Gustavo de Oliveira

Dom Orani recebe Kailane na Arquidiocese

A recente agressão a uma menina de 11 anos, quando ela saía de um culto de candomblé, no Rio de Janeiro, fez suscitar uma série de questionamentos sobre até onde a fé representa Deus e quando ela deixa de existir. O ataque a Kailane Campos, no dia 16 de junho, feito através agressões verbais e de uma pedrada na cabeça, por pessoas ditas cristãs, está sendo encarado como mais um dos atos de intolerância religiosa no Brasil.

A Pastoral da Criança, tendo sua ação voltada para a criança até 6 anos, e mesmo sendo um organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), sempre se atentou na sua missão para que todas as crianças tivessem vida em abundância (Jo 10,10), “sem distinção de raça, cor, profissão, nacionalidade, sexo, credo religioso ou político”, como traz em seu estatuto. Em uma época em que a intolerância religiosa, política e de cor começam a ganhar as ruas, está na hora de rever algumas questões. E quando essa intolerância é representada através de atos violentos e atinge crianças, é porque esse tempo de parar para analisar o respeito pelo próximo é mais que urgente.

Kailane recebeu o apoio de diversos grupos e entidades. O apoio da Igreja Católica à menina aconteceu logo em seguida. No dia 21 de junho, representantes da Pastoral Afro-Brasileira, a Pastoral da Juventude e membros das Comunidades Eclesiais de Base (Cebs) da Arquidiocese do Rio de Janeiro participaram de um ato de solidariedade à garota. No dia seguinte, o presidente da CNBB, Dom Sérgio da Rocha, em entrevista ao site Brasil Econômico, afirmou que “as religiões e as igrejas jamais poderão incentivar a intolerância, porque estariam contrariando a essência de cada religião. Não se pode admitir relação com Deus que não passe pela humanidade e pelo respeito às pessoas”.

Intolerância no Rio de Janeiro

A menina foi recebida ainda pelo Cardeal Dom Orani João Tempesta, da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, no dia 19 de junho. Participaram também a avó de Kailane, e representantes da Comissão Arquidiocesana de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso e da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa. Na ocasião, Dom Orani afirmou que “quando vemos que a nossa cidade começa a dar sinais de intolerância religiosa, de não mais aceitar o outro, isso nos causa uma grande preocupação”. Segundo a Secretaria de Direitos Humanos, o Rio de Janeiro é o estado que apresentou o maior núnero de denúncias de ofensas à religião em 2014, 21 no total. Mais da metade das 39 registradas pelo órgão.

Dias depois, o cardel aproveitou o site da Arquidiocese para falar sobre o assunto. “Quando recebi, no Palácio São Joaquim, na manhã do dia 19 de junho, sexta-feira, a menina Kailane Campos, de 11 anos, que foi atingida por uma pedrada na cabeça por ser reconhecida pela sua religião porque estava vestida com as roupas próprias do Candomblé, na Vila da Penha, aqui no Rio de Janeiro, além do fato pessoal, pude ver no gesto com uma criança uma terrível intolerância religiosa que chegou também em nosso país, infelizmente”, citou.

O Arcebispo sugeriu que no ano em que se comemoramos os 50 anos do Concílio Vaticano II é preciso recordar que “a Igreja, por conseguinte, reprova toda e qualquer discriminação ou vexame contra homens por causa de raça ou cor, classe ou religião, como algo incompatível com o espírito de Cristo”.

Foto: Gustavo de Oliveira