O que posso fazer se…
Nesta seção você encontrará recomendações sobre o que fazer quando enfrentar problemas específicos na implementação do programa de educação ética. Os casos hipotéticos e as recomendações a seguir são baseados em nossas experiências durante as oficinas-piloto e nos desafios encontrados durante o desenvolvimento de Aprender a Viver Juntos.
É provável que ocorram situações problemáticas. Isto exigirá preparação por parte dos facilitadores, que deverão intervir de maneira decidida e, ao mesmo tempo, emocionalmente inteligente. Você está convidado a analisar os seguintes casos e refletir sobre como estas situações poderiam influenciar o seu desempenho como facilitador.
O que posso fazer se…
Não tenho um grupo religiosamente diverso.
Quero aumentar a conscientização sobre a diversidade religiosa e promover valores que facilitem a coexistência de pessoas de religiões diferentes; entretanto, não tenho um grupo religiosamente diversificado e nem há muita diversidade religiosa em minha cidade.
Aprender a Viver Juntos foi concebido para ser utilizado com participantes de diferentes denominações religiosas. Entretanto, mesmo que não disponha de um grupo diversificado em termos religiosos, você poderá usar o material para aumentar a conscientização sobre outras religiões ou para trabalhar com questões culturais. Considere estas recomendações úteis:
> Use atividades vivenciais para expor os participantes a outras crenças religiosas. Você pode usar a atividade de Visitas Inter-religiosas da página 80 para introduzi-los a outras crenças e levá-los a refletir sobre sua compreensão e suas ideias.
> Convide pessoas de outras religiões para um café inter-religioso ou realize discussões nas quais os participantes possam falar com elas e aprender.
> Use filmes que falem sobre o direito de expressar crenças religiosas. Discuta com os participantes suas ideias e reflexões depois do filme.
> Como parte da atividade de autoavaliação, peça aos participantes que se encontrem com alguém que tem crenças religiosas diferentes e se informem sobre essas crenças.
> Use imagens de outros costumes religiosos e explore sua função e seu significado.
> Forme um grupo de facilitadores que tenham diferentes procedências religiosas.
> Explore as diferenças e semelhanças no grupo religioso representado: há mais de uma denominação ou origem étnica? Discuta como essas divergências caracterizam a identidade religiosa dos participantes.
Quero abordar questões sociais em vez de questões religiosas.
Estou interessado em utilizar Apostila de Ética, mas não quero falar sobre questões religiosas; gostaria de discutir problemas sociais que são de maior importância para minha região.
Aprender a Viver Juntos foi concebido para envolver os jovens na transformação das injustiças e dos conflitos violentos, com especial ênfase nos conflitos ocasionados por diferenças religiosas. Esse enfoque tem como objetivo compreender a diversidade a partir de muitas perspectivas, embora a ênfase esteja basicamente nas diferenças religiosas.
Isto não deve impedir a utilização do material como modelo para abordar outros tipos de conflitos e diferenças. De fato, é possível utilizar Aprender a Viver Juntos para abordar qualquer questão vinculada à falta de respeito e de compreensão entre as pessoas. Não obstante, recomendamos o emprego deste material com grupos inter-religiosos mesmo quando o tema principal não for o entendimento entre as religiões, porque isso ajudará a estabelecer vínculos entre os participantes e a promover a cooperação inter-religiosa.
A seguir, algumas recomendações úteis:
> Selecione o tema social que deseja abordar (por exemplo, a violência entre grupos juvenis, questões relacionadas a deslocamento, migração, conflitos sobre recursos ou discriminação baseada no gênero). > Utilize o primeiro módulo, Compreensão de si mesmo e dos outros, para enfatizar a diversidade cultural ou as diferentes maneiras de pensar; os preconceitos e estereótipos de grupos culturais e sociais; e a importância de valorizar os outros, sejam eles quem forem.
> Adapte o segundo módulo, Transformar o mundo juntos, ao tema escolhido, e enfatize como essa questão afeta as relações entre as pessoas e sua responsabilidade pela ação tanto individual quanto coletiva. Deixe que os participantes descubram que podem fazer parte da solução e não do problema. Para ver como Aprender a Viver Juntos foi utilizado para abordar o deslocamento e situações violentas, consulte “Oficina no Equador” na página 210, “Oficina em El Salvador” na página 213 e “Oficina no Panamá” na página 216.
Há tensões no grupo devido às diferenças religiosas.
Quero utilizar Apostila com um grupo religiosamente diversificado; entretanto, alguns dos grupos têm um passado muito violento e houve enfrentamentos entre os participantes.
Aprender a Viver Juntos ajuda a aumentar a conscientização sobre a necessidade de compreensão mútua e de tolerância com as diferenças. Seu objetivo é construir pontes baseadas na confiança e desenvolver as atitudes de reconciliação dos participantes. Portanto, Aprender a Viver Juntos pode servir para abordar o tipo de problema descrito.
A seguir, algumas recomendações úteis:
> Gaste mais tempo no primeiro módulo, Compreensão de si mesmo e dos outros, a fim de estabelecer um ambiente seguro para a interação entre os participantes.
> Dê ênfase à importância de nossa natureza humana comum e à riqueza da diversidade. Isso lhe permitirá criar um sentimento de vinculação entre os participantes.
> Questione os estereótipos e os preconceitos dos participantes usando metodologias baseadas na vivência que lhes permitam experimentar a forma como outros vivem e pensam.
> Estabeleça espaços para o diálogo e para a troca de experiências. Enfatize a importância da receptividade a outros pontos de vista.
> Use atividades em que os participantes tenham que se colocar na posição do outro e permita que reflitam sobre seus próprios sentimentos e os dos outros.
