Francisca das Chagas Pereira, Dona Rufina, foi parteira e líder da Pastoral da CriançaFrancisca das Chagas Pereira, Dona Rufina, parteira e líder da Pastoral da Criança

Neste dia 20 de janeiro é celebrado o Dia Nacional da Parteira. O ofício ainda é encontrado em comunidades tradicionais, como quilombolas e indígenas. Mas nem sempre foi assim. Durante muitas décadas, nas regiões afastadas dos grandes centros urbanos, era somente pelas mãos das parteiras que as crianças viam o mundo além do ventre materno.

Foi nesse período que Dona Francisca das Chagas Pereira - a Dona Rufina - fez o parto de mais de 50 crianças, cerca de 1% de toda a população de Uarini, no Amazonas, na década de 1980*.

“Graças a Deus nunca tive nenhum problema, nem com a mãe e nem com o bebê”, conta orgulhosa a ex-líder da Pastoral da Criança.

Dona Rufina aprendeu o ofício do mesmo modo que a maioria das parteiras tradicionais - na família. Ela lembra que, aos 16 anos, começou a acompanhar sua mãe. Aos 22, já fez seu primeiro parto. Com o tempo, fez vários cursos oferecidos por órgãos de saúde da região.

“O parto mais difícil que eu já fiz foi o de uma gestante que não andava e nem falava. Imagine a dificuldade! Deu tudo certo. Hoje, a filhinha já está casada”, conta orgulhosa a parteira, que também tem em sua lista de dificuldades um parto dentro de um fusca: “A gente estava indo para um hospital, mas não deu tempo. Paramos e fizemos o parto no fusquinha mesmo e voltamos para casa”, relembra a bem humorada senhora.

O último parto feito por Dona Rufina já tem seis anos. O sistema de saúde se desenvolveu na região.

“Eu era líder da Pastoral da Criança, então eu falava para as gestantes sobre a importância de cuidar da saúde durante a gravidez. A gente ajudava em tudo e mandava para o serviço de saúde quando precisava. Não tinha maternidade por perto, então o pessoal preferia fazer o parto com a gente. Hoje, graças a Deus, tem maternidade e UBS por aqui. As mulheres podem fazer o pré-natal no serviço de saúde”, explica.

A atuação das parteiras ainda é importante em comunidades tradicionais como quilombolas e indígenas, e foi reconhecida pelo Ministério da Saúde. Em 2012, o Governo Federal lançou o “Livro da parteira tradicional", com orientações e com o alerta sobre os momentos em que é necessário buscar socorro hospitalar.

Aos 67 anos, dona Rufina luta contra um câncer. Por causa da leucemia, não consegue mais atuar diretamente como líder da Pastoral da Criança, mas mantém o espírito:

“As gestantes sempre me procuram, principalmente as que estão com o primeiro filho. Eu ajudo e falo para todas fazerem o pré-natal na UBS”, orienta.


Parto humanizado

Um dos legados do trabalho das parteiras tradicionais para a medicina é o parto humanizado. Esse conceito não significa que o bebê necessariamente precisa nascer de forma natural. A definição de parto humanizado está ligada ao respeito à gestante e à criança em todo o processo.

Por isso, a ideia de parto humanizado é preconizada pelo Ministério da Saúde em todos os nascimentos, inclusive na rede hospitalar comum, e é defendida pela Pastoral da Criança e por outras instituições de defesa da mulher, da criança e da vida.

"A Pastoral da Criança defende o parto humanizado, no qual a mulher que vai ganhar bebê é respeitada em seus direitos de cidadã, de mulher e de mãe. Ela tem o direito ao acompanhante no momento do parto e direito a se sentir emocionalmente confortável, com um parto seguro e sem violência. Gestante, converse com os líderes. Converse com os profissionais da Unidade Básica de Saúde onde você faz o pré-natal e decida pela melhor opção que vai garantir mais segurança e saúde para você e o seu bebê", defende a coordenadora nacional da Pastoral da Criança, Maria Inês Monteiro de Freitas.

O parto humanizado se apoia na ideia que o bebê escolhe a hora de nascer, por isso a cirurgia cesariana não deve ser marcada, apenas usada como recurso em caso de necessidade, principalmente se houver risco à vida da criança ou da gestante.

Outro ponto fundamental é o respeito à gestante, que deve ser informada de todas as ações da equipe médica e ser ouvida ao tomar suas decisões, além de ter um ambiente emocionalmente confortável, seguro e sem violência.

O plano de parto é um documento que ajuda a garantir à gestante que seus direitos sejam respeitados na hora do nascimento de seu filho. Os líderes da Pastoral da Criança podem ajudar na confecção do plano de parto.

Leia mais sobre o assunto nos links a seguir e saiba como se proteger e combater a violência obstétrica.


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*Uarini (AM) tinha aproximadamente 5.500 habitantes segundo as estimativas do IBGE em 1982.
A população estimada em 2024 é de 15.278.