Arquivo Pastoral da Criança
O ato de amamentar veio à tona nos noticiários e redes sociais novamente nos últimos dias. O motivo – que poderia ser uma boa notícia, como o aumento nos índices de amamentação – foi uma foto da deputada Manuela D'Ávila amamentando a filha de quatro meses, postada pela própria em uma rede social, e depois, colocada em um blog de um jornal de circulação nacional. Uma imagem normal, não fossem os comentários de alguns internautas. Um deles chega a dizer que ela – por ser deputada – não poderia se “expor” daquela maneira. Em resposta na rede social, Manuela argumentou ao homem que reclamou da foto: “Esse peito não é de deputada, é da mãe da Laura”. E completa ainda: “Mulher em propaganda de cerveja não indigna o João, não é?”. Mas a questão é: em que momento o ato de amamentar se torna uma exposição e não apenas um ato de amor?
A amamentação é indicada como único alimento do bebê até os seis meses de vida pela Organização Mundial da Saúde e corroborada pelo Ministério da Saúde. Pesquisas em todo o mundo demonstram a importância do aleitamento materno. Recentemente, o pesquisador brasileiro Cesar Victora mostrou a relação entre a amamentação, inteligência, nível de escolaridade e renda.
Responsável por garantir nutrientes, anticorpos e suprir todas as necessidades nutricionais da criança, amamentar aumenta o vínculo entre a mãe e o bebê, e acalma – justamente o que Manuela tentava, já que a filha estava um pouco irritada por conta de uma vacina. Apesar de todas as indicações positivas para o ato de amamentar, ele ainda gera incômodo para algumas pessoas.
Divulgação When Nurture Calls
Questão mundial
Casos semelhantes foram responsáveis pela criação de leis que permitem mães a amamentar seus filhos em qualquer local. A mais recente passou a vigorar em dezembro de 2015, no estado de São Paulo. Foi a capital paulista o primeiro município do país a instaurar uma legislação específica sobre o assunto, em abril de 2015. Depois dela, o estado do Rio Janeiro adotou a ideia e o Rio Grande do Sul caminha para a empregar legislação semelhante.
É impensável que, em 2016, ainda seja necessário se pensar em legislações que garantam às mães o direito de alimentar seus filhos. E isso não acontece apenas no Brasil. No México, são recorrentes casos de mulheres que são constrangidas por amamentarem em público; na Síria, especula-se o assassinato de uma mulher que teria amamentado seu filho em um espaço público, embaixo de uma árvore. No estado do Texas, nos EUA, uma campanha tenta chamar a atenção para as situações que mães se obrigam a enfrentar para amamentar seus filhos, em locais como banheiros pequenos e sujos. No cartaz, o questionamento: “Você comeria neste lugar?” busca fazer com que a população compreenda a importância da amamentação, e apoie a campanha.
Muitas vezes, o que falta é empatia com essas mulheres e crianças, e o que sobra é machismo. Quem sabe, hoje, essa geração de mães esteja tendo que mostrar o amor por seus filhos não apenas amamentando, mas levantando a voz, para que as próximas possam demonstrar todo o amor por seus bebês onde e quando eles desejarem ser alimentados.