Acessórios macios são perigo para bebês, pois podem prejudicar respiração durante o sono. Recomendação é fazê-los dormir com a barriga para cima

 


A principal causa de morte em acidentes de crianças com até 1 ano de idade no Brasil é a sufocação, de acordo com dados do Datasus/Ministério da Saúde, referentes ao ano de 2007 e informados pela ONG Criança Segura. Um dos maiores fatores de risco nesses casos é a utilização incorreta de acessórios nos berços. Nos Estados Unidos, a Comissão de Se­gurança de Produtos de Consumo (CPSC) e a Agência Americana de Controle de Ali­­mentos e Medicamentos (FDA) recomendaram a suspensão do uso de posicionadores para bebês após o registro de 12 mortes no país, nos últimos 13 anos. As vítimas foram crianças que dormiam com o equipamento.


Os especialistas orientam que apenas um cobertor deve estar no berço enquanto a criança dorme. Em hipótese alguma é indicada a utilização de bichos de pelúcia, posicionadores ou almofadas laterais. Nem mesmo o travesseiro é recomendado. “Qualquer objeto macio oferece risco de sufocação”, alerta a coordenadora de mobilização da Criança Segura, Jaqueline Soares Magalhães. Durante o sono, a criança – que deve dormir com a barriga para cima – pode se virar, fazendo com que os acessórios macios obstruam as vias aéreas e causem a consequente a sufocação. O risco é grave porque, com pouca idade, os bebês ainda não possuem mecanismos de defesa e não conseguem se desvirar ou retirar objetos do rosto.


Durante os primeiros meses de vida, a criança precisa dormir em colchões elevados, com inclinação de 35° ou 40°. Esse mecanismo evita a sufocação com o refluxo, uma vez que os bebês conseguem expelir o líquido, impedindo que a secreção chegue aos pulmões. A inclinação indicada evita que eles escorreguem para debaixo dos cobertores e sufoquem. À medida que as crianças amadurecem, os riscos diminuem e cabe aos pais observarem o desenvolvimento dos pequenos em relação aos cuidados que devem ser tomados.


O coordenador da Pastoral da Criança Internacional, Nelson Arns Neumann, ressalta que os cuidados durante o sono reduzem em 70% os riscos de morte súbita de crianças. Mesmo importantes, ele considera que o assunto ainda não é abordado com a devida urgência. “As organizações norte-americanas ficaram em alerta com 12 mortes nos últimos 13 anos enquanto no Brasil é muito diferente. Nem todos os pais utilizam a posição correta para os bebês dormirem. Qualquer risco deve ser alertado à comunidade”, analisa.


Desde o nascimento de Julia, há oito meses, a publicitária Cláudia Maria Ticianeli Battis­tella, de 29 anos, segue rigorosamente os cuidados estabelecidos pela pediatra. Muitas precauções são facilitadas pela personalidade de sua filha que já demonstra algumas vontades. “Ela não gosta de cobrir os braços, sempre dorme com eles para fora”, conta a mãe. Cláudia afirma que já percebe diversos sinais de maturidade em Julia e a estimula para se defender de situações de risco. Ela, que mantém o colchão inclinado e o berço livre de almofadas, considera a informação um elemento fundamental para evitar que problemas graves aconteçam. “É mais do que um dever, pois mãe não deve apenas dar amor, ela precisa ser 100% cuidadosa, não deixando seu filho em perigo”, afirma.
Mobilização


Para alertar os pais sobre a necessidade dos cuidados com os pequenos, a ONG Criança Segura lançou uma campanha em que o foco é a sufocação e o engasgamento. No site da organização os pais encontram informações interativas sobre como deixar as casas preparadas e livres de perigos.


Segurança nos detalhes
Assim como o uso de bichos de pelúcias, travesseiros ou almofadas, outras situações consideradas inofensivas pelos pais podem representar risco às crianças. Ainda na hora do sono, os médicos não recomendam que os filhos durmam com os pais. “É proibido”, alerta a pediatra e neonatologista Rosângela Garbers. Além de prejudicar o sono dos pais, existe a possibilidade de a criança ser sufocada com os cobertores, ter problemas com o aquecimento em excesso e ser esmagada pelos pais.


Seguindo pela casa, a recomendação é ter cuidados com cortinas ou persianas compostas por cordas longas, que podem acarretar em estrangulamento; e com objetos pequenos como moedas, colares de contas ou botões, que apresentam facilidade de serem engolidos. As crianças também podem engasgar com pedaços grandes de comida ou se queimarem com as refeições dos pais. Por isso, não é correto comer com os pequenos no colo.


Os andadores também compõem a lista de produtos perigosos. Além de ser desnecessário para que as crianças aprendam a andar, o objeto é um dos maiores responsáveis por acidentes entre crianças de cinco a 15 meses de idade. O uso de andadores causa quedas graves em escadas ou tropeços. Já os baldes são responsáveis por diversos casos de afogamento. Quando as crianças caem com a cabeça na água, não conseguem voltar à posição devido ao peso da cabeça em relação ao restante do corpo.


A chegada do Dia das Crianças exige atenção especial para a compra de brinquedos. Os produtos devem ser adequados à idade da criança e aprovadas pelo Inmetro. Entre os brinquedos, as bexigas são muito perigosas. Os pedaços de borracha formados depois que o objeto estoura fazem com que as crianças se engasguem se colocados na boca.


Sono seguro
Pequenos detalhes garantem a segurança dos pequenos enquanto dormem:


> Acomode no berço apenas o bebê e o cobertor.
> Não deixe bichos de pelúcias, travesseiros ou objetos fofos junto com a criança durante o sono.
> A criança deve dormir de barriga para cima e posicionada no centro.
> Utilize colchões firmes, sem embalagem plástica.
> O lençol ou a manta devem ficar presos embaixo do colchão.
> Cubra o bebê até a altura do peito, com os braços sobre o cobertor. Para evitar o frio, utilize blusas e uma luva.
> Não agasalhe a criança em excesso. O ideal é vesti-la com uma peça de roupa a mais que os adultos estiverem usando em temperatura ambiente.


Fonte: ONG Criança Segura, Pastoral da Criança e Hospital Pequeno Príncipe
Gazeta do Povo (Curitiba/PR) – Vida e Cidadania – 11/10/2010 – Pág. 6