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Foto: Daria Shevtsova

"Na capacidade de ouvir está a raiz da verdadeira paz"
Papa Francisco

A verdadeira escuta é um processo que exige atenção, paciência, cuidado e, principalmente, disponibilidade de tempo, afeto e sensibilidade por parte dos adultos. A complexidade da escuta muitas vezes esbarra em uma série de questões práticas, tais como: a falta de tempo dos adultos, as muitas ocupações diárias e o medo de perder a autoridade. Essas e outras questões podem impedir uma escuta de qualidade. Por isso, é preciso escutar a partir da observação da criança, do contexto e das brincadeiras. É assim que vamos ter uma percepção mais clara do que elas estão pensando e querendo.

Em tempos de isolamento social, de maiores tensões e de muitas responsabilidades diárias, a família pode correr o risco de esquecer de dar atenção e de ouvir o que a criança quer e deseja expressar. Na convivência, os pais precisam se preparar para ouvir e dar atenção às crianças.

Escutar uma criança vai muito além do que elas dizem ‘verbalmente’. Trata-se do adulto se conectar com as expressões não verbais, que podem ser através de gestos, movimentos, brincadeiras, produções artísticas, desenhos e comportamentos. É muito importante o adulto fazer uma escuta ativa, dar atenção e se colocar ao lado da criança, na mesma altura, olhar nos olhos, dar atenção, escutar, conversar e apreciar as novidades e as “artes” criativas que elas nos apresentam. Responder com tranquilidade exatamente o que ela quer saber.

Na prática, escutar as crianças têm a ver com a possibilidade de oferecer tempos e espaços para atividades livres, coletivas ou individuais, através das quais as crianças possam escolher do que, com quem, onde e com o que irão brincar, interagir e se expressar. Isso favorece as oportunidades para que as crianças se expressem desenhando, brincando, fotografando, lendo, escrevendo, representando etc. Assim, os familiares ficam mais próximos, interagem oferecendo segurança, afeto e acolhem as ideias criativas das próprias crianças.

Os líderes da Pastoral da Criança devem incentivar os pais para estarem atentos a linguagem verbal desenvolvida nas brincadeiras, contação, histórias, parlendas, poesias, canções e pelas conversas no ambiente familiar. Mas, também orientar para a importância da linguagem não verbal, que se utiliza de outros meios de comunicação, tais como: sinais, placas, figuras, gestos, objetos, cores, ou signos visuais. A criança ainda se expressa pelo choro, pelo sorriso, pelo desenho, pela pintura, pela arte, como expressão do sentimento que deseja comunicar.

É muito importante estar atento às produções das crianças. Em muitas situações elas reproduzem no desenho, na pintura ou na dobradura o que gostaria de expressar ou falar, mas ainda não conseguem. Observem os desenhos, as brincadeiras e apreciem como elas se tornam capazes de inventar as mais belas histórias, hipóteses e pensamentos. Escutar, saber ouvir é um gesto de amor que faz a paz acontecer, une e interessa às pessoas.

Irmã Veroni Medeiros
Área técnica de desenvolvimento infantil