13.2 Crédito Gustavo Pitta

Gabriela Guida de Freitas - Coordenadora do Criança Segura
Foto: Gustavo Pitta

Uma análise feita pela ONG Criança Segura, em parceria com a Rede Primeira Infância, resultou na publicação “Evitando Acidentes na Primeira Infância”, que conta com dados do Ministério da Saúde. O estudo mostrou que no ano de 2012, 31.848 crianças de 0 a 4 anos foram hospitalizadas devido a acidentes. No mesmo ano, 2.059 crianças da mesma idade morreram por conta de acidentes. Se contabilizadas crianças de 5 a 9 anos – uma subdivisão do Ministério da Saúde para registro – esse número chega a 3.142 mortes e mais de 75 mil hospitalizações de meninos e meninas. Os acidentes são as principais causas de morte de crianças a partir de um ano no Brasil. Entre as crianças com menos de um ano, o maior perigo entre os acidentes é a sufocação.

Para evitar que tais acidentes ocorram, a Pastoral da Criança conversou com a coordenadora nacional da organização Criança Segura, Gabriela Guida de Freitas, que fez algumas indicações sobre o que cada um pode fazer em casa. 

As crianças têm uma característica de sempre estar querendo descobrir o mundo. Visto que os mais novos têm uma proteção natural limitada, e não sabem reconhecer os perigos que os cercam, podemos afirmar que quanto menor a criança, maiores os riscos?

Não podemos afirmar que quanto menor a criança, maiores os riscos, pois cada faixa etária apresenta riscos diferentes devido à fase do desenvolvimento da criança. Por exemplo, dos zero aos quatro anos, elas ainda estão desenvolvendo a coordenação motora; não possuem habilidade para entender e reconhecer o perigo; tendem a imitar o comportamento dos adultos e têm capacidade limitada para reagir de maneira rápida e correta em situações de risco. Já dos cinco aos 14 anos, elas têm maior interesse pelo perigo e por correr riscos; apresentam tendência a desafiar uns aos outros, a agir perigosamente e passam mais tempo sem a supervisão dos adultos.

Por que é tão grande o número de crianças com menos de 1 ano que morrem vítimas de sufocamento? O que é preciso cuidar para evitar este tipo de acidente?

As crianças, especialmente as menores de três anos, estão particularmente mais vulneráveis a acidentes envolvendo sufocação e engasgamento devido ao pequeno tamanho de suas vias aéreas superiores (boca, garganta, esôfago e traqueia), sua relativa inexperiência em mastigar e engolir e a sua tendência natural de colocarem objetos na boca. Além disso, entre bebês, a falta de habilidade de levantar a cabeça ou livrar-se de lugares apertados os coloca em grande risco.

Algumas dicas para evitar esse tipo de acidente são:

  • Corte os alimentos em pedaços bem pequenos na hora de alimentar a criança e evite oferecer alimentos redondos e duros, como uvas, pipocas, balas duras, cenoura crua, etc;
  • Ensine a criança a comer sentada e com a boca fechada. Essa prática ajuda a prevenir que as crianças tentem falar e comer ao mesmo tempo;
  • Coloque os bebês para dormir em colchão firme, de barriga para cima, cobertos até a altura do peito com lençol ou manta presos embaixo do colchão e os bracinhos para fora. Além disso, verifique se o colchão está bem preso ao berço (não mais que dois dedos de espaço entre o berço e o colchão) e sem qualquer embalagem plástica;
  • Use berços certificados pelo Inmetro e fique atento às grades de proteção, que devem estar fixas e não devem ter mais que 6 cm de distância entre elas;
  • Remova do berço todos os brinquedos, travesseiros e objetos macios quando o bebê estiver dormindo, para reduzir o risco de asfixia;
  • Verifique as indicações de idade dos brinquedos e se possuem o selo do Inmetro;
  • Guarde os brinquedos das crianças maiores separados dos brinquedos das crianças menores e sempre verifique se eles possuem partes quebradas ou se soltando;
  • Deixe o piso livre de objetos pequenos, como botões, colar de contas, bolas de gude, moedas e tachinhas. Tire esses e outros pequenos itens do alcance das crianças;
  • Considere a compra de cortinas ou persianas sem cordas, para evitar que crianças menores corram o risco de estrangulamento;
  • Evite deixar que adultos durmam junto com crianças.

