRÍCIO: Os líderes da Pastoral da Criança procuram colaborar na organização de rodas de conversas sobre esse tema na comunidade. Convidam a comunidade para participar, já que o assunto é muito importante. E nessas rodas de conversas, convidam advogados, representantes do Conselho do Tutelar e da Vara da Infância para falarem sobre esse tema. Também, em muitas comunidades, os líderes ajudam a divulgar a campanha Maio Laranja, que acontece todos os anos, no dia 18 de maio, que é uma campanha que visa conscientizar a população sobre o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Outro ponto importante é por meio das visitas domiciliares, trabalhando a importância de um ambiente familiar harmonioso e em paz.

 

Leia a entrevista na íntegra

1755 – 12/05/2025 – Combate ao abuso de crianças

 

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16.2
Acabar com abuso, exploração, tráfico e todas as formas de violência e tortura contra crianças

Dra. Zilda

“Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, devemos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los”.

“As crianças são prioridade absoluta, como garante o Estatuto da Criança e do Adolescente, e merecem carinho, atenção e respeito”.

Papa Francisco

“O abuso infantil, de qualquer natureza, é um ato desprezível e atroz. Não é simplesmente um flagelo social e um crime; é uma violação muito grave dos mandamentos de Deus. Nenhuma criança deveria sofrer abusos. Mesmo um caso já é demais. Por isso, é necessário despertar consciências, praticar a proximidade e a solidariedade concreta com as crianças e os jovens vítimas de abusos e, ao mesmo tempo, construir confiança e sinergia entre aqueles que se comprometem a oferecer-lhes oportunidades e locais seguros para crescerem em paz.”