A inspiração bíblica da missão da Pastoral da Criança é também uma frase que a doutora Zilda Arns sempre repetia: “eu vim para que todas as crianças tenham vida e vida em abundância”, Jo 10, 10. Quem teve a feliz oportunidade de conviver com ela ouviu muitas vezes também sobre a importância da linda missão pela promoção e o desenvolvimento das crianças, gestantes e suas famílias.

O bispo de Pinheiro (MA) e presidente da Pastoral da Criança, dom Elio Rama, ao final da 27ª Assembleia Geral da Pastoral da Criança, realizada nos dias 18 e 19 de janeiro de 2021, reforçou que o foco da missão em 2022 deve ser o “retorno e o reforço ao carisma fundacional da doutora Zilda e a inovação”.

Para nortear o seus eixos de atuação em 2022, a Pastoral da Criança também realizou pesquisa qualitativa em três dioceses de distintas regiões brasileiras com foco de reflexão sobre o momento atual e a atuação da Pastoral da Criança com as famílias acompanhadas e líderes.

Intitulada “Mães, Líderes e a Pastoral da Criança em Tempos de Pandemia: Um Estudo Qualitativo em Três Municípios Brasileiros”, a pesquisa, coordenada pelo professor e doutor Juraci Cesar, pós-doutor em Saúde Pública e pesquisador da Universidade de Rio Grande do Sul, apontou diversas questões importantes:

  • Muitos líderes definiram a Pastoral da Criança com o mesmo significado, por exemplo: “Família”, “Amor ao próximo”, demonstrando a interação entre os líderes da Pastoral da Criança e as mães;
  • Foram ouvidas frases tais como: “A líder é como se fosse uma outra mãe pra gente”, “É a família que eu não tenho… que eu nunca tive!”;
  • Foi percebido que, durante a pandemia, o principal motivo de procura pela líder foi por doença [quase sempre da criança] e, depois, ajuda com alimentação.

Essas necessidades relatadas pelas mães mostraram que o/a líder da Pastoral da Criança é a pessoa de maior resolutividade que a mãe tem acesso e a que vive o mais próximo dela, por isso fica difícil não ajudar – sendo ou não sua função dentro da missão. A mãe pede o que precisa e a líder, de um jeito ou de outro, ajuda como pode. E isso claramente reforça a relação entre elas (líderes e mães). A pesquisa aponta ainda que o significado da Pastoral da Criança varia entre as mães e líderes, mas ele é sempre muito preciso: a Pastoral é “suporte”, “solidariedade”, “mão amiga”.

Dentre todos os relatos feitos pelas mães sobre a Pastoral da Criança, dois deles merecem destaque pela importância da fala, pela força com que disseram e pela gratidão manifestada: “Não fosse ela [a Pastoral], teria dado os meus filhos” ou “A Pastoral me ensinou a gostar de criança… a gostar dos meus próprios filhos”. Para mães e líderes, a Pastoral é muito mais do que a oferta de cuidados, é um rumo na vida delas e na de suas famílias.

Segundo a pesquisa, que ainda não tem dados consolidados e por isso não foi divulgada em sua plenitude, “as líderes não se deram conta que, ao assumir os mais pobres por abandono deste governo, atuam em uma outra seara e atendem as famílias nas necessidades apresentadas. Daquilo que não resolvem, encaminham. E parecem não se dar conta de que estão mudando a Pastoral da Criança”, ressalta o professor Juraci.

Para o doutor em sáude, em 2022, entidades que lidam com desigualdade, ciência, políticas públicas, educação, saúde etc., assim como é a Pastoral da Criança, precisam se reinventar. A Pastoral da Criança, no entanto, deve ter a certeza que as soluções estão aonde a entidade atua. Afinal, quem acabou com a desnutrição e reduziu a mortalidade infantil? O momento é de buscar soluções para passar por este momento e redefinir sua atuação. Afinal, só faz bem feito quem tem o nome e a atuação que a Pastoral da Criança tem há quase 40 anos.

