Todos sabemos que é importante transportar bebês e crianças maiores com segurança. Mesmo assim, às vezes, as pessoas desrespeitam as normas obrigatórias do Código de Trânsito Brasileiro.
Infelizmente, a cada dia, o trânsito mata e fere muitas pessoas, em acidentes de carro, de moto, atropelamentos, entre outras causas evitáveis. As estatísticas assustam. De acordo com os dados mais recentes da ONG Criança Segura, com base nas informações disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, os acidentes de trânsito são a principal causa de morte acidental de crianças e adolescentes com idade entre 1 e 14 anos. Desse total, 30% ocorre quando a criança está na condição de ocupante do veículo.
Segundo especialistas, o projeto de lei que altera pontos no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), entregue hoje à Câmara dos Deputados, causa muita preocupação. O projeto de lei prevê que crianças com idade de até sete anos e meio serão transportadas nos bancos traseiros e utilizarão cadeirinhas adaptadas ao peso e à idade. Já as crianças maiores de sete anos e menores de dez anos , somente devem ser transportadas no banco traseiro, utilizando cinto de segurança. A grande mudança no entanto é que, em caso de descumprimento, o motorista não será mais multado e receberá apenas advertência por estar em desacordo com a legislação.
Em entrevista à jornalista Juliana Diógenes, de O Estado de S. Paulo, a Gerente executiva da ONG Criança Segura, Gabriela Guida lembra que todo ano morrem aproximadamente 500 crianças em colisões de trânsito. "Fora as que são internadas, com as quais o SUS está gastando", diz. "O governo gasta muito dinheiro por ano para atender essas crianças que se acidentaram no trânsito, fora as que morrem." Para Gabriela, o uso da cadeirinha no banco traseiro é "a única forma segura" para transportar crianças no veículo. "Os assentos de um carro foram pensados para um adulto. É por isso que uma cadeirinha, adaptada ao corpo e à massa da criança, é a única forma segura para realizar o transporte", explica. (Fonte: https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,40-das-criancas-que-morrem-no-transito-no-brasil-estao-dentro-de-veiculo-n-supera-atropelamentos,70002857324)
Segundo Dr. Nelson Arns Neumann, Coordenador Internacional da Pastoral da Criança e Doutor em Saúde Pública, “é responsabilidade dos pais e de toda a sociedade garantir a segurança de todas as crianças no trânsito e nos transportes escolares, e não ceder aos desejos dos pequenos de andarem fora das cadeirinhas, sem cinto, no banco dianteiro ou de qualquer forma que coloque em risco suas vidas, mesmo que seja só até a outra esquina”.
O uso da cadeirinha comprovadamente evita milhares de acidentes. Em junho de 2003, Silvia Arns Neumann, de 31 anos, filha caçula da Dra Zilda Arns Neumann, sofreu um acidente de carro e faleceu oito dias depois. Seu filho Danilo, de três anos, estava no carro, foi lançado (com sua cadeirinha) a 20 metros de distância e não sofreu nenhum arranhão.
Ainda na avaliação da gerente executiva da Criança Segura, o fim da aplicação de multa para quem for flagrado sem a cadeirinha no banco traseiro é "muito ruim" e "vai na contramação das recomendações internacionais". A ONG é integrante de uma rede internacional chamada Safe Kids, que discute medidas no mundo inteiro para prevenção e redução de mortalidade infantil no trânsito. "Tudo que vemos lá fora é o contrário. Outros países estão trabalhando muito para colocar a cadeirinha na lei", diz Gabriela.
Leia mais orientações sobre como transportar crianças em segurança na entrevista de Gabriela Guida Freitas, coordenadora nacional da ONG “Criança Segura”, para a Pastoral da Criança.
ENTREVISTA: Gabriela Guida Freitas
Como está a realidade do trânsito no Brasil em relação à criança?
