Foto: Merelize
Pelo menos 44% das crianças entre 0 e 14 anos encontram-se em situação de pobreza; e 17%, em situação de extrema pobreza. Os dados são os mais atualizados e compilados na publicação "Cenário da Infância e Adolescência - 2016", lançada no início de abril pela Fundação Abrinq, que pretende trazer um olhar mais preciso às questões da infância e adolescência no Brasil para quem trabalha na área. Entre os dados que chamam a atenção, estão ainda o número de crianças com baixo peso (188 mil), peso muito baixo para a idade (69 mil) e obesas (500 mil).
A Região Norte se destaca por ser a que concentra a maior porcentagem de pessoas até 18 anos, quase 40%. Entretanto, isso não significa que o cuidado dedicado às crianças seja proporcional ao indicador. Segundo dados de 2014 do Ministério da Saúde, o Norte é a região que apresenta o maior índice de mortalidade infantil (15,7 a cada mil nascidos vivos de 0 até 1 ano) e de mortalidade na infância, ou seja crianças entre 1 e 5 anos (18,6 a cada mil nascidos vivos).
Dra. Zilda
“O preço da violência contra as crianças é uma sociedade desestruturada no futuro”.
Papa Francisco
“Que o clamor dos excluídos seja escutado na América Latina e em toda a terra”.
Outro dado que chama a atenção é em relação ao saneamento básico local. Mais de 45% dos domicílios não contam com acesso à água, e 65% não têm rede de esgoto ou fossas antisépticas. E como lembra a Campanha da Fraternidade de 2016, o cuidado com o saneamento básico significa se preocupar com a saúde. Isso mostra a vulnerabilidade das crianças da região.
É com este cenário que Maria Lucinete da Silva se depara cotidianamente. Coordenadora da Pastoral da Criança na Diocese de Itacoatiara, no Amazonas, ela acompanha pelo menos quatro comunidades ribeirinhas – aquelas que residem próximo aos rios e aprendem a viver no local com seus desafios e limites. E está tentando reativar outras quatro. Nestas comunidades, longe dos olhos da mídia e da maioria da população, vivem crianças e adolescentes que não conseguem acessar direitos mais básicos, como o do acesso à água, conforme indicado acima. “A Pastoral tem uma riqueza de conhecimento muito grande que é preciso levar a estas famílias”, explica a coordenadora.
Retrato pastoral
Ela explica que a carência e os problemas encontrados nestas comunidades, como o grande número de pessoas sem emprego, expõem a necessidade da continuidade do trabalho junto às crianças destes locais. E é por isso, que em alguns casos, líderes de outras comunidades fazem as visitas em comunidades ribeirinhas, para que as crianças não fiquem sem o acompanhamento, e incentivando pessoas da própria comunidade a atuarem como voluntários. “É difícil. Quando tem a cheia [o rio] temos a possibilidade do barco chegar até as comunidades, mas quando [o rio] está seco, o barco não chega, então andamos parte do caminho a pé”, explica.
A recompensa vem em forma de participação. Segundo Maria, o valor dado ao trabalho com as crianças é diferente das comunidades urbanas. “Nas comunidades ribeirinhas, eles dão muito valor, quase não faltam à Celebração da Vida”, afirma. Ela lembra que o papel de orientação assumido pelos líderes da Pastoral da Criança é essencial para muitas dessas famílias. “É muito importante essa colaboração da Pastoral, de conversar com as famílias, explicar o desenvolvimento das crianças, até pela carência desses locais”, relata.
Leia também
Pastoral da Criança e populações em situação de vulnerabilidade
SUAS: uma política pública para atender a todos que dela necessitam
Números
Os ribeirinhos são apenas um dos grupos de vulnerabilidade que a Pastoral da Criança acompanha. Entre os grupos identificados no Sistema de Informação da entidade há ainda indígenas, quilombolas e de acampamentos rurais que, no quarto trimestre de 2015, somaram mais de 21 mil crianças acompanhadas em 732 comunidades pelo país. Mas a atuação direta se dá também com ciganos, vítimas da seca, migrantes, crianças com deficiência, entre outros, conforme conta o gestor de relações institucionais da Pastoral da Criança, Clóvis Boufleur, em entrevista. O objetivo é apenas um: garantir que a missão de vida plena chegue a todas as crianças, sem distinções.