> Levante com os participantes um mapa do conflito entre os grupos religiosos, escutando todos os pontos de vista e explorando os padrões e a história do conflito, as pessoas envolvidas, as relações que foram afetadas e o futuro do conflito. Deixe-os refletir sobre o conflito e sobre como ele é baseado em nossa incapacidade de relacionamento e em nossa falta de compreensão e de respeito pelos outros. Se perceber que os participantes desconhecem grande parte da história e das causas do conflito, use esse fator para questionar os preconceitos que mantêm apesar disso.
> Use estudos de casos concretos, artigos, filmes e músicas sobre a transformação dos conflitos em outras regiões e inicie uma discussão na qual se estabeleçam paralelismos com o próprio contexto dos participantes.
> Apresente casos de pessoas que estejam trabalhando em prol do entendimento entre diferentes grupos religiosos e deixe que os participantes discutam e reflitam sobre esse trabalho.
> Permita que os participantes reflitam sobre seus próprios conflitos pessoais com aqueles que pertencem a um grupo religioso diferente e reserve algum tempo para as atividades do quiosque A paz começa comigo, que faz parte do módulo Transformar o mundo juntos.
> Organize um grupo de facilitadores que representem a diversidade religiosa do grupo, a fim de estabelecer uma atmosfera equilibrada e neutralizar qualquer comportamento tendencioso nas discussões e nas atividades de facilitação.
Se quiser obter algumas ideias sobre como utilizar Aprender a Viver Juntos em contextos de violência e conflito religioso, leia o relato sobre a Oficina em Israel, Massa – Massar (A jornada – O caminho) em http://www.arigatou.ch/mm/file/massa-massar-report.pdf
Os participantes foram expostos a situações violentas.
Meu grupo de participantes enfrenta todos os dias situações violentas e faz parte de grupos minoritários excluídos da sociedade. Aprender a Viver Juntos pode ser utilizado com grupos de diferentes procedências sociais, econômicas e culturais. As crianças e os adolescentes que foram, ou ainda são, afetados pela violência precisam de oportunidades de reforçar sua autoestima e deve ser empoderados com ferramentas que lhes permitam sobreviver melhor à situação e contribuir positivamente para um desfecho pacífico.
A seguir, algumas recomendações úteis:
> Dê ênfase ao quiosque Reconhecer-se em relação aos outros, que pertence ao módulo Compreensão de si mesmo e dos outros.
> Crie oportunidades para que os participantes reforcem sua autoconfiança e sua autoestima por meio de atividades que os estimulem a empregar a criatividade e a participar e interagir sem serem julgados. Certifique-se de que os grupos minoritários são ouvidos e também sentem que sua opinião é relevante.
> Prepare atividades que ajudem os participantes a visualizar as causas das injustiças em suas sociedades e a necessidade de empoderação a fim de que possam contribuir para uma solução pacífica da situação. Recorra a atividades que fortaleçam o pensamento crítico e as habilidades de solução de problemas.
> Ajude os participantes a descobrir alternativas não violentas para lidar com conflitos e injustiças sociais e dote-os dos meios e das ferramentas necessárias para responder pacificamente à sua própria situação. Você pode usar filmes que mostrem a luta pela justiça empreendida por diferentes líderes religiosos e sociais ou convidar organizações e pessoas que trabalhem com movimentos de resistência não violenta. [8]
> Ajude os participantes a refletirem sobre seus conflitos pessoais ou as situações violentas que sofreram e reserve tempo adicional, se necessário, para as atividades do quiosque Caminho da reconciliação no módulo Transformar o mundo juntos.
Para obter mais ideias sobre como utilizar Aprender a Viver Juntos nesse tipo de ambiente, consulte “Oficina na Tanzânia” na página 207 e “Oficina em El Salvador” na página 213.
Os temas da oficina provocam dificuldades emocionais entre os participantes.
Os temas, as sessões ou as atividades da oficina fazem com que os participantes se mostrem muito sensíveis em relação a seus próprios sentimentos, impedindo sua participação plena.
Aprender a Viver Juntos foi concebido para influenciar em questões muito pessoais: a identidade, os valores e a cultura. Portanto, o programa levará os participantes a refletirem sobre seus preconceitos, suas predisposições e suas experiências – olhando diretamente para sua alma e suas emoções. Espera-se que esse processo estimule a interiorização de atitudes positivas.
A seguir, algumas recomendações úteis:
> Proporcione um espaço para que os participantes expressem seus sentimentos, caso queiram ou precisem compartilhá-los com os outros.
> Fale em particular com os participantes que estejam enfrentando problemas emocionais e deixe claro que é natural que isso aconteça. Pergunte o que está lhes causando desconforto e por que se sentem tão afetados.
> Caso um participante descreva alguma situação grave que acarrete risco à sua vida, converse com ele após a oficina ou atividade e ajude-o a encontrar ajuda ou uma solução para o problema.
> Se o participante manifestar dificuldades emocionais durante uma sessão, demonstre empatia.
Pergunte o que está acontecendo, permita que o participante expresse seus sentimentos e peça aos demais que escutem e tentem compreender as emoções dessa pessoa.
> Ajude os participantes a se acalmarem por meio de exercícios de respiração profunda, cânticos, canções ou simplesmente deixando que se deitem e relaxem.
> Prepare algumas atividades que lhes permitam expressar-se criativamente, como desenhar ou pintar.
> Se os participantes lhe contarem algo confidencialmente, é importante que essa confidencialidade seja respeitada.
8. Para obter mais informação sobre recursos, jogos e meios relacionados a conflitos não violentos, veja A Force More Powerful (Uma Força Mais Poderosa) em http://www.aforcemorepowerful.org/