Quem nunca assistiu a uma propaganda que terminava com uma tela de fundo azul e os dizeres: “Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado”?
Nos últimos anos, com as descobertas da medicina e da indústria farmacêutica, associadas ao aumento de expectativa de vida da população, os medicamentos adquiriram um valor simbólico que vai além da função terapêutica. O acesso foi facilitado, a variedade de produtos disponíveis nas farmácias cresceu e, consequentemente, as inserções de publicidade nos veículos de comunicação também.
Mas é preciso ter cuidado. “Os medicamentos não são bens de consumo comuns, e sim, bens de saúde, por isso sua propaganda está sujeita a regras específicas”, alerta o site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Propagandas sobre medicamentos
A publicidade de medicamentos, para o público em geral, só é permitida para os produtos com venda isenta de prescrição médica, ou seja, que não possuem tarja vermelha ou preta em suas embalagens. Já os medicamentos que exigem prescrição médica (tarja vermelha ou preta) só podem ser anunciados aos profissionais de saúde que podem receitá-los (médicos ou dentistas) ou dispensá-los (farmacêuticos).
Mesmo assim, é cada vez mais comum pessoas terem um estoque de medicamentos que usam em seu cotidiano, não só na caixinha de primeiros socorros que fica em casa, mas também na bolsa, no carro, na gaveta do trabalho, etc. Há quem, inclusive, empreste para o colega que não possui e teve aquela dor de cabeça incontrolável durante o expediente. “Toma que passa”, costuma-se dizer.
O que nem sempre é levado em consideração são os riscos da automedicação, sem nenhum conhecimento técnico. Existem variações de peso e sensibilidade a determinadas substâncias (que podem até acarretar em alergias), entre tantos fatores que determinam como cada organismo vai reagir ao contato com um remédio. Dessa forma, o uso inapropriado dos medicamentos tem se tornado uma preocupação tanto do ponto de vista clínico quanto do econômico.
Pesquisa sobre a influência da propaganda de medicamentos
Em uma pesquisa realizada em 2007, com um público de 230 idosos, 17,8% dos entrevistados relataram utilizar medicamentos por influência da propaganda; 2,2% consideraram que os medicamentos veiculados na mídia nunca fazem mal e 6,5% acreditavam que eles sempre fazem bem. Isso nos leva a pensar também na influência que chega às crianças.
“A exploração do valor simbólico do medicamento - socialmente sustentado pela indústria farmacêutica, por agências de publicidade e empresas de comunicação - passa a representar um dos mais poderosos instrumentos para a indução e o fortalecimento de hábitos voltados para o aumento de seu consumo”, relata o estudo, que chama a atenção para o perigo dos remédios serem vistos como bens de consumo e não como instrumentos de saúde.
A pesquisa aponta, ainda, que as indústrias farmacêuticas gastam em média 35% do valor das vendas com a chamada "promoção farmacêutica", publicidade e marketing de seus produtos. Por isso, nesse contexto, é relevante observar o impacto da propaganda de medicamentos e demais produtos relacionados à saúde, que influenciam tanto a prática dos profissionais do setor quanto às demandas das populações, tendo consequências para a saúde das famílias.
Referências:
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
Influência da propaganda na utilização de medicamentos em um grupo de idosos atendidos em uma unidade básica de saúde em Aracaju (SE, Brasil) – artigo publicado por integrantes do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social, do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de Sergipe.