Você tem remédios em casa? Costuma tomar algum deles sem receita médica ou indicar para familiares e amigos? Conhece alguém que costuma fazer isso? Embora seja muito perigosa, essa é uma prática comum nos dias de hoje. A utilização de medicamentos por conta própria ou por indicação de pessoas não habilitadas, para tratamento de doenças cujos sintomas são “percebidos” pelo usuário, sem a avaliação prévia de um profissional de saúde (médico ou odontológico) é chamada de automedicação. Na convivência com as famílias acompanhadas pela Pastoral da Criança, e mesmo com outras pessoas no dia a dia, os exemplos são comuns.
Em Blumenau (SC), gestantes e mães são orientadas sobre os perigos da automedicação durante a Celebração da Vida.
“Cheguei na casa e a mãe me contou que a filha andava com tosse e sem comer direito. A vizinha tinha um remédio laranja em casa e deu uma medida para a criança que estava doente” – relata Jocemery Blockvel Villain, técnica de enfermagem que atua como coordenadora da Pastoral da Criança na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Blumenau (SC). “A vizinha deu uma medida e a menina, de 3 anos, começou a comer. Mas era antibiótico, que tinha sido receitado para dor de garganta, e não remédio para abrir o apetite, como pensaram”, relata.
Mery, como é conhecida, é voluntária há 12 anos e acompanhou essa família em meados de 2002 e 2003. Com o encaminhamento da criança ao serviço de saúde, descobriu-se que se tratava de uma amigdalite. Até hoje, lembra dessa história como exemplo da prática de automedicação. Na época, atuava como líder e orientou a família, explicando que não se deve dar remédio para a criança sem receita médica. “Tem que levar no posto de saúde, mesmo que já esteja melhorando”, afirma.
Perigos do uso excessivo de medicamentos
Mesmo os adultos costumam dizer: “Tomei um comprimido marrom para dor de cabeça”, conta Mery. Muitas vezes, é um anti-inflamatório, que pode até curar a dor de cabeça por causa da dose de analgésico, mas contém outras substâncias que não eram necessárias e são capazes de gerar outros efeitos.
Dra. Zilda
“Peço a Deus que sempre lhe dê muita saúde, ânimo, coragem e muito amor, nessa caminhada a serviço da vida e da esperança”.
Papa Francisco
“Como o Bom Samaritano, não nos envergonhemos de tocar as feridas de quem sofre, mas procuremos curá-las com gestos concretos de amor”.
A técnica de enfermagem alerta também para o perigo do uso excessivo de determinadas substâncias – o que pode, inclusive, fazer com que o efeito terapêutico desejado já nem ocorra mais, porque o organismo fica saturado. “Tem tantas doenças que os anti-inflamatórios que nós temos já não estão dando conta... Ainda bem que as farmácias foram proibidas de vendê-los sem receita médica, apesar de ainda acontecer, principalmente no interior”, analisa.
Informar para prevenir
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os análgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios são as categorias de medicamentos que mais geram casos de intoxicação. “Infelizmente, ainda é comum a prática da automedicação. Participei de uma palestra com um bioquímico, que explicava os efeitos do uso abusivo de antibióticos ou do uso incorreto, mesmo quando receitado. Por exemplo, a pessoa para de tomar o remédio porque começou a melhorar, não finaliza a dose completa que foi receitada”, observa Márcia Jaqueline da Silva Negherbon, coordenadora diocesana de Blumenau (SC). E isso tem consequências. Na última assembleia com os líderes, Márcia e mais algumas pessoas que participaram da palestra compartilharam com os demais o que aprenderam.
A atuação dos líderes da Pastoral da Criança, muitas vezes, é essencial para conscientizar as famílias e evitar possíveis casos de intoxicação medicamentosa. Por isso, para diminuir os exemplos de automedicação, é importante repassar essas informações e alertar sobre os riscos. E, além disso, incentivar os cuidados com a saúde de maneira geral, para que o uso de remédios seja apenas o necessário, sem excessos.