No meio do ano, há um período de férias para as crianças, mas não necessariamente para seus responsáveis. Sabemos que as crianças ficam mais tempo em casa, e nem sempre sob a supervisão de um adulto – muitas vezes são os irmãos mais velhos que ficam com essa responsabilidade. Que cuidados devem ser tomados neste tempo?

É importante frisar que crianças devem ser sempre supervisionadas por adultos. Não devemos esperar que as crianças cuidem de sua própria segurança e nem de outras pessoas. Em casa, se os ambientes estiverem preparados para garantir a segurança de crianças, o risco de um acidente ocorrer é muito menor. Por isso, é importante que os responsáveis fiquem atentos a isso.

Seguem algumas dicas que podem ajudar a evitar os principais riscos de acidente em cada cômodo da casa:

Banheiro

  • Mantenha a tampa da privada fechada, se possível lacrada com algum dispositivo de segurança, ou a porta do banheiro trancada;
  • Nunca deixar a criança na banheira sem supervisão, nem mesmo por pouco tempo;
  • Tranque o armário de medicamentos, vitaminas, anti-sépticos bucais e demais produtos que ofereçam perigo de intoxicação;
  • Guarde utensílios afiados e aparelhos como lâminas de barbear, tesouras e secadores de cabelo fora do alcance das crianças.

Cozinha

  • Use as bocas de trás do fogão e certifique-se de que os cabos das panelas estejam virados para dentro, para não serem alcançados;
  • Mantenha sacos plásticos, fósforos, isqueiros, álcool, objetos de vidro, cerâmica e facas fora do alcance das crianças;
  • Toalhas compridas na mesa de jantar são um risco. As crianças podem puxá-la para se apoiar e, se houver algo em cima dela, como líquidos e alimentos quentes, isso pode cair em cima dos pequenos.

Sala

  • Pisos escorregadios e tapetes oferecem risco de quedas. O ideal é colocar antiderrapante nos tapetes, se possível, ou retirá-los do ambiente;
  • Use portões de segurança no topo e na base das escadas. Caso a escada seja aberta, instale redes ao longo dela;
  • Instale grades ou redes de proteção em janelas, sacadas e mezaninos;
  • Substitua fios elétricos desencapados e proteja tomadas com tampas, fita isolante ou mesmo móveis;
  • Tenha certeza de que o piso está livre de objetos pequenos, como botões, colar de contas, bolas de gude, moedas e tachinhas. Tire esses e outros pequenos itens do alcance do bebê, pois, nessa fase do desenvolvimento, quase tudo que a criança pega vai à boca;
  • Cortinas ou persianas com cordas podem trazer o risco de estrangulamento, especialmente para os menores;
  • Cuidado com quinas afiadas;
  • Mantenha os móveis longe de janelas e cortinas. Eles podem ser usados para escalar.

Quarto

  • Se o quarto tiver beliche, as crianças menores de seis anos devem ficar na parte de baixo. Se não tiver escolha, instale grades nas laterais;
  • Evite posicionar camas e qualquer outro móvel perto da janela. Eles podem ser usados para escalar;
  • Ao escolher brinquedos, sempre considere a idade, a habilidade da criança e busque sempre o selo do Inmetro. Evite brinquedos com pontas afiadas, como flechas, e os que produzem sons altos;
  • Sufocações podem ser causadas por brinquedos, travesseiros e lençóis dentro do berço. As grades do berço devem ter no máximo 5 cm entre elas;
  • Cuidado com quinas afiadas e mantenha os móveis longe de janelas e cortinas.

