No mês de junho, todos os coordenadores da Pastoral da Criança receberam uma carta da Coordenação Nacional sobre as eleições municipais que acontecerão no dia 2 de outubro de 2016, e em segundo turno no dia 30 do mesmo mês.
No documento “Convocação aos candidatos da Pastoral da Criança nas eleições de 2012” (disponível na página da Pastoral da Criança na internet) há orientações sobre o comportamento dos coordenadores, líderes e pessoas de apoio quando decidem candidatar-se a um cargo político. Há também informações sobre o que deve fazer o prefeito, vice-prefeito e vereador.
A Mensagem da CNBB para as eleições 2016 e as cartilhas dos Regionais da CNBB e Dioceses pedem aos fiéis que demonstrem interesse para com as eleições. Diante da situação de crise ético-moral, social e econômica que se encontra o Brasil, a eleição de pessoas honestas, competentes e preocupadas com o bem comum será um meio decisivo para reformar o país e devolver a esperança de dias melhores.
Os voluntários e todas as famílias da comunidade são chamados a participar. É comum ouvir dizer: “São todos ladrões, ninguém presta, política não se discute, eu anulo meu voto!” Essa mentalidade, e as ações e omissões que dela resultam, se movem dentro da ideia de “politicagem” e não de política. A politicagem deixa de lado o bem comum, usa de esperteza e safadeza para buscar interesses pessoais.
A palavra política vem lá dos gregos antigos e significa “aquilo que é público”, é a ciência e a arte da governança, da organização, da administração de Nações, Estados e Municípios. Por isso o Papa Francisco, falando de cristão e política, diz: “Para o cristão é uma obrigação envolver-se na política, pois a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum. E os cristãos leigos devem trabalhar na política” (Papa Francisco, Sala Paulo VI – Vaticano, 7 de junho de 2013).
O trabalho na política, além da disposição para candidatar-se, tem outros dois momentos: 1) escolher os candidatos; 2) acompanhar, supervisionar os eleitos fazendo reivindicações e cobrando a respeito do que foi prometido em campanha.
Se alguém é candidato à reeleição é justo perguntar: existem argumentos que justifiquem a sua reeleição? O que sei sobre seu mandato anterior? Quais os pontos positivos do seu mandato anterior? O que ele publicou sobre o seu mandato anterior é verdade? Ele participou de escândalos ou calou a respeito de escândalos e fraudes anteriores? Tem uma história de luta pela justiça e favorecimento dos direitos de todos?
Desafio
Quanto às eleições, que tal trocar ideias na roda de amigos e amigas, nas reuniões familiares, em alguma reunião da pastoral ou da comunidade sobre as considerações que seguem ou outras que o grupo achar interessantes e necessárias?
I - Vote, pois é a maneira de construir uma verdadeira democracia representativa de todos!
II - Vote a partir de sua opinião esclarecida e informada! A simpatia do candidato e os meios de comunicação nem sempre são bons conselheiros. As pesquisas de opinião não são critério para merecer seu voto.
III - Só você é dono do seu voto! Vender ou trocar o voto por favores é crime eleitoral e os candidatos que de alguma maneira compram votos tem multa e até cassação do registro.
IV - Vote depois de conhecer o programa do candidato e do partido a que ele pertence!
V - Vote depois de conhecer o passado do candidato. A internet ajuda nisso!
VI - Vote depois de conhecer o caráter do candidato: é honesto, sincero, íntegro? Merece confiança? É comprometido com boas causas?
VII - Por sí, nem voto em branco, nem voto nulo conta para qualquer candidato. Anular seu voto ou votar em branco, pode favorecer só aqueles que se acostumaram no poder e têm dinheiro e influência para conseguir o que querem.
