Orientação e auxílio para se evitar a desnutrição infantil. Esclarecimento dos direitos da gestante e da criança. Essas são as atribuições da Pastoral da Criança. Em Suzano, esse trabalho existe há 23 anos e atua em sete paróquias do município. A mais nova a contar com a iniciativa é a Paróquia de São Sebastião, no Centro (local em que a ação foi implementada no início do ano passado). E nesse primeiro dia de 2011, um exemplo de quem defende a vida. Ela é a coordenadora de área da Pastoral, Odete da Silva, é a responsável por administrar as ações realizadas pela entidade no município.
Há dez anos na função, ela conta em entrevista ao DS como ocorre a atuação da Pastoral na cidade e ainda apresenta números de beneficiados com o trabalho voluntário.
DIÁRIO DE SUZANO: Qual é o papel desenvolvido pela Pastoral da Criança em Suzano?
ODETE DA SILVA: Dar orientação e atuar junto às pessoas que moram nas periferias. Nós esclarecemos os direitos e deveres das gestantes e crianças. Orientamos essas mães desde a gestação sobre os cuidados com a alimentação, vacina, direito de creche e bom atendimento nos postos de saúde.
DS: Como ocorre a escolha das líderes que atuam nas comunidades?
ODETE: A escolha ocorre nas próprias comunidades com a Pastoral anunciando que precisa de voluntários e saber se há gente interessada em participar. Quem tem interesse recebe capacitação para atuar junto à comunidade. O tempo que puder oferecer esse trabalho voluntário ela poderá ajudar.
DS: Atualmente, qual é o número de famílias atendidas pela Pastoral da Criança no município?
ODETE: Temos mais de 900 famílias cadastradas e cerca de mil crianças, além de 700 gestantes que prestamos apoio. Trabalhamos nas sete paróquias de Suzano.
DS: Existem parcerias firmadas pela Pastoral com entidades ou empresas de Suzano para auxiliar no trabalho de vocês nas comunidades mais carentes da cidade?
ODETE: Não recebemos apoio de ninguém. Só recebemos orientações da Pastoral Nacional. Até tentamos buscar parceria com o Fundo de Solidariedade, mas não deu certo. Os alimentos encaminhados chegavam com o prazo de validade vencido para doação porque não vinham no período certo para doarmos. Não adiantava porque a entrega não era no “Dia da Celebração da Vida”, que é a visita mensal que nós fazemos, quando as crianças são pesadas para ver se houve desenvolvimento, se receberam as vacinas, saber se estão desnutridas, se estão qual é o motivo e diante disso a líder da Pastoral naquela comunidade presta as orientações. Tudo isso é celebrado depois quando conseguimos recuperar essa criança. Daí fazemos o acompanhamento dela até os seis anos. O que temos de parceria desde fevereiro é uma equipe que atua na Santa Casa de Suzano orientando famílias de crianças recém-nascidas que estão abaixo do peso. Temos retorno nas visitas e acompanhamos até os seis anos ou até a criança se recuperar. Muitas alegam que já recebem apoio nas UBSs e descartam o apoio da Pastoral. Talvez, por isso, muitas crianças ainda nasçam com problemas de nutrição. Frente a isso, também promovemos quatro vezes por ano um Mutirão em Busca das Gestantes para procurar gestantes nas comunidades e prestar esclarecimentos sobre o trabalho de apoio oferecido pela Pastoral.
DS: Vocês, então, também doam alimentos às famílias carentes?
ODETE: Não somos assistencialistas. Quando precisamos nos mobilizar para doarmos a alguma família nós recorremos ao Cáritas ou pedimos nas paróquias. Quanto a isso é dessa forma que trabalhamos.
DS: O trabalho da Pastoral é reconhecido pela distribuição da multimistura. Como esse componente auxilia na recuperação das crianças desnutridas?
ODETE: Essa mistura é muito boa e até mesmo muitos pediatras encaminham crianças desnutridas à Pastoral para receber essa multimistura. Usamos fubá torrado, folha de mandioca e farelo de trigo. É um alimento muito rico em nutrientes.
DS: Qual é o quadro atual de desnutrição que a Pastoral encontra pela cidade? É algo preocupante?
ODETE: Não conseguimos atender todas as crianças que precisam. Ainda não chegamos a bairros como o Monte Cristo, mas sabemos que é um local muito carente. Dependemos do padre ver quem quer liderar a Pastoral no bairro, se existe entrosamento de uma comunidade com a outra. A procura de voluntários interessados em ajudar ainda é pequena. Muitas vezes fazem a capacitação, mas depois arrumam serviço e acabam largando. Isso prejudica bastante o andamento do trabalho.
DS: Há quanto tempo você trabalha na Pastoral da Criança?
ODETE: Atuo desde 2000.
DS: O que motivou você a entrar na Pastoral?
ODETE: Era catequista e depois vim para Pastoral. É uma missão atender famílias que precisam e seguir o evangelho que diz “eu vim para servir e não para ser servido”. A Pastoral da Criança é uma das ações que fazem os cristãos ajudarem os excluídos.
DS: De que maneira você aplica sua experiência como mãe para se aproximar dessas gestantes que necessitam de auxílio?
ODETE: A gente aprende muito. Quando tinha minhas crianças pequenas não sabia de muita coisa. Contamos com a capacitação para orientar as mães e as crianças. Tentamos passar para essas mães tudo o que é certo. O que passamos em uma paróquia serve para todas as demais. A Pastoral da Criança lida com a evangelização. Não cuidamos só do corpo, mas da alma também.
DS: Como as mães recepcionam o trabalho oferecido por vocês?
ODETE: As famílias recebem muito bem a nossa ajuda. Às vezes, encontramos dificuldades em que a família é drogada e tem que pedir licença para entrar em determinado lugar e, por isso, rejeitam o apoio. Mas, em 99% das oportunidades esse apoio é bem aceito.
DS: Recorda-se de alguma história marcante nesse trabalho com crianças carentes?
ODETE: Eu não trabalho diretamente com as famílias porque fico na coordenação. Mas, escuto casos de crianças subnutridas salvas pelo trabalho da Pastoral. Também tem aqueles episódios em que as gestantes não aceitam a gravidez, mas depois veem a situação de forma diferente e aceitam a maternidade. Conseguimos resgatar a maternidade para essas gestantes.
DS: Nas paróquias que a Pastoral atua, quais são as áreas que apresentam situação mais crítica?
ODETE: Jardim Maitê é um bairro muito carente, Colorado também e ainda temos o Parque Maria Helena. No [Jardim] São José também encontramos problemas e muita gente pedindo ajuda. Vários bairros devem ser trabalhados até porque faltam líderes.
DS: O que significa a Pastoral da Criança em sua vida?
ODETE: É um meio de poder me realizar servindo ao próximo. Ajudar os necessitados. A Pastoral também não distingue religião e atende a todos. E a necessidade, às vezes, é da palavra de Deus e não só de alimentos para confortarmos uma gestante.
Fonte: Portal 180 Graus Online – 01/01/2011