Uma mesma natureza humana

Em quase todas as sociedades, as pessoas pertencem a uma ampla variedade de tradições religiosas e a conduta ética da sociedade geralmente é inspirada nos compromissos religiosos predominantes. De fato, os ideais e explicações morais ou éticas frequentemente estão intimamente relacionados às crenças religiosas. Se perguntarmos a uma pessoa por que realiza trabalho humanitário, ela poderá responder:
“Porque amo a Deus, e portanto ao próximo.” Nas tradições judaica e cristã, amar ao próximo, atender às suas necessidades básicas, é visto como a verdadeira prova de fidelidade para com Deus. Na tradição islâmica, ocupar-se dos que sofrem necessidade é inerente à obrigação religiosa. No budismo, a relação da pessoa com seu ambiente se inspira na compaixão por todos os seres. Da mesma forma, um hindu, um sique ou qualquer pessoa que pratique uma religião tradicional baseará suas relações com o mundo nos ensinamentos de seu credo. Hoje em dia, muitas pessoas recorrem a fontes espirituais não inscritas em nenhuma religião em busca de uma inspiração ética que guie seus atos.
O que todas essas explicações para a ação têm em comum é o conteúdo moral ou ético. Os valores subjacentes nos ditam o que fazer e o que evitar na relação com os outros e com a natureza. Ajudam-nos também a forjar ideias e visões de como o mundo deveria ou poderia ser, permitindo que nossa imaginação vá além da realidade que vivemos. Esses valores, portanto, nos ajudam a trabalhar juntos para fazer do mundo um lugar melhor.

Expressões concretas de nossa natureza humana comum

A convicção de que realmente podemos afirmar nossa natureza humana compartilhada e buscar ideais comuns em nossas relações com os outros já foi demonstrada em diversas áreas.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada em 1948. Os direitos que ela define são interpretados em um sentido amplo. A noção de necessidades básicas, por exemplo, não está limitada ao alimento, à água, ao vestuário e ao abrigo, mas abrange também nossas necessidades físicas, psíquicas, culturais e espirituais, o direito a uma identidade e a capacidade e liberdade de escolha.
Outro documento mais recente é a “Carta da Terra”, que se refere à proteção da natureza e orienta nossa conduta em relação ao meio ambiente.
As necessidades específicas da infância receberam menos atenção ao longo da história, mas vêm sendo crescentemente reconhecidas. A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança – uma declaração de direitos paras menores de 18 anos – só foi promulgada em 1989, mas desde então foi ratificada por um grande número de países com diferentes crenças religiosas e culturais, tornando-se o tratado sobre direitos humanos mais ratificado do mundo. O compromisso de criar um mundo melhor para a infância vem colocando os direitos das crianças em primeiro plano na luta mundial para consagrar os direitos humanos como obrigações morais e legais. Nos anos transcorridos desde a adoção da Convenção sobre os Direitos da Criança, cada vez mais governos reconheceram a importância da sobrevivência, desenvolvimento, proteção e participação das crianças.
Em outras palavras, já temos provas suficientes de que os membros da comunidade humana são capazes de se unir, apesar de suas diferenças, em favor de objetivos éticos e morais que regulem, facilitem e inspirem sua vida em comum.