Garagem

  • As garagens não são um local seguro para as crianças brincarem. De qualquer forma, ao manobrar o carro, certifique-se de que não há nenhuma criança por perto;
  • Lembre-se de trancar o carro, especialmente o porta-malas, e manter as chaves e controles automáticos longe do alcance das crianças. Elas podem entrar no veículo, soltar o freio de mão ou mesmo ficar presas lá dentro.

Lavanderia ou área de serviço

  • Após utilizar baldes e bacias, esvazie-os, guarde-os virados para baixo e longe do alcance das crianças;
  • Produtos de limpeza devem ser guardados em lugares altos ou trancados. Além disso, deve-se mantê-los em seus recipientes originais, para não confundir as crianças. Por serem muitas vezes coloridos, as crianças podem pensar que aquilo é um suco ou refrigerante. Além disso, elas são mais sensíveis do que os adultos a produtos tóxicos;
  • Antes de comprar uma planta nova, verifique se ela não é venenosa e apresenta perigo para os pequenos. Este link possui exemplos.

Piscina

  • Elas devem ser protegidas com cercas de no mínimo 1,5 m, que não possam ser escaladas, e portões com cadeados ou travas de segurança que dificultem o acesso dos pequenos;
  • Quando a criançada for usar a piscina, a supervisão de um adulto o tempo todo é essencial.

Junho e julho também são uma época de festas em todo o país. Foguetes, fogos de artifício e balões são alguns dos itens que são muito utilizados. Que tipo de cuidados os responsáveis devem ter neste período?

Em hipótese alguma os responsáveis devem permitir que as crianças brinquem ou fiquem perto do local onde adultos estejam soltando foguetes, fogos de artifícios e balões. Entre os acidentes que podem acontecer com uma criança, um dos mais devastadores é a queimadura. Na maioria das vezes, o tratamento é dolorido, demorado e pode deixar sequelas para toda a vida. Segundo o Ministério da Saúde, em 2013, 291 crianças de até 14 anos morreram e, em 2014, 19.970 foram hospitalizadas vítimas de queimaduras.

Em casa, quais os principais riscos para crianças na primeira infância e como evitá-los?

De acordo com os dados do Datasus, os acidentes que mais atingem a faixa etária de zero a quatro anos são sufocação e afogamento (em número de mortos) e quedas e queimaduras (em número de internações).

Algumas dicas para evitar esses acidentes são:

  • Manter a supervisão constante;
  • Sempre ter em mente que a criança não reconhece os perigos e nem sabe se proteger deles;
  • Não dormir na mesma cama;
  • Não deixar o bebê sobre um apoio que seja alto e sem proteção, como cama, poltrona, trocador e colo de outra criança;
  • Não deixar o bebê mamar sozinho a mamadeira, pois há risco de engasgo e/ou aspiração do leite;
  • Não usar andadores;
  • Nunca segurar o bebê no colo se estiver próximo a substâncias quentes, como café, cigarro, chá, sopa;
  • Proteger varandas, janelas e escadas com grades e redes;
  • Utilizar antiderrapantes em tapetes;
  • Restringir o acesso à cozinha durante o preparo das refeições;
  • Usar as “bocas” de trás do fogão com os cabos voltados para dentro;
  • Colocar protetores nas tomadas;
  • Limitar o acesso a banheiros, lavanderia e piscina;
  • Não deixar baldes ou bacias com água em locais de fácil acesso às crianças;
  • Programar “excursões supervisionadas” para suprir a curiosidade da criança: abrir armário da cozinha ou gaveta do quarto e explorar fauna e flora no quintal;
  • Transmitir medidas educativas de proteção como subir escadas degrau por degrau, usar capacete ou descer do sofá sentado.

No ambiente escolar e creche, a que os pais devem estar atentos?

Os pais devem avaliar se os ambientes da creche são arejados, higiênicos e seguros.

Devem verificar se:

  • os berços são seguros;
  • os bebês são supervisionados o tempo todo em que estão em banheiras e trocadores;
  • não existem produtos ou objetos que representem perigo de sufocamento ao alcance das crianças, como talco e sacos plásticos;
  • existe controle da temperatura do banho;
  • as tomadas elétricas são protegidas ou ficam fora do alcance dos bebês;
  • remédios, produtos de limpeza e de higiene pessoal estão guardados e fora do alcance dos bebês.

