Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande e da Universidade Católica de Pelotas resolveram medir o conhecimento materno em sobrevivência infantil entre mães de menores de 5 anos de idade residentes em nove municípios das regiões Norte e Nordeste. A pesquisa apontou que o desempenho de mães visitadas pela Pastoral da Criança é melhor do que o daquelas sem esse tipo de auxílio.
Doenças como pneumonia e diarréia, apesar de tratáveis, ainda constituem as principais causas de mortalidade em crianças menores de um ano no Brasil. Na maior parte dos casos, as mortes ocorrem devido à ausência ou procura tardia por cuidados médicos, atitudes decorrentes da falta de informações sobre as enfermidades. Com base nesse cenário, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande e da Universidade Católica de Pelotas resolveram medir o conhecimento materno em sobrevivência infantil entre mães de menores de 5 anos de idade residentes em nove municípios das regiões Norte e Nordeste. A pesquisa apontou que o desempenho de mães visitadas pela Pastoral da Criança é melhor do que o daquelas sem esse tipo de auxílio.
A Pastoral da Criança é um organismo de ação social com cerca de 160 mil voluntários que visitam, mensalmente, mais de 2 milhões crianças menores de seis anos e aproximadamente 100 mil grávidas em mais de 4 mil municípios brasileiros, a fim de instruir e encorajar mães a amamentar, manter uma dieta própria para a gestação, a fazer consultas de pré-natal, imunizações em seus bebês ou detectar doenças mais sérias. Para o estudo, foram consultadas 368 mães visitadas pela Pastoral da Criança e 366 não visitadas.
“Mães visitadas pelos líderes da Pastoral da Criança, apesar de mais pobres, apresentaram melhor conhecimento sobre monitoração do crescimento infantil, identificação de pneumonia e dificuldades no desenvolvimento em relação às mães das áreas-controle”, afirmam os pesquisadores em artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. “Apesar do melhor desempenho, o conhecimento materno em sobrevivência infantil para todas elas ficou aquém do desejado. Isso dificulta a identificação dos casos de maior gravidade, retarda a busca de cuidados médicos e reduz o impacto sobre a morbimortalidade infantil”.
Segundo os pesquisadores, praticamente todas as entrevistadas estavam familiarizadas com a carteirinha de vacinação, mas poucas mostraram entendimento sobre seu uso. “A avaliação do conhecimento das mães sobre imunização sugeriu que o mais importante para elas é que a criança receba a vacina, não importando contra que doença ela protege”, explicam os estudiosos. “Não mais do que 20% das mães puderam especificar contra que doenças a criança deve ser vacinada até os seis anos de idade, embora nesta idade cerca de 60% dos bebês já haviam recebido no mínimo três doses de da vacina Sabin ou uma dose de BCG”.
Quanto ao reconhecimento de doenças, a identificação de pneumonia devido à dificuldade respiratória foi deficiente em ambos os grupos, assim como o entendimento da preparação de soro caseiro adequado a desidratação ou cuidados básicos de pré-natal. “Para a maioria das mães, uma criança que não é capaz de se manter em pé sozinha até os 18 meses de idade deve ser levada ao médico”, comentam os pesquisadores. “No entanto, somente um terço afirmou que uma criança não fala pelo menos uma palavra até a mesma idade deve ser examinada por um profissional de saúde”. Nesse último quesito, as mães visitadas pela Pastoral da Criança apresentaram alguma vantagem de conhecimento. No que se refere à amamentação, dois terços das mães de ambos os grupos de análise disseram que os bebês devem obter amamentação exclusiva até os seis meses de idade, mas uma grande parte delas falhou na prática, introduzindo outros alimentos antes do tempo indicado.
Renata Moehlecke
Agência Fiocruz