Prioridades 2022
Frente a estes desafios, a Pastoral da Criança assumiu como prioridades para 2022:

  • Aumentar a cobertura da Pastoral da Criança. São muito poucas as crianças e gestantes acompanhadas (400.000) perto dos milhões de crianças e gestantes que poderiam ser beneficiadas por esta ação da Igreja.
  • Aumentar a articulação com as diversas redes, serviços públicos ou não, que podem ajudar as famílias mais necessitadas e que, por vezes, não direcionam suas ações a quem realmente mais precisa, no momento mais adequado.
  • Capacitar ainda mais nossos líderes nas ações preventivas.
  • Disponibilizar nossos materiais para as mães, pais, avós, padrinhos e outros responsáveis pelas crianças criando autonomia das famílias e empoderando-as para que se tornem agentes de sua própria transformação.
  • Inovar e aumentar o uso das tecnologias já disponíveis, em especial o Aplicativo da Pastoral da Criança.
  • Praticar o controle social das políticas públicas especialmente nos serviços mais básicos, que são os que mais tem capacidade de diminuir a desigualdade social.

Para melhorar ainda mais este trabalho, a Pastoral da Criança também desenvolveu o aplicativo Visita Domiciliar e Nutrição, que, além de auxiliar nosso voluntariado no acompanhamento às famílias, também possui um módulo de comunicação entre os voluntários, as famílias acompanhadas, coordenadores e capacitadores. Com isso, são mais pessoas recebendo a melhor e mais relevante informação possível e com celeridade.

A dedicação dos voluntários da Pastoral da Criança ajuda a produzir no Brasil uma mudança de mentalidade sobre os cuidados com a criança. As comunidades descobriram a sua força transformadora. Milhares de pessoas se sentem valorizadas onde vivem, sabem dialogar, assumem compromissos para melhorar a realidade em que vivem, fazem história e contribuem para a continuidade da história e a construção de uma sociedade de paz e solidariedade.

A Pastoral da Criança
A Pastoral da Criança atua em todo o Brasil, acompanhando mais 360 mil crianças, mais de 18 mil gestantes e suas famílias, zelando pelo cuidado desde o nascimento e durante toda a primeira infância. Para que isso aconteça, mais de 42 mil voluntários * estão mobilizados, sendo 33 mil líderes. Juntos, eles levam a missão Pastoral da Criança para mais de 2.600 municípios ,em mais de 16 mil comunidades.

Além disso, está presente em outros 11 países da América Latina, África e Ásia: Guiné-Bissau, Haiti, Peru, Filipinas, Moçambique, Bolívia, República Dominicana, Guatemala, Benin, Colômbia e Venezuela.

Nossa missão, desde 1983, é continuar sendo a presença do amor solidário de Deus neste mundo. Cada um de nós deve continuar o caminho de solidariedade, da partilha fraterna, da missão que nasce da fé em favor da vida, e que tem se multiplicado de comunidade em comunidade.

A presença dos líderes na casa e na vida das famílias mais pobres é a manifestação viva do amor de Deus para com os mais fragilizados, para com aqueles que mais necessitam da bondade e do carinho de Deus. Por isso, eles são a grande força que move a Pastoral da Criança.

Juntos, os líderes e voluntários realizam muito mais do que as importantes ações básicas e complementares. São, na prática, o exercício diário da solidariedade, da amizade e do amor ao próximo. Na convivência com a comunidade, além da partilha de conhecimento sobre saúde, nutrição, educação e cidadania, há doação de tempo, de escuta e a compreensão dos saberes dos outros, das diferenças e particularidades de cada local. Por vezes, os líderes e voluntários da Pastoral da Criança são os únicos que entram em casas de difícil acesso e constroem com as famílias uma relação de confiança que é levada para a vida toda. Em outros casos, chamam atenção das autoridades e fazem valer, junto com seus vizinhos, os direitos das crianças e gestantes daquela comunidade, ou para resolver uma situação de dificuldade.

Fonte: CNBB
Link

* Sistema de Informação da Pastoral da Criança, 3º trimestre de 2021.
Disponível em -- http://www.pastoraldacrianca.org.br – [ 2021 out 20 ]
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