Hoje, o trânsito é a principal causa de mortalidade infantil acidental. Corresponde a 40% das mortes. E isso é muito preocupante, principalmente, porque a gente sabe que 90% das causas são evitáveis. A gente não precisa perder uma criança para o trânsito. Então, é bem importante que a gente tome atitudes mais preventivas, em caráter urgente.
Quais dispositivos de retenção veicular são indicados para as crianças?
Uma das principais medidas de segurança que a gente pode tomar hoje é o uso de um dispositivo de retenção, mas com a atenção no uso da cadeirinha. Esse é o único jeito de levar a criança segura no carro. Para isso, a gente precisa saber qual é a cadeirinha correta, qual é o banquinho correto para usar em cada faixa etária. Hoje, a nossa lei de trânsito aqui no Brasil dita sobre a cadeirinha por idade. Então, tem o bebê-conforto até um ano, a cadeirinha de um a quatro anos e o assento de elevação de quatro a sete anos e meio. Porém, a gente recomenda que os pais sempre estejam bastante atentos na questão de peso e altura. Então, é muito importante ler o manual. Às vezes, a criança não tem a idade que ali está dizendo, mas tem a razão peso/altura que o manual traz, que o fabricante indica. É importante que os pais se informem para conseguir conciliar todos esses aspectos.
Como as crianças devem ser transportadas nas motocicletas?
De preferência, as criança não devem ser transportada na motocicleta. Essa é a primeira recomendação. A gente sabe que fica muito vulnerável na moto e, para a criança que é mais frágil, mais intolerante a impacto, é bem perigoso. Hoje, a nossa lei permite que crianças a partir de sete anos já andem na garupa de uma moto. E aí se você não tiver outra forma de levar a criança, ela a partir dos sete anos, já poderia ir pela lei. Mas, é muito importante que os pais ou os responsáveis busquem um capacete adequado para o tamanho da cabeça daquela criança. Não é o mesmo capacete que o adulto usa.
Como fazer para transportar uma criança numa bicicleta?
A criança, quando estiver andando de bicicleta, tem que estar sempre de capacete. Isso é fundamental. Em hipótese alguma andar sem o capacete. A cabeça é uma parte vital e qualquer queda ou lesão pode ser bem grave. Então, é essencial usar o capacete e outros equipamentos de proteção, como joelheira e cotoveleira. Além de estar acompanhada de um adulto responsável.
Quando os pais utilizam o transporte público para levar a criança no ônibus, por exemplo, a que eles devem ficar atentos?
Procurar estar sempre sentado, de uma forma que tenha firmeza, segurança e atenção na criança. Mas, a gente não tem no Brasil o modelo de cadeirinha no transporte público. Então, o jeito é se certificar que está mais firme, mais seguro.
Há regiões do país em que muitas crianças são transportadas em barcos e canoas. Que cuidados são necessários nesses casos?
Têm dois cuidados bem importantes: um é o colete salva-vidas, ele é indispensável, e o outro é cuidar com a questão do motor. O motor tem que ter uma tampa protetora. Em muitos acidentes no Brasil, o que acontece é que o motor pega o cabelo da criança e puxa, levando ao escalpelamento.
Quais são as exigências para o transporte escolar?
O transporte escolar tem uma série de exigências. Cada condutor vai buscar junto ao órgão responsável pelo trânsito da sua cidade. Então, basicamente isso vem com uma identificação, com uma faixa amarela, indicando que é transporte escolar. O motorista passa por uma inspeção e no veículo tem uma situação de assento das crianças. Há todo um trâmite legal e burocrático que o próprio condutor tem que buscar junto aos órgãos de trânsito.
Muita gente pensa que o cuidado no transporte das crianças deve-se tomar só quando se pega a estrada por causa da fiscalização. Mas, esse deve ser um cuidado cotidiano, não é mesmo?
Com certeza. A gente sabe os acidentes de trânsito acontecem de carro. Há uma estatística. É quando a gente está relaxado, com menos atenção, na zona de conforto, que corre mais riscos. Então, tem que usar o cinto atrás em todos os momentos.
Saiba mais: https://criancasegura.org.br/