VIII - Você sabe que o Brasil adota dois sistemas de votação: majoritário e proporcional? No sistema majoritário, o eleitor vota diretamente num candidato e indiretamente no partido. Isso vale para presidente, governador, prefeito e vices, bem como para senadores e suplentes. No sistema proporcional, o eleitor elege primeiramente o partido ou coligação. Esses votos determinam o número de cadeiras que o partido ou coligação ocupará com seus candidatos mais votados. Esse sistema vale para os cargos de deputado federal, estadual, distrital e para vereadores. Hoje, para ser eleito vereador, o candidato deve ter um número de votos igual ou superior a 10% do quociente eleitoral. Por exemplo, num município de 100.000 habitantes com 20 vagas para vereadores, o quociente se determina dividindo 100 mil por vinte e dá 5.000 (quociente eleitoral). Nesse município o vereador deve ter pelo menos 10% do quociente eleitoral, isto é: 500 votos.
As considerações acima são baseadas na Cartilha de Orientação Política do Regional Sul 2 da CNBB.
Saiba mais: Valores éticos durante as eleições e para toda a vida
Pondo os pontos nos ís
Em alguma comunidade onde a Pastoral da Criança atua, tem acontecido alguns conflitos com relação à questão política e isso tem prejudicado o andamento da Pastoral da Criança. Alguns desses conflitos foram causados pela falta de informação, outros pela falta de cuidado e sensibilidade de como se conduzir quando se trata de tomada de posição partidária. A Coordenação Nacional da Pastoral da Criança já deu orientações claras sobre o caso de alguém pertencente à Pastoral se candidatar.
Outros questionamentos foram feitos e respondidos como segue abaixo para relembrar.
Quem é voluntário da Pastoral da Criança pode candidatar-se a um cargo político eletivo?
Os voluntários da Pastoral da Criança podem ser cabos eleitorais e distribuir propaganda?
A Pastoral da Criança pode apoiar um político que faz doação pessoal para a entidade?
Como evitar conflitos e divisões por motivos políticos nas comunidades entre participantes da Pastoral da Criança?
Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que certos assuntos são complicados e dão margem a muitos pontos de vista. Vejamos agora concretamente a questão do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Os argumentos a favor e contra são centenas e colocados por gente entendida sobre os vários assuntos. A decisão sobre essa questão depois de ter passado pela Câmara dos Deputados foi decidida pelo Senado, presidida por um representante do Supremo Tribunal de Justiça. Seria lamentável se dois voluntários da Pastoral, um a favor e outro contra, chegassem a criar um conflito que comprometesse o relacionamento entre si e também em sua atuação na missão da Pastoral da Criança.
Os conflitos acontecem por muitas outras razões:
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Quando na conversa, você atinge a autoimagem do outro: no exemplo acima: “Você é mesmo da direita”. “Você é mesmo da esquerda”.
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Quando você se expressa só de maneira crítica: “Essa mulher não acertou uma!”
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Quando você não apresenta argumento que sustente o que você afirma ou defende.
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Quando você não admite que o outro possa ter posição diferente da sua. Você quer ter sempre razão.
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Quando você atribui ao outro a causa dos seus sentimentos: “Você me deixou com raiva!” O justo seria dizer: “Eu fiquei com raiva pelo que você fez ou disse. Eu me responsabilizo pelos meus sentimentos!”
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Quando por medo ou por qualquer razão eu não expresso ao outro os meus sentimentos a partir do que aconteceu no relacionamento. Aqui o conflito vira mágoa e tende a perpetuar o conflito!
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Quando eu acuso e culpo o outro, o conflito é certo.
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Boa dica: Quando eu uso meu lado adulto, isto é, informo o outro ou peço informações, a maioria dos conflitos são evitados: “Você é a favor do impeachment de Dilma, quais são as razões e os fatos que você tem? Os meus são esses…”
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A possibilidade de conflito diminui muito quando eu disponho de tempo, esforço e paciência para ouvir e que seja proporcional ao meu desejo e até costume de falar. O “ouvir” presta atenção e acolhe, acima de tudo, os sentimentos que estão envolvidos!
Pe. Ademar Rover
Assessor da coordenação nacional da Pastoral da Criança