dom paulo evaristo
Foto: Arquidiocese de São Paulo

Na certeza de uma vida inteira dedicada ao bem do próximo e na esperança do Cristo Ressuscitado, a Coordenação Nacional da Pastoral da Criança informa o falecimento de Dom Paulo Evaristo Arns, no final da manhã desta quarta-feira (14 de dezembro de 2016), em São Paulo (SP). O cardeal e arcebispo emérito de São Paulo estava internado no Hospital Santa Catarina desde o dia 28 de novembro, tratando de problemas pulmonares decorrentes da idade avançada. 

Dom Paulo nasceu no dia 14 de setembro de 1921, em uma colônia de descendentes de alemães, na cidade de Forquilhinha, em Santa Catarina. Filho de Gabriel Arns e Helena Steiner, tinha treze irmãos, entre eles a Dra. Zilda Arns Neumann. A família preservava muito da cultura de seus antepassados no dia a dia, em especial a proximidade com a religião. Desde cedo, as crianças também aprenderam a contribuir com os trabalhos da casa e da lavoura.

Seguindo sua vocação, Dom Paulo foi ordenado sacerdote no dia 30 de novembro de 1945, aos 24 anos, em Petrópolis (RJ), integrante da Ordem dos Frades Menores (OFM). No dia 7 de julho de 1966, recebeu a ordenação episcopal. Em 5 de março de 1973, foi nomeado cardeal pelo então Papa Paulo VI.

Em julho deste ano, a Arquidiocese de São Paulo preparou uma cerimônia em homenagem ao cinquentenário de sua ordenação episcopal, que contou com a presença de familiares, amigos e cerca de 40 bispos e 200 padres. Na ocasião, Dom Paulo recebeu, inclusive, uma mensagem especial enviada pelo Papa Francisco, parabenizando pelo jubileu e reconhecendo sua atuação pastoral em defesa dos direitos humanos.

Dom Paulo e a semente da Pastoral da Criança

Dom Paulo Evaristo Arns foi o grande responsável por semear a criação da Pastoral da Criança. Esta semente brotou em 1982, na Suíça, do encontro de Dom Paulo com James Grant, diretor executivo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), durante uma reunião da Organização das Nações Unidas (ONU). Na ocasião, surgiu a proposta de que a Igreja Católica brasileira tivesse uma ação para reduzir a mortalidade infantil. “Fica o nosso grande agradecimento, afinal foi ele que, com James Grant, trouxe a ideia da Igreja se envolver na questão da sobrevivência infantil. A ideia original foi dele e sempre foi grande o apoio que deu para que a Pastoral da Criança continuasse e se desenvolvesse”, afirma Dr. Nelson Arns Neumann, sobrinho de Dom Paulo e coordenador nacional adjunto da Pastoral da Criança.

Para desenvolver o projeto que seria apresentado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Paulo convidou sua irmã, a médica pediatra e sanitarista Zilda Arns Neumann, contando com o apoio de Dom Geraldo Majella, na época arcebispo de Londrina. O trabalho teve início na Paróquia de São João Batista, em 1983, no município de Florestópolis, Arquidiocese de Londrina, no estado do Paraná. A região foi escolhida por apresentar uma alta taxa de mortalidade infantil – 127 crianças em cada mil nascimentos. Após um ano de atividades, a mortalidade infantil diminuiu para 28 crianças entre cada mil que nasciam.

A influência de Dom Paulo na vida da Dra. Zilda já era de longa data. Na época em que ela estava estudando para o vestibular, contar com o apoio do irmão mais velho foi essencial para não desistir da escolha pela medicina. De início, a família teve dificuldades para aceitar a decisão, pois não era uma profissão comum para mulheres. Mas Dom Paulo ajudou a convencer o pai de que a vocação da irmã não era ser professora, conforme era o desejado. Esta história está apresentada no Museu da Vida, que fica junto à sede da Pastoral da Criança, em Curitiba (PR), a partir de um vídeo que conta com o depoimento de Dom Paulo e é exibido no Memorial Dra. Zilda. Muitas fotos e outras histórias também fazem parte do acervo e podem ser apreciadas no Museu.

Além de toda a sua contribuição para a história da Pastoral da Criança, a vida de Dom Paulo foi marcada por uma série de ações voltadas às populações mais pobres e necessitadas. Durante toda a trajetória na Igreja, foi um exemplo de que os ensinamentos cristãos se concretizam no contato com o povo, pelo viés da solidariedade, buscando a transformação das injustiças sociais. Ele costumava dizer que para que essas transformações aconteçam, é importante cada um se interessar pela política e agir, no sentido de defender os direitos daqueles que mais precisam. O cardeal ficou reconhecido, ainda, pela defesa do ecumenismo, por incentivar o respeito e a união de esforços entre as religiões.

Lembranças e pedidos

Dom Paulo recebe visita de Dom Angélico
 Dom Paulo recebeu a visita de Dom Angélico Sândalo Bernardino,
bispo emérito de Blumenau (SC), no dia 30 de novembro.

“Eu visitei Dom Paulo no dia 30 de novembro, 1º e 2 de dezembro. Neste domingo, estive novamente com ele, em São Paulo, na UTI. Nestes últimos dias, ele nos falou muito que a criança é o centro de tudo, que nós devíamos cuidar das crianças e que o país precisava tê-las como centro de sua atenção”, relata Dr. Nelson Arns Neumann, sobrinho de Dom Paulo e coordenador nacional adjunto da Pastoral da Criança.

Na conversa, também foi citada a necessidade de se resolver a questão do saneamento básico e chegar água tratada nas favelas, uma ideia que já tinha sido conversada com outro familiar, Flávio Arns. “Ele falou que essa é uma característica interessante da família, que às vezes não tem nada a ver com o assunto, mas todo mundo se une e trabalha junto pela causa. E tendo a causa da criança como a maior de todas”, contou Dr. Nelson

O sobrinho do cardeal também relata um diálogo marcante que teve com o tio, na presença do padre José Bizon, de São Paulo. “O padre Bizon destacou o ecumenismo, dizendo que Dom Paulo foi quem deu passos concretos e significativos neste aspecto. E a gente comentou: 'Dom Paulo, a semente que o senhor plantou está dando frutos, continua. E o ecumenismo é muito importante'. Ele respondeu: “Sempre”, acompanhando a conversa, mesmo com a dificuldade respiratória”.

Que esta semente da solidariedade e do cuidado com as crianças possa encontrar terra boa em cada vez mais corações, inspirados pelo exemplo de amor de Dom Paulo Evaristo Arns.

Velório

O velório do Cardeal Paulo Evaristo Arns ocorrerá na Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção e São Paulo, na Praça Sé, na cidade de São Paulo (SP), a partir das 19h desta quarta-feira (14). O corpo de Dom Paulo será seputado na cripta da Catedral, na sexta-feira (16/12), após a celebração que será presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, às 15h.

Durante o período do funeral, acontecerão missas a cada duas horas. 

Missa de sétimo dia

Familiares, amigos e integrantes da Pastoral da Criança de Curitiba (PR) estarão reunidos no Santuário Nossa Senhora de Guadalupe (Praça Senador Correia, 128 - Centro), no dia 20 de dezembro, às 12h, para a missa de sétimo dia de Dom Paulo. A celebração será presidida pelo Pe. Danilo. 

 

Confira a cobertura da imprensa sobre a trajetória de Dom Paulo:

Jornal da Band

Rede Vida

Tv Evangelizar