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Ilustração elaborada pelo Núcleo de Comunicação da Pastoral da Criança

Quando Sara* sumiu, foram dias de agonia para a pequena cidade no Rio Grande do Sul, onde ela vive. No momento do desaparecimento, a menina estava com a mãe, irmãos e padrasto, próximos à casa onde moravam. O município de pouco mais de 20 mil habitantes, sentiu a dor de ter uma de suas crianças desaparecida durante cinco dias. Neste período, várias instituições se mobilizaram para colaborar nas investigações e tentar aliviar o sofrimento do restante da família – Sara tem outros cinco irmãos e a mãe estava esperando o sétimo filho. A Pastoral da Criança, que acompanha a menina há três anos, foi uma delas, e procurou confortar a mãe e os demais irmãos durante aqueles momentos de aflição.

A situação aconteceu em janeiro. Quando foi encontrada, Sara não falava. Ao se deparar com as líderes da Pastoral da Criança que a acompanhavam, a menina se escondeu: estava amedrontada demais para encontrar qualquer pessoa. Agora, quase cinco meses depois, a menina ficou à vontade para comentar o que aconteceu. Mas a polícia ainda “está coletando novos depoimentos”, conta Padre Leonardo, assessor da Pastoral da Criança e que acompanhou de perto o caso desde o desaparecimento da menina. Por conta do histórico de violência familiar, ela, junto com os irmãos e primos que moravam no mesmo local, foram colocados em acolhimento institucional até o caso ser resolvido.

Dra. Zilda

“Quanta violência hoje é gerada por falta do mínimo necessário às famílias! Com fé em Deus e confiança em nosso trabalho, conseguiremos fazer maravilhas em nossa comunidade, para que se torne mais justa e fraterna, a serviço da vida e da esperança“.

Papa Francisco

“Todos nós, cristãos, somos chamados a imitar o Bom Pastor e cuidar das famílias feridas”.

Famílias desestruturadas: maior vulnerabilidade

O perfil da menina é considerado o mais vulnerável ao desaparecimento de crianças e adolescentes: vive em uma família com histórico de violência doméstica, e que por falta de condições, divide a moradia com vários membros – além da mãe, padrasto e irmãos da menina, moram no mesmo espaço seus avós, tias e primos. “Uma família desestruturada”, acredita o Padre que conhece há tempos outros problemas enfrentados pela família. Para o Dr. Ricardo Paiva, membro da Comissão de Projetos Sociais do Conselho Federal de Medicina (CFM), “há uma necessidade de se buscar a estruturação da família”. Porém, ele lembra que este tipo de situação pode acontecer “em qualquer status social”.

Durante os cinco dias em que esteve desaparecida, a mídia local divulgou amplamente o caso. Entretanto, para especialistas, a família errou ao esperar cerca de oito horas para procurar a polícia. O ideal é que isso seja feito logo após a família perceber o desaparecimento. Essa pode ser a diferença entre encontrar a criança com vida ou não encontrá-la. Apesar da grande divulgação do caso, sabe-se que o número de desaparecidos no Brasil é muito maior do que as redes sociais ou os noticiários mostram. Uma estimativa do CFM indica que são aproximadamente 50 mil crianças que somem anualmente no país. Infelizmente, um grande número não volta para casa – estima-se que entre 15 e 20%.

No caso de Sara, o que aconteceu com a menina desde o último momento que ela foi vista pela família, até o momento em que foi reencontrada, ainda é cercado de mistério. A situação continua sendo apurada pela polícia e, enquanto a investigação não é encerrada, nada é divulgado. “O caso ainda corre em segredo da justiça”, salienta o Padre. Até que tudo seja resolvido, os líderes da Pastoral da Criança continuam colaborando da maneira que podem: acompanhando a família na casa onde residem, e também as crianças na casa de passagem.

Este texto é parte complementar à Revista Pastoral da Criança, 4ª edição. Acesse e leia o conteúdo completo.

*Nome fictício para preservar a identidade da criança