Dicas de segurança

Dicas de segurança*

Gabriela explica que dos 0 aos 4 anos, “as crianças ainda estão desenvolvendo a coordenação motora; não possuem habilidade para entender e reconhecer o perigo; tendem a imitar o comportamento dos adultos e têm capacidade limitada para reagir de maneira rápida e correta em situações de risco”. Já dos 5 aos 14 anos, “elas têm maior interesse pelo perigo e por correr riscos; apresentam tendência a desafiar umas as outras, a agir perigosamente e passam mais tempo sem a supervisão dos adultos”. Leia outras dicas:

*Dicas retiradas do relatório “Evitando Acidentes na Primeira Infância” - Criança Segura/Safe Kids Brasil e Rede Primeira Infância.

0 a 1 ano

0 a 1 ano

Principal característica: fragilidade
Acidentes mais comuns: sufocação (letal) e quedas (lesões)

- Transportar o bebê no bebê-conforto quando dentro de veículos;
- Não dormir na mesma cama;
- Não deixar o bebê sobre um apoio que seja alto e sem proteção, como cama, poltrona, trocador e colo de criança;
- Não deixar o bebê mamar sozinho a mamadeira, pois há risco de engasgo e/ou aspiração do leite;
- Não usar andadores;
- Nunca oferecer objetos de risco, como potes de talco, embalagens de remédio, tubos de pomada ou objetos pontiagudos;
- Nunca segurar o bebê no colo se estiver próximo a substâncias quentes, como café, cigarro, chá, sopa;
- Não incentivar brincadeiras com animais desconhecidos;
- Jamais deixar objetos pesados, quebráveis ou medicamentos sobre móveis baixos e acessíveis.

2 a 4 anos

2 a 4 anos

Principal característica: curiosidade e inconsequência
Acidentes mais comuns: trânsito e afogamentos (letais); queda e queimadura (lesões)

- Proteger varandas, janelas e escadas com grades e redes;
- Utilizar antiderrapantes em tapetes;
- Restringir o acesso à cozinha durante o preparo das refeições;
- Usar as “bocas” de trás do fogão, e em todas ela colocar os cabos voltados para dentro;
- Colocar protetores nas tomadas;
- Limitar o acesso a banheiros, lavanderia e piscina;
- Não deixar baldes ou bacias com água em locais de fácil acesso às crianças;
- Usar cadeiras apropriadas no automóvel para o transporte da criança;
- Manter medicamentos em recipientes com tampas de segurança e produtos de limpeza em embalagens originais, em armários trancados. O mesmo vale para bebidas alcoólicas;
- Guardar em lugar seguro objetos pontiagudos e cortantes;
- Manter a supervisão constante;
- Sempre ter em mente que a criança não reconhece os perigos e nem sabe se proteger deles;
- Programar “excursões supervisionadas” para suprir a curiosidade da criança: abrir armário da cozinha ou gaveta do quarto e explorar fauna e flora no quintal;
- Transmitir medidas educativas de proteção como subir escadas degrau por degrau, usar capacete ou descer do sofá sentado;
- Não deixar a criança andar sozinha na calçada, tendo as mãos dadas com um adulto e do lado interno da calçada.

5 a 9 anos

5 a 9 anos

Principal característica: influenciáveis e com habilidades motoras abaixo do julgamento crítico
Acidentes mais comuns: trânsito e afogamentos (letais); queda e queimadura (lesões)

- Manter os cuidados das fases anteriores, mas reforçando a capacidade da criança reconhecer as próprias competências, limites e dificuldades;
- Procurar deixar a criança em ambientes seguros (casa, escola, clube e casa de familiares);
- Não deixar a criança andar sozinha na rua;
- Transportar a criança adequadamente no veículo, utilizando assento de elevação infantil;
- Utilizar colete salva-vidas na criança quando estiver em piscina, lago, rio ou mar. Ainda assim manter a supervisão constante.