Foto: April e. finch
Hoje em dia, mais da metade dos bebês brasileiros nascem por meio da cirurgia cesárea. Na rede particular, esse índice chega a 84,6%. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa recomendada seria entre 10% e 15% dos partos.
A Lei nº 13.257 (Marco Legal da Primeira Infância), aprovada no dia 8 de março de 2016, ressaltou em seu Art 8º: “A gestante tem direito a acompanhamento saudável durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso, estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras intervenções cirúrgicas por motivos médicos”. A partir deste Marco, há a expectativa de que essa realidade comece a mudar.
Quais são as causas destes números altíssimos? E o que eles trazem como consequência para a saúde das mulheres e das crianças? Esse é o tema da entrevista com a enfermeira da coordenação nacional da Pastoral da Criança, Regina Reinaldin.
Programa de rádio Viva a Vida
1276 - 14/03/2016 - Consequências da cesariana
Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança.
Ouça o programa de 15 minutos na íntegra
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Por que há tanta discussão sobre esse tema: parto normal ou cesariana?
Por falta de orientação à gestante, medo do parto, falta de decidir e conversar com os profissionais de saúde antes. Às vezes, ela não sabe nem onde vai ganhar o bebê, por causa da questão das vagas. Muitas gestantes querem marcar o dia do parto por interesse próprio. No entanto, os médicos dizem que poucas mulheres, de 8 a 10%, precisam do parto cesário.
A escolha do tipo de parto pode afetar a saúde do bebê?
Durante a formação do feto, os pulmões se desenvolvem em um ambiente cheio de líquidos. E, até o nascimento, esse órgão não tem um funcionamento efetivo. Com o parto normal, na passagem do bebê pela pelve – que é estreita e apertada – ocorre a retirada do excesso do líquido dentro dos pulmões. Isso acontece por conta da compressão torácica e o bebê se recupera melhor, tendo menos riscos de desenvolver problemas respiratórios. Já na cesária, que não é um processo natural, mas sim cirúrgico, é feito um corte para a retirada direta do bebê, implicando em alguns riscos de anestesia, de pontos, possibilidade de infecção e uma recuperação mais lenta. Ainda assim, é importante lembrar que a escolha do parto não afeta o desenvolvimento neurológico da criança.
Regina Reinaldin - Enfermeira da Pastoral da Criança
Quais são as reais indicações para a realização da cesariana?
Apesar dos médicos estimularem o parto normal, alguns casos exigem a realização da cesariana, para que os nove meses de gravidez acabem com sucesso. Por isso que não dá para ser completamente a favor de um ou de outro: tem que ser a favor do parto que traga benefícios para a mãe e para o bebê. Na hora do parto é preciso que seja feita uma avaliação médica antes de indicar a cesariana. Mas existem alguns casos comuns que exigem cesariana, como: quando o bebê está sentado, há deslocamento de placenta ou gestações em que a criança é muito maior que a pelve da mãe.
Na recuperação pós-parto, qual a diferença entre o parto normal e a cesariana?
Se o bebê nasce de parto normal, a mãe pode levantar em seguida, não há dores durante a recuperação. E, se foi realizada episiotomia, os pontos serão expelidos naturalmente. A cesariana, no entanto, é um procedimento cirúrgico. Com isso, a mulher levanta entre 6 a 12 horas depois, os pontos devem ser retirados entre 10 e 15 dias após o parto, a mulher sente dores e tem distensão abdominal no pós-operatório.
Regina, você tem mais alguma orientação sobre esse tema?
Gostaria de comentar sobre programar a cesariana sem necessidade. Cesarianas agendadas com uma semana de antecedência, ou mais, são um erro. O Ministério da Saúde tem dados que comprovam que a criança que nasce duas semanas antes do tempo tem 120 vezes mais chances de ter problemas respiratórios. As cesarianas também aumentam consideravelmente o risco de complicações após o parto.
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Leia a entrevista na íntegra: 1255 - Entrevista com Regina Reinaldin - Consequências da cesariana (.PDF)
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