1657vertical autonomia Infantil

 Foto: Acervo da Pastoral da Criança

Pode parecer difícil, mas saber como ensinar a criança ser independente é algo que pode ser feito de um jeito bem simples, que muitos já estimulam a autonomia infantil e nem sabem! Afinal, as crianças são curiosas e enxergam novidades em tudo ao seu redor.

Ter autonomia significa não apenas possuir independência, mas também estar inserido na sociedade, assumir as consequências e ter responsabilidade, e acredite os bebês aprendem tudo isso nos primeiros anos de vida. Por isso, a Pastoral da Criança orienta as gestantes e famílias sobre a importância dos cuidados nos primeiros 1000 dias de vida, pois eles são fundamentais para a saúde, aprendizado e potencial no futuro.

ENTREVISTA COM: Dr. Daniel Becker - pediatra formado e com residência pela UFRJ, mestre em saúde coletiva pela ENSP-FIOCRUZ

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Dr. Daniel Becker - pediatra formado e com residência pela UFRJ, mestre em saúde coletiva pela ENSP-FIOCRUZ

O que é a autonomia da criança e por que ela é tão importante?

A autonomia é o mandato do DNA humano, assim como é o mandato do DNA de muitos animais, da maioria dos animais, da maioria dos seres vivos. A gente tem que entender isso. O animal precisa de autonomia, não é como a planta, o animal busca a sobrevivência através da sua própria iniciativa, se ele não faz isso ele morre. Então, como o mandato fundamental da vida que está inscrito no DNA é sobreviver e também se reproduzir, todo bicho, todo ser vivo busca a autonomia, porque se não adquirir autonomia, se não sobreviver por si próprio depois que os pais abandonam, morrem ou desaparecem ele morre. E ele luta para não morrer, luta para sobreviver. Então a autonomia é algo que está inscrito profundamente na nossa biologia. E no ser humano ela vai se expressar especialmente a partir de um ano, 1 ano e 1 ano e meio que é quando a criança começa a interferir mais no mundo. Ela fala, ela consegue manipular os objetos e ela consegue se locomover andando. Mas na verdade esse drive, esse movimento existe desde que o bebê nasce. Sempre o desenvolvimento é uma jornada em direção a autonomia.

Que benefícios a autonomia traz para a criança?

Os benefícios para a criança em primeiro lugar é a sobrevivência, antes de mais nada. Mas certamente o desenvolvimento autônomo é algo que produz na criança inúmeras capacidades de desenvolvimento físico, ela vai se desenvolver melhor de forma funcional se ela aprender a superar obstáculos, aprender a engatinhar, depois andar, depois subir escadas, enfim, o desenvolvimento físico é a permanente busca de autonomia e quanto mais autonomia ela tiver nessa busca mais rápido e mais eficazmente ela vai aprender. Então é nunca ajudar uma criança a fazer o movimento ou fazer uma tarefa, realizar uma tarefa, mas confiar. Se ela acha que pode, essa é a grande frase da Maria Montessori, que é uma educadora que baseou todo o seu trabalho nessa ideia da autonomia: “Nunca faça para seu filho algo que ele acha que vai conseguir fazer sozinho”. Nem que ele vai conseguir, mas que ele acha que vai. Porque ele vai tentar e na tentativa e erro ele aprende um processo muito bonito de que é possível errar, de que o erro é o caminho para o acerto, de que todo o progresso implica em errar, em repetir, em insistir, em persistir até chegar no sucesso, enfim, isso é um aprendizado fundamental. Então é despertar a autonomia no bebê é isso, é dar a ele habilidades fundamentais tanto do ponto de vista físico, motor, cognitivo, emocional quanto também permitir a ele se engajar no próprio processo do seu próprio desenvolvimento descobrindo assim habilidades importantes e ganhando essa noção muito profunda, muito importante que vai acompanhar ele pelo resto da vida de que na autonomia os erros fazem parte de um processo longo de aprendizado e que quanto mais a gente insiste maior é a chance da gente chegar lá. Isso é muito bom para qualquer ser humano.

O que uma criança pode fazer sozinha, de acordo com a idade?

Viva a VidaPrograma de rádio Viva a Vida 1657 - 26/06/2023 - Autonomia infantil

Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra

Quanto ao que ela pode fazer sozinha ou não, falando de tarefas de casa, de ajudar, de resolver as suas próprias questões, os seus próprios problemas, arrumando as suas coisas, isso é muito importante também, tarefas de casa é uma forma muito potente da criança desenvolver sua autonomia, desenvolver o autocuidado e desenvolver também, isso fortalece a sua autoestima, toda vez que ela consegue alguma coisa sozinha fortalece a autoestima e também desenvolver a sensação de pertencimento à família porque não tem sentido os pais ficarem arrumando a casa e a criança ficar sei lá assistindo televisão ou brincando com o celular. Não faz sentido ela ter que participar da vida da família, não é? Então, os bebês, eles devem, um momento importante da autonomia é a introdução alimentar, você oferecer à criança a oportunidade dela tocar no alimento, brincar com o alimento, explorar a textura, a consistência, brincar, jogar fora, jogar no chão isso tudo faz parte do aprendizado da introdução alimentar e se chama introdução alimentar participativa onde ela busca o alimento próprio como um bichinho que está começando a desenvolver a autonomia que vai buscar seu próprio alimento a criança também. Ela não precisa ganhar na boca. Se a gente faz isso desde o início, deixá-la pegar os alimentos com a mão desde os 7 meses mais ou menos que é quando ela está bem sentada e consegue manipular o alimento bem e colocar na boquinha, tem interesse de colocar na boca, a gente chama também BLW que é uma técnica que foi nomeada assim por uma inglesa, é um ganho de autonomia muito grande e especialmente também um ganho muito bom na relação com o alimento porque ela vai buscar seu alimento, aprende que é ela que tem que ir buscar, aprende também a ter intimidade com esse alimento, a tocar, a sentir a textura, o cheiro, o sabor, Isso vai prevenir aquelas crianças que não comem isso, que não comem aquilo, muito seletivas. Então, são coisas muito importantes também. E depois ela vai engatinhar, vai andar e tudo isso ela vai adquirindo essa capacidade sozinha. Dos 3 aos 5 ela já pode começar a participar das tarefas domésticas, tem que arrumar o seu cantinho, pode esticar a sua toalha, ela pode ajudar a levar os garfos e as facas para a mesa, contanto que não sejam cortantes, ela pode ajudar a limpar o quarto dela, pode ajudar a regar a plantinha, ela pode ajudar a mãe se servindo, recolhendo a mesa, colocando os brinquedos na caixa, tudo isso são iniciativas de tarefas domésticas muito importantes. E a partir dos 5, 6 anos quando entra na faixa de escolaridade, organizar a sua própria mochila, a ver o que ela tem que fazer, não pedindo para a mãe ver os deveres, é ela que tem que ver, a idade escolar mesmo, a partir dos 7 anos. Enfim, cuidar de sua própria vida escolar também é uma coisa muito importante. Não acho legal os pais ficarem fazendo as coisas pela criança quando ela tem que assumir essa responsabilidade que também é uma forma importante de adquirir autonomia.

Uma das maneiras de estimular a autonomia da criança é escutá-la, deixá-la falar. Qual é a importância de dar atenção, de escutar de forma ativa o que as crianças falam? E como deve ser feito isso?

Escutar a criança talvez seja uma das coisas mais importantes na sua educação, porque uma criança que é escutada é uma criança que é respeitada, uma criança que é considerada e é uma criança que lhe é dada a atenção. Isso são 3 elementos muito importantes para que ela forme a sua autoestima, a sua capacidade de intervir no mundo, a sua capacidade de comunicação, a sua capacidade de se relacionar com outras pessoas, que são tarefas fundamentais, habilidades fundamentais no seu desenvolvimento. Então, isso tem que começar em casa. Se a criança fala e o que ela ouve e "cala a boca”, “deixa de besteira” esse tipo de coisa, isso vai minando a sua autoestima e ela vai percebendo que o que ela fala, o que ela pensa não tem importância, não é levado em conta. Isso é um erro muito grave que a gente comete. A criança tem o mesmo direito de se expressar que um adulto, ela tem o direito de ser escutada, ela tem o direito de dar a sua opinião. Inclusive, naquilo que se refere a sua educação. Claro que a educação tem que ter autoridade, mas ela não precisa ser autoritária. Uma coisa é uma criança que define a programação da família, “ah, a gente ficou em casa no fim de semana porque ele queria ficar vendo televisão ou jogando videogame ou uma criança que “a gente compra miojo e nuget que são alimentos da pior qualidade porque ele não come legumes”. Não é ele que tem que definir essas coisas. É a definição, a decisão é dos pais, mas a criança pode ser ouvida. O diálogo, a empatia, a escuta são fundamentais, inclusive para mudar o comportamento de uma criança. Você não muda o comportamento de alguém castigando ou muito menos batendo. Você muda o comportamento de alguém ouvindo, acolhendo, legitimando o que ela está falando e dizendo e se colocando em contraposição ou não, colocando a sua posição em relação ao que ela está dizendo. Ali ela vai se sentir respeitada e, portanto, ali ela tem muito mais chance de respeitar o adulto com quem ela está dialogando.

Como os pais devem lidar com as birras das crianças?

Gostaria de finalizar dizendo que o mundo nega autonomia para a criança e isso, especialmente, nessa fase de 1 ou 2 anos, ela não consegue escolher nada, vem tudo pronto, não consegue definir nada, decidir nada, então isso é uma das maiores causas de birra porque qualquer coisa que ela queira, deseje controlar isso é dado pela autonomia, ela vai lutar até o fim para conseguir e raramente ela pode fazer isso. E aí ela vai ter essa irritabilidade típica dessa idade, 1 ano e meio 2, 3 até 4 anos que é a birra, a chamada birra. Então, uma das maiores formas de você evitar a birra, diminuir as crises de birra que incomodam tanto os pais é justamente oferecendo o máximo de autonomia para a criança, pedindo para ela escolher o que quer fazer, quando é possível, é claro, por exemplo tem que sair, tem que ir para o parquinho agora, então “Você quer ir para o parquinho, você quer levar o baldinho ou você quer levar os bichinhos? Você quer ir com a roupa azul ou com a roupa vermelha? Ah, tem que tomar banho. Vamos rastejando que nem jacaré ou vamos pulando que nem canguru?” Deixá-la escolher as coisas, como ela vai querer o banho, com o brinquedo que ela vai querer no banho, porque isso vai facilitar todas as tarefas que a gente tem com a criança.

 

Leia a entrevista na íntegra

1657 - 26/06/2023 - Autonomia infantil (.PDF)  

 

1616º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável

“Paz, justiça e instituições eficazes: promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.”

A Pastoral da Criança criou o app Pastoral da Criança + Gestante para contribuir no acompanhamento e desenvolvimento das crianças e gestantes, auxiliando os líderes voluntários da associação.

 

Dra. Zilda

“As crianças são prioridade absoluta, como garante o Estatuto da Criança e do Adolescente, e merecem carinho, atenção e respeito”.

Papa Francisco

“As crianças são o futuro da família humana: cabe a todos nós promover o seu crescimento, saúde e serenidade”.