O Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgaram, no último dia 29 de maio, a pesquisa “Nascer no Brasil”, alertando para o alto número de cesarianas realizadas no país. Enquanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que os nascimentos ocorram por parto cesariana em 15% dos casos, no Brasil o número é de 52%; na rede privada essa proporção chega a 88% dos casos.
A pesquisa entrevistou quase 24 mil mulheres em 266 maternidade públicas, privadas e mistas, em 91 municípios de todos os estados brasileiros.
Pesquisa mostra que nem sempre o parto por cesariana é o mais indicado
Cesariana com data marcada
Matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, no dia 29 de maio, mostra que grande parte das mães paulistas optam por cesarianas agendadas antes de feriados e datas festivas. A matéria expõe os riscos que esse procedimento traz para a saúde da criança: “para os bebês, a consequência, dizem médicos, é a prematuridade —que leva a mais internações de UTI neonatal. Para as grávidas em trabalho de parto, o risco de não achar vaga no hospital”.
O depoimento de Vivian Regina Marques, 31 anos, mostra como o agendamento do nascimento de seu primeiro filho, trouxe consequências para o desenvolvimento do bebê.
DEPOIMENTO
‘Programei o parto como se fosse um projeto’
Meu filho nasceu às vésperas da Páscoa de 2013. Não chegou a haver pressão médica para isso. A decisão foi minha.
Vi que completaria 38 semanas na Semana Santa. Comecei a fazer contas, como se estivesse planejando um projeto. Decidi que ele nasceria na quarta-feira, assim, estaria no hospital na Sexta-Feira Santa, feriado, e as pessoas poderiam nos visitar. O que eu não sabia é que o bebê tem uma janela de cinco semanas para nascer. Isso significa que posso ter forçado o nascimento de meu filho até um mês antes do normal.
Quando estava no quarto, após o parto, minha médica ligou, dizendo que era perfeitamente normal e que eu não deveria me alarmar, pois até ela tinha ficado na UTI ao nascer. Reuni forças para perguntar: “Ele está na UTI?”.
Meu marido subiu do berçário dizendo que ele ficaria um ou dois dias na UTI com oxigênio. Fui de cadeira de rodas até lá. Não era “só” oxigênio. Ele estava em um aparelho que o ajudava a respirar, além de ter acesso para soro em seu pezinho.
Quase todas as enfermeiras me perguntavam por que ele havia nascido prematuro. E eu dizia: ele não é prematuro. As 24 horas se transformaram em longos oito dias na UTI.
Já em casa, pós alta, lendo tudo sobre o assunto, descobri que o trabalho de parto prepara o pulmão do bebê. Todo bebê tem água no pulmão, mas eles a expelem ao nascer. O meu não expeliu porque não passou pelo trabalho de parto. E fui descobrindo o que minha ignorância havia impedido de acontecer.
Embora não haja resquícios de doenças, ele teve, depois que entrou na escolinha, três problemas respiratórios. Além disso, peso e altura são sempre um pouco baixos, como se ele fosse mesmo prematuro.
Reconheço o valor de uma cesárea necessária, mas agendar um parto a partir do calendário? Isso foi um absurdo. Hoje, estou grávida do meu segundo filho. Se tudo correr bem e eu tiver uma gestação de baixo risco, devo fazer meu parto em casa.
Vívian Regina Marques, 31, empresária, é mãe de Joaquim e está grávida do segundo filho.
(Com colaboração de André Monteiro e Marcelo Soares)
Pastoral da Criança incentiva o parto normal
A Pastoral da Criança, em seus materiais e orientações, sempre destaca as vantagens do parto normal, tanto para a mãe como para o bebê. Um pré-natal bem feito, com o acompanhamento médico e a realização dos exames, garantem mais saúde para a gestante e para o bebê